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Capitalismo informacional: o que é, conceitos e como ele impacta o seu dia-a-dia

Entenda um pouco sobre capitalismo informacional e como as bigtechs detém o produto mais valioso do momento: a informação

Escrito em História el
Historiadora e professora, formada pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Escreve sobre história, história politica e cultura.
Capitalismo informacional: o que é, conceitos e como ele impacta o seu dia-a-dia

O capitalismo passou por diversas fases desde seu surgimento no século XV, com o chamado capitalismo comercial ou mercantil, até o atual capitalismo informacional, passando pelo capitalismo industrial e pelo capitalismo financeiro ou de monopólios. O capitalismo informacional é considerado a quarta fase desse processo histórico de transformação econômica e tecnológica.

Não há consenso entre os estudiosos sobre quando exatamente se iniciou essa nova fase. Alguns apontam para o período pós-crise de 1929, quando o papel do Estado na economia se intensificou e novas tecnologias de comunicação começaram a emergir. Outros situam o início no pós-Segunda Guerra Mundial, com a reconstrução dos países e o avanço técnico-científico da Guerra Fria. No entanto, muitos pesquisadores identificam a transição mais clara a partir dos anos 1970 e 1980, com a revolução digital, o surgimento dos computadores pessoais e a intensificação do processo de globalização econômica e financeira.

O que é o capitalismo informacional

No capitalismo informacional, a informação e o conhecimento se tornaram os principais insumos e produtos econômicos. Em muitos casos, a informação vale mais do que a própria matéria-prima. A economia se organiza em torno da tecnologia da informação, da comunicação em tempo real e da gestão de dados, elementos essenciais para empresas, governos e consumidores.

A chamada "democratização" da informação, embora limitada por barreiras sociais e econômicas, fez com que o acesso à internet, às redes digitais e às plataformas tecnológicas se tornasse uma necessidade básica para inserção produtiva no mundo globalizado. Isso também impulsionou o surgimento de novas formas de trabalho, como o home office, o trabalho sob demanda (gig economy), e o crescimento de empresas baseadas em dados, como Google, Amazon, Facebook e outras gigantes do setor de tecnologia.

Margaret Thatcher, figura central do neoliberalismo, em 1984
(foto: domínio público)

O capitalismo informacional também está profundamente ligado ao neoliberalismo, ideologia predominante desde os anos 1980, que prega a desregulamentação do mercado, a privatização de serviços públicos e a flexibilização das leis trabalhistas. Com isso, embora a informação esteja mais acessível, ela também se tornou mais controlada, monetizada e concentrada nas mãos de grandes corporações.

 

Características do capitalismo informacional

 

1. Terceira Revolução Industrial (Revolução Técnico-Científica)
Ocorreu a partir das décadas de 1950 e 1970, marcada pelo surgimento da informática, robótica, telecomunicações, biotecnologia e microeletrônica. Essa revolução transformou profundamente os meios de produção e deu base tecnológica ao capitalismo informacional.

2. Desenvolvimento acelerado do capitalismo financeiro
A partir dos anos 1980, houve forte desregulamentação dos mercados financeiros. A circulação de capitais se tornou global e instantânea graças às redes digitais, intensificando a especulação e aumentando a instabilidade econômica.

3. Especialização e qualificação da mão de obra
Com o avanço tecnológico, o trabalho manual e repetitivo perdeu espaço. Em seu lugar, surgiu uma demanda por profissionais altamente qualificados, com formação técnica, científica e digital.

4. Otimização dos processos produtivos
Empresas passaram a adotar tecnologias digitais, inteligência artificial, sistemas integrados e automação para aumentar a eficiência, reduzir custos e eliminar desperdícios nos processos industriais e logísticos.

5. Aumento da produtividade econômica
Com tecnologias mais avançadas e trabalhadores mais especializados, a produção de bens e serviços se tornou mais rápida e eficiente, aumentando o lucro sem necessariamente aumentar a força de trabalho ou os recursos naturais utilizados.

6. Mercantilização da informação
A informação passou a ser um dos principais produtos econômicos. Dados sobre usuários, algoritmos e conhecimento técnico são comprados, vendidos e explorados por empresas, sendo um dos maiores ativos da atualidade.

7. Tecnologias da informação
Incluem redes digitais, big data, computação em nuvem, inteligência artificial, dispositivos móveis, entre outras. Essas tecnologias formam a base do funcionamento das empresas e da sociedade na era informacional.

