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Teimosas, a Pensilvânia e a Flórida não mudaram nada depois das campanhas intensas de Joe Biden e Donald Trump nos estados. É o que mostra a última pesquisa de intenção de voto, divulga neste fim de semana, feita pela ABC/Washington Post. Segue o empate técnico na Flórida e a vantagem de 7 pontos para Biden na Pensilvânia. Na última eleição, Trump venceu nos dois estados com uma vantagem de votos minúscula. Pouco mais de 44 mil votos na Pensilvânia (em um total de 6,2 milhões) e 112 mil e uns quebrados na Flórida (9,4 milhões ao todo), o que não representa nem 0,1% do total em cada um dos estados.
O que alimenta a vantagem de Biden na Pensilvânia não necessariamente ajuda o candidato na Flórida. Oh país complicado esse... Mas em relação à última eleição, a grande vantagem de Biden na Pensilvânia este ano é não ser Hillary Clinton. A rejeição a ela era grande. Biden não tem o mesmo problema. E ainda não se sabe como o eleitorado do estado vai reagir ao programa de substituição das energias fósseis por energias renováveis que Biden foi forçado a defender. A Pensilvânia investe pesado na produção de gás, especialmente de xisto, usando a técnica chamada fracking. Ela fratura a rocha no subsolo para liberar e coletar o gás preso nas bolhas do xisto. Uma técnica que contamina o subsolo, e os poços artesianos dos moradores, com metano. Sem falar do ar... Hoje a Pensilvânia é o segundo pior estado do país em matéria de qualidade do que se respira.
Mas essa indústria gera empregos e o governo subsidia a atividade com incentivos ficais. Por isso Trump faz campanha dizendo que Biden vai eliminar o fracking. Para assustar os moradores com o fantasma do desemprego. Mas as pesquisas mostram que 58% dos eleitores da Pensilvânia acreditam que é preciso tomar medidas para combater o aquecimento global e frear a mudança climática. Fica no ar a incógnita. Por seu lado, Trump prometeu trazer empregos de volta, especialmente para a indústria do aço que um dia foi vital para a Pensilvânia. Mas a maior fábrica do estado, a Bethlehem, continua fechada, com os fornos frios.
A economia segue sendo o principal assunto para o eleitorado da Pensilvânia. Mas agora, disputa a preocupação de todos com a pandemia. O estado tem registrado aumentos semanais de mais de 50% de novos casos. E aqui, Biden se sai melhor porque propõe medidas de contenção da doença, tem empatia com os que perderam parentes neste ano tristemente inesquecível, e defende a ampliação do programa de saúde criado no governo Obama, que Trump quer eliminar. Se depender do esquadrão progressista no Congresso, uma futura administração democrata vai adotar um SUS à americana.
O senador Bernie Sanders, que disputou a vaga de candidato democrata a presidente com Joe Biden, está fazendo campanha pelo ex-adversário sem parar. Esta semana ele recebeu a candidata a vice, Kamala Harris, para um bate-papo virtual. Quem divulgou o evento foi a turma que fez a campanha de Sanders e continua ativa, trabalhando com ele agora em favor de Biden. Ou seja, Sanders deu a Kamala Harris a oportunidade de falar com a turma dele, direto. Mas cortou qualquer chance de rapapé e blábláblá. Logo no começo da conversa, Harris tentou rasgar seda e fazer mil elogios ao colega de Senado. Ele cortou logo a gracinha: “bom, não estamos aqui para um lovefest (um festival de amor), vamos ao que interessa”.
Ao contrário dos cabos eleitorais que promovem um candidato, o comportamento de Sanders foi crítico e de cobrança. Discutiu os temas que considera mais importantes como salário mínimo e saúde. E no fim de cada resposta da candidata ele ressaltava: “então você está se comprometendo em elevar o salário mínimo para 15 dólares por hora se vocês foram eleitos, é isso? ”. E a conversa continuou nesse tom o tempo todo. Pergunta e compromisso. Não é que Sanders seja um rabugento, como muita gente gosta de dizer. Basta ver o vídeo do dia seguinte, quando fez uma mesa virtual com as mulheres do esquadrão progressista da Câmara Ayanna Pressley, Alexandria Ocasio-Cortez, Ilhan Omar e Rashida Tlaib.
Um homem branco, idoso, judeu, senador, conversando com jovens deputadas de diversas origens. Negra, latina, muçulmana e palestina, todas em torno do senador que Alexandria chama carinhosamente de tio. Eles esperam trabalhar juntos, a partir de janeiro, com a vitória de Biden, para puxar o governo para a esquerda e garantir a adoção de medidas necessárias e urgentes. “Eleger o Biden não é o fim, mas o começo”, disse Sanders, “as propostas dele não vão tão longe como deveriam mas ao menos ele não se vê como um ditador”. E completou: “nossa primeira tarefa é derrotar o pior presidente da história desse país e em segundo lugar, mobilizar nosso pessoal para que o Biden se torne o presidente mais progressista da história desde FDR.
Franklyn Delano Roosevelt se tornou presidente em meio a grande depressão que se seguiu à crise de 1929. E logo nos primeiros 100 dias de mantado adotou, usando ordens executivas, o que veio a se chamar o New Deal, um conjunto de medidas para dar alívio e proteção aos americanos. Uma rede de sustentação social que refundou a democracia americana e salvou o sistema capitalista de uma derrocada. É o que se imagina necessário agora, novamente. Criar medias de apoio e socorro aos trabalhadores impondo rédeas que salvem o capitalismo americano de si mesmo.
Rashida Tlaib, de origem palestina, disse a Bernie esperar que ele não se sinta mais tão sozinho no Congresso já que agora tem esse esquadrão progressista na Câmara. E agradeceu: “por acreditar em nós, essas mulheres assumidamente falantes e barulhentas”. A resposta de Bernie Sanders:
- Nós somos uma família. Tenho mais em comum com vocês do que com os meus colegas. O que um cara judeu, branco, tem que ver com vocês? Viemos do mesmo lugar (da classe trabalhadora). Amo vocês! Vocês são extraordinárias! Seguiremos juntos”.
Nesse encontro sim, valia um lovefest porque existe entre eles uma união forjada na luta comum e na certeza de que ainda há muito trabalho pela frente.