O grupo do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que tem o Brasil como presidente até dezembro deste ano, classifica as ofensivas militares contra o Irã como uma violação do direito internacional e da Carta das Nações Unidas, alertando que a escalada do conflito no Oriente Médio ameaça a paz, a segurança global e a economia mundial. Os países do bloco emitiram uma declaração conjunta sobre os ataques iniciados em 13 de junho de 2025, nesta terça-feira (24).
“O respeito às salvaguardas nucleares e à segurança ambiental deve prevalecer mesmo em situações de conflito armado”, afirma o texto. "Expressamos profunda preocupação em relação a quaisquer ataques contra instalações nucleares de natureza pacífica realizados em violação ao direito internacional e às resoluções pertinentes da Agência Internacional de Energia Atômica", continua. "Vidas civis devem ser protegidas e a infraestrutura civil deve ser salvaguardada, em total conformidade com o Direito Internacional Humanitário. Estendemos nossas sinceras condolências às famílias das vítimas e expressamos nossa solidariedade com os civis afetados", completa.
Um dos pontos centrais da declaração do Brics é a condenação explícita a qualquer ataque contra instalações nucleares de uso pacífico, o que, segundo o grupo, representa grave violação ao direito internacional e às resoluções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Os países do grupo ainda reafirmam o compromisso com o estabelecimento de uma zona livre de armas nucleares e de destruição em massa no Oriente Médio, medida considerada essencial para garantir estabilidade e segurança duradouras na região.
A declaração também expressa preocupação com as vidas civis envolvidas ou afetadas no conflito, assim como a infraestrutura, e a manutenção da diplomacia enquanto resolução de conflitos.
A posição do bloco reforça o apelo do Sul Global por um cessar imediato das hostilidades e pela retomada de mecanismos diplomáticos de resolução de conflitos, com foco na desescalada e na prevenção de uma crise internacional de maiores proporções.
O Brics e a diplomacia
O posicionamento do Brics sobre o Irã sinaliza uma mudança importante na diplomacia global. O bloco, que representa mais de 40% da população mundial e cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB) global, vem ampliando sua capacidade de pressão política em questões estratégicas.
Assim, com os Estados Unidos e seus aliados cada vez mais isolados em decisões militares unilaterais, o Brics busca se firmar como contraponto — e a crise no Oriente Médio pode se tornar um divisor de águas nesse sentido, daí a disputa pela mediação.
A relação do Sul Global com o Brics
O grupo Brics representa uma das principais coalizões de países do Sul Global que buscam alternativas à hegemonia ocidental. Apesar de China e Rússia serem potências militares e econômicas, ambas enfrentam exclusão ou antagonismo em estruturas como o G7 e a OTAN — o que reforça sua adesão à lógica do Sul Global.
Desde 2024, o Brics passou a contar com novos membros plenos: Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Indonésia. Além disso, há nove países-parceiros que participam de atividades do bloco, como Cuba, Bolívia, Malásia, Cazaquistão, Nigéria, Tailândia, Bielorrússia, Uganda e Uzbequistão.
A aliança representa, assim, uma tentativa de reequilibrar as forças globais e construir um novo modelo de cooperação baseado na multipolaridade e no respeito à soberania nacional.
Veja a íntegra do comunicado:
"Expressamos profunda preocupação com os ataques militares contra a República Islâmica do Irã desde o dia 13 de junho de 2025, os quais constituem violação do direito internacional e da Carta das Nações Unidas, e a subsequente escalada da situação de segurança no Oriente Médio.
Diante do aumento das tensões, cujas consequências para a paz e a segurança internacionais, bem como para a economia global, são imprevisíveis, ressaltamos a necessidade urgente de romper o ciclo de violência e restaurar a paz. Conclamamos todas as partes envolvidas a engajarem-se, por meio dos canais de diálogo e diplomáticos existentes, com vistas a desescalar a situação e resolver suas divergências por meios pacíficos.
Expressamos profunda preocupação em relação a quaisquer ataques contra instalações nucleares de natureza pacífica realizados em violação ao direito internacional e às resoluções pertinentes da Agência Internacional de Energia Atômica. As salvaguardas, a segurança e a proteção nucleares devem ser sempre respeitadas, inclusive em situações de conflitos armados, a fim de resguardar as pessoas e o meio ambiente contra danos. Nesse contexto, reiteramos nosso apoio a iniciativas diplomáticas que visem abordar desafios regionais.
Vidas civis devem ser protegidas e a infraestrutura civil deve ser salvaguardada, em total conformidade com o Direito Internacional Humanitário. Estendemos nossas sinceras condolências às famílias das vítimas e expressamos nossa solidariedade com os civis afetados.
Guiados pelos princípios consagrados na Carta das Nações Unidas, o BRICS permanece comprometido com a promoção da paz e da segurança internacionais e com o fomento da diplomacia e do diálogo pacífico como único caminho sustentável para a estabilidade duradoura na região. Nesse sentido, também reafirmamos a necessidade de estabelecimento de uma zona livre de armas nucleares e outras armas de destruição em massa no Oriente Médio, em conformidade com as resoluções internacionais pertinentes.
Conclamamos a comunidade internacional a apoiar e facilitar os processos de diálogo, defender o direito internacional e contribuir construtivamente para a solução pacífica de controvérsias em benefício de toda a humanidade.
Os países do BRICS continuarão atentos a essa matéria".