8. Sociedade da informação
Vivemos em um contexto onde quase todas as esferas da vida social — trabalho, educação, comunicação, lazer e política — estão integradas e mediadas pelas tecnologias digitais e pela troca constante de dados.

9. Inovações e revolução tecnológica contínua
A inovação tecnológica é constante e acelerada. Startups e empresas disruptivas criam novos modelos de negócios com rapidez, mudando continuamente o mercado e tornando produtos e serviços rapidamente obsoletos.

10. Desenvolvimento de softwares e aplicativos
Softwares e aplicativos digitais se tornaram ferramentas centrais para comunicação, mobilidade, entretenimento, compras, finanças, saúde e trabalho. Eles operam como plataformas que intermediam grande parte da economia.

11. Valorização da criatividade e da mão-de-obra jovem
Profissionais jovens e criativos são valorizados por sua adaptabilidade às mudanças tecnológicas e por sua capacidade de inovar, especialmente em áreas como design, TI, mídias digitais e marketing.

12. Acúmulo de riqueza por meio do conhecimento
Empresas baseadas em conhecimento e dados — como Google, Meta, Amazon e Apple — passaram a liderar os rankings de maiores corporações do mundo. O saber técnico e a inovação geram mais lucro do que a produção de bens físicos.

13. Predominância do sistema neoliberal
O capitalismo informacional se desenvolve sob o ideário neoliberal, que defende a redução do papel do Estado, a privatização de serviços públicos e a flexibilização das leis trabalhistas. Isso favorece a concentração de renda e o poder das grandes corporações.

14. Avanço da globalização e do imperialismo digital
Empresas multinacionais de tecnologia impõem padrões culturais, econômicos e tecnológicos em escala global, o que gera uma nova forma de dominação — o imperialismo digital — concentrado em países do Norte Global.

15. Aumento das transações comerciais via internet
Comércio eletrônico, serviços financeiros digitais, bancos online, plataformas de pagamento e criptomoedas transformaram as formas de consumo e transações econômicas, tornando-as mais rápidas, globais e automatizadas.

A informação e a manipulação

Donald Trump com presidente da Argentina Milei
(foto: domínio público)

A informação, no capitalismo informacional, não é apenas uma mercadoria altamente valiosa — ela também funciona como um instrumento de poder ideológico. Em tempos recentes, líderes políticos utilizaram a manipulação da informação como ferramenta estratégica para fins econômicos e geopolíticos. Um exemplo emblemático foi a fracassada guerra comercial promovida pelo então presidente Donald Trump, marcada por tarifas instáveis e declarações imprevisíveis. Após recuar de muitas das medidas que havia anunciado, surgiram rumores de que parte dessas decisões teria sido orquestrada como manobra especulativa, permitindo que empresários próximos ao governo lucrassem com as flutuações do mercado. Nesse contexto, a informação não apenas gera lucro — ela pode ser usada para moldar cenários econômicos inteiros.

Esse caso ilustra como, no capitalismo atual, o controle e a manipulação da informação se tornam centrais para o funcionamento do sistema. As redes sociais são um exemplo claro dessa dinâmica: plataformas como Facebook, Instagram, TikTok e outras lucram bilhões com a coleta e comercialização de dados pessoais. Os algoritmos dessas redes, ao organizarem o que vemos, lemos e consumimos, reforçam bolhas ideológicas, aceleram o consumo e alimentam um ciclo contínuo de vigilância e dependência. Trata-se de um modelo de capitalismo de vigilância, como define a pesquisadora Shoshana Zuboff.

Apesar do discurso de acesso “democrático” à informação, esse acesso é profundamente desigual. Sem uma educação digital crítica e acessível, o uso da internet pode reproduzir e até ampliar desigualdades sociais. Fake news se espalham com mais rapidez do que informações verificadas, e os golpes digitais crescem em ritmo alarmante. O ambiente virtual, ao invés de se firmar como espaço de emancipação, muitas vezes opera como um terreno fértil para práticas predatórias — sejam elas comerciais, ideológicas ou políticas.

Em 2025, a informação é tão valiosa quanto o território e as matérias-primas foram nos impérios coloniais do início do século XX. Hoje, as potências disputam dados, acesso à tecnologia, controle sobre redes e infraestrutura digital com a mesma intensidade com que, um século atrás, disputavam minas, plantações e portos. O imperialismo contemporâneo é invisível, algorítmico, e se alimenta de cliques, curtidas e compartilhamentos.

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