Filho de Alfredo Coelho Barreto, professor de matemática e positivista, e da dona de casa Florência dos Santos Barreto, o jornalista João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto foi um dos pioneiros da crônica-reportagem no Brasil, o que lhe garantiu uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL) em 1910.
Vivendo das palavras, mestiço de pele clara e compreendido como homossexual, João assumiu o nome da cidade onde viveu para tornar-se João do Rio e expôs como ninguém o projeto burguês da então capital da República, que queria a "branquização" do Brasil após o fim da escravização do povo negro.
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Como relatou o historiador Luiz Antônio Simas, na palestra de abertura da Feira Literária de Paraty (Flip) de 2024 - assista abaixo -, João do Rio foi capaz de atravessar a rua que separava a burguesia branca rumo aos morros habitados pelos negros, onde pulsava a arte que tem origem na África.
Entre 22 de fevereiro e abril de 1904, o jornalista publicou uma série de reportagens que resultou em seu primeiro livro, "As Religiões no Rio", um retrato antropológico e sociológico dos cultos em terreiros que eram escondidos - e temidos - pela burguesia branca.
Em uma das suas obras mais emblemáticas, "A Alma Encantadora das Ruas", João do Rio mergulhou na cultura marginalizada retratando tatuadores, velhos cocheiros e músicos ambulantes, que criavam os primeiros acordes do samba, que viria a se tornar símbolo maior da cultura do Brasil. Mas que, à época era perseguido em nome dos "bons costumes" que queria se implantar com o projeto da Belle Époque no Rio de Janeiro.
Vítima de um enfarte fulminante dentro de um táxi em 23 de julho de 1921, João do Rio foi adorado por prostitutas, marginalizados, músicos e todo povo da rua em um cortejo fúnebre que reuniu cerca de 100 mil pessoas pelas ruas da capital.
Os restos de João do Rio encontram-se sepultados em uma magnífica tumba de mármore italiano e bronze, erguida por ordem de sua mãe, no Cemitério de São João Batista, no bairro de Botafogo. Também por ordem de sua mãe, a biblioteca de João do Rio foi doada ao Real Gabinete Português de Leitura, onde ainda hoje pode ser vista uma placa comemorativa do ato. O túmulo de João do Rio é considerado um dos mais belos trabalhos de arte funerária no Rio de Janeiro e atrai muitos visitantes.
Veja a palestra de Luiz Antônio Simas sobre João do Rio na Flip.