CHINA EM FOCO

Conheça os laços do companheiro de chapa de Kamala Harris com a China

Candidato democrata a vice-presidente dos EUA, Tim Walz já esteve cerca de 30 vezes no país asiático e defende equilíbrio comercial entre as duas potências

Créditos: Xinhua - Tim Walz é o companheiro de chapa de Kamala Harris na disputa pela Casa Branca
Escrito en GLOBAL el

A relação entre o candidato a vice-presidente da democrata Kamala Harris e a China é um tema quente na campanha presidencial dos Estados Unidos. Desde que foi anunciado como companheiro de chapa da atual vice-presidenta, os laços de Tim Walz com o povo chinês têm sido escrutinados por críticos que o pintam como simpático a Pequim, enquanto políticos de ambos os lados em Washington parecem competir para parecer mais duros com o maior rival geopolítico dos EUA.

LEIA TAMBÉM: Tim Walz: quem é o vice escolhido por Kamala Harris para embate contra Trump

O site da revista estadunidense Time desta quarta-feira (7) traz uma matéria detalhada sobre os vínculos de Walz com a China. Intitulada 'What to Know About Tim Walz’s Relationship With China' (O que Saber Sobre a Relação de Tim Walz com a China, em tradução livre).

O governador de Minnesota tem uma conexão profunda e duradoura com a China, um país que ele visitou aproximadamente 30 vezes e onde passou sua lua de mel. Além de falar um pouco de chinês, Walz frequentemente discute questões relacionadas à potência asiática e trabalhou em legislações pertinentes ao país.

Em 1989, logo após concluir sua graduação, Walz embarcou em seu primeiro voo internacional rumo à China. Segundo sua biografia oficial no Congresso, ele foi um dos primeiros educadores estadunidenses a lecionar na China, através de um programa da Universidade de Harvard. Ele se estabeleceu na província de Guangdong, onde ensinou em uma escola secundária local. Sua estadia coincidiu com um período tumultuado na história chinesa: foi o ano dos protestos na Praça Tiananmen.

As numerosas viagens de Walz, à China têm sido motivo de especulações infundadas sobre possíveis ligações com o governo chinês, chegando ao ponto de ser rotulado de espião. Essas acusações ganharam destaque em um programa da rede ligada de tevê dos EUA ligada à extrema direita Fox News.

O apresentador Jesse Watters questionou sarcasticamente como Walz, então professor, poderia financiar tantas viagens. "Walz passou sua lua de mel na China. Ele está sendo preparado pelos chineses", declarou o jornalista da Fox News  que chegou a sugerir que o FBI deveria realizar uma verificação de antecedentes como medida de precaução.

Script clássico de um político dos EUA

A despeito de ter ido várias vezes à China, Walz não foge do script esperado para um político dos EUA e rotineiramente exibe a credencial de "polícia do mundo" para se intrometer em questões internas da China e faz questão de sacar a carta "direitos humanos".

Desde o início de sua carreira política, iniciada com uma candidatura ao Congresso em 2006, Walz tem sido um crítico do histórico de direitos humanos da China, apesar de relatar de forma positiva sua experiência pessoal no país. Ele apoiou diversas resoluções do Congresso que denunciaram desde perseguições políticas até supostos e absurdos casos de extração de órgãos em território chinês.

De 2007 a 2018, Walz atuou na Comissão Executiva do Congresso sobre a China, focada no acompanhamento dos desenvolvimentos legais e de direitos humanos no país asiático. Nesse período, ele participou ativamente de discussões sobre a conformidade da China com as regras internacionais de comércio, enfatizando a necessidade de uma relação que respeite os princípios do comércio justo, dos direitos humanos e da proteção ambiental. Em 2016, ele descreveu o trabalho