Nesta sexta-feira (13), os dois principais rivais do Irã no Oriente Médio condenaram os ataques israelenses que mataram três militares e dois cientistas nucleares iranianos.
A Turquia, que disputa com o Irã influência sobre a Síria e o Iraque, foi representada pelo presidente Recep Tayyip Erdogan.
“Os ataques de Netanyahu e sua rede de massacre, que estão incendiando toda a nossa região e o mundo, devem ser impedidos”, declarou o chefe de Estado.
A Arábia Saudita, tradicional inimiga de Teerã, foi o primeiro país árabe a se manifestar contra a ofensiva. Em nota publicada no X (antigo Twitter), o reino afirmou:
“Expressamos nossa forte condenação e denúncia das flagrantes agressões israelenses contra a fraterna República Islâmica do Irã, que minam sua soberania e segurança e constituem uma clara violação das leis e normas internacionais.”
A nota saudita continua: “O Reino condena esses ataques hediondos e afirma que a comunidade internacional e o Conselho de Segurança da ONU têm grande responsabilidade em interromper imediatamente essa agressão.”
Relações entre Irã e Turquia
Irã e Turquia mantêm uma relação de rivalidade e cooperação, marcada por uma lógica de morde e assopra. Embora mantenham canais de diálogo abertos e cooperação em algumas frentes, os dois países têm interesses estratégicos opostos em diversas áreas sensíveis — especialmente na Síria, no Iraque e no Cáucaso.
Na Síria, o Irã foi um dos principais apoiadores do governo de Bashar al-Assad, deposto no ano passado por Ahmad al-Shaara, líder do grupo HTS, que mantém fortes vínculos com a Turquia. O atual governo sírio é amplamente influenciado e protegido por Ancara, o que representa uma vitória geopolítica de Erdogan sobre Teerã.
No Iraque, os iranianos possuem forte influência entre as facções xiitas do país, enquanto os turcos tem interação e diálogo com forças sunitas e com o partido do curdistão iraquiano.
No Cáucaso, a rivalidade se expressa no conflito entre Armênia e Azerbaijão. O Irã apoia os armênios, enquanto a Turquia é a principal aliada do Azerbaijão e defende a criação de um corredor pan-túrquico, ligando turcos e azeris através de território atualmente iraniano. Em 2021, Erdogan chegou a sugerir que a província iraniana do Azerbaijão Oriental deveria ser incorporada ao Azerbaijão.
Apesar das tensões, Irã e Turquia mantêm cooperação em regiões como Sudão e Líbia, e atuam como principais vozes ativas contra Israel no cenário regional, sendo ambos os países ligados parcialmente ao Hamas e com bom trânsito com o Qatar, outro ator chave na região.
Relações entre Irã e Arábia Saudita
A rivalidade entre Irã e Arábia Saudita é histórica e marcada pela disputa pela liderança no mundo islâmico e no Oriente Médio. Nos últimos anos, o Iêmen tornou-se o principal palco desse confronto, com os houthis, apoiados por Teerã, enfrentando milícias pró-sauditas em uma guerra civil que permanece congelada desde 2023.
Foi justamente em 2023 que a China mediou um acordo histórico de reconciliação, que restabeleceu as relações diplomáticas entre Riyadh e Teerã e impulsionou o convite para a entrada da Arábia Saudita no grupo dos BRICS. Desde então, os dois países vêm ensaiando uma reaproximação cautelosa, após anos de animosidade aberta.
A disputa por influência entre sauditas e iranianos também se dá no Líbano, onde o reino árabe tutela as forças políticas sunitas — e inclusive o fez através do governo o Irã financia o Hezbollah.
Ainda assim, tensões persistem. Neste ano, autoridades sauditas declararam que, caso o Irã consiga desenvolver uma bomba atômica, a Arábia Saudita também buscará enriquecer urânio e adquirir armamentos nucleares, como forma de manter o equilíbrio estratégico na região.