Em meio à crescente tensão entre o Sul Global e o Ocidente, o governo chinês apresenta um plano ambicioso para consolidar sua posição no cenário financeiro global: o fortalecimento do Sistema de Pagamentos Transfronteiriços em RMB (CIPS, na sigla em inglês). O sistema, amplamente visto como uma alternativa ao SWIFT — a rede de mensagens financeiras que conecta instituições bancárias em todo o mundo —, busca facilitar transações internacionais em yuan (RMB) e reduzir a dependência do dólar americano e das infraestruturas ocidentais.
O anúncio foi divulgado em comunicado conjunto do Banco Popular da China, da Administração de Supervisão Financeira e do Governo Municipal de Xangai.
O documento detalha iniciativas para transformar Xangai em um centro financeiro internacional, com ênfase na expansão do CIPS — foco do texto de hoje —, digitalização de serviços e promoção do uso do yuan em operações globais.
O que é o CIPS?
Criado em 2015, o CIPS funciona como uma plataforma para liquidação de transações internacionais em moeda chinesa. Ele opera de forma paralela ao SWIFT, mas com foco no yuan.
Enquanto o SWIFT atua como uma rede de comunicação entre bancos, sem realizar liquidações diretamente, o CIPS combina comunicação e liquidação, oferecendo um serviço mais integrado. Isso permite que países participantes realizem transações em RMB sem depender de sistemas ocidentais.
Com o novo plano de ação, o governo chinês pretende aumentar significativamente o alcance do CIPS. Entre as medidas destacadas estão a expansão da rede para regiões estratégicas, o uso de tecnologia blockchain para garantir segurança e eficiência nas transações, e a criação de incentivos para que empresas multinacionais adotem o sistema.
Um contraponto ao SWIFT
Embora o SWIFT seja amplamente utilizado globalmente, ele tem sido alvo de críticas nos últimos anos, especialmente após sanções impostas contra países como Irã e Rússia, que tiveram acesso limitado ao sistema.
Esses episódios reforçaram a necessidade de alternativas independentes do Ocidente. Por isso, o CIPS representa não apenas uma ferramenta econômica, mas também geopolítica.
"Após o confisco de dezenas de bilhões de dólares em reservas e ativos de países como Irã, Venezuela e Afeganistão, a apreensão pelos EUA e pela UE de mais de US$ 300 bilhões em reservas da Rússia disparou um alerta global, reafirmando a urgência de alternativas ao domínio do dólar", afirma ao Global Times o pesquisador Marco Fernandes.
Avanço da digitalização e integração regional
O plano de Xangai também destaca investimentos maciços em tecnologias digitais para modernizar os serviços financeiros. A autenticação digital transfronteiriça e o uso de blockchain são mencionados como prioridades para melhorar a eficiência e reduzir custos operacionais. Além disso, o governo chinês planeja estender funções de contas de livre comércio e facilitar o uso do yuan em plataformas de e-commerce global.
Outro ponto crucial é a integração do CIPS com a Iniciativa Cinturão e Rota (BRI), a Nova Rota da Seda. Com o aumento do comércio dentro dessa rede, o yuan ganha espaço como moeda preferida em acordos bilaterais, desafiando ainda mais a hegemonia do dólar.
Apesar dos avanços, é claro, o CIPS enfrenta desafios antes de se tornar uma alternativa viável ao SWIFT e ao dólar. A baixa liquidez do yuan no mercado internacional e a resistência de algumas economias ocidentais podem retardar sua adoção generalizada.
Mas o planejamento de colocar Xangai como um polo financeiro global competitivo e remodelar o comércio internacional está em um horizonte próximo e possível e talvez até inevitável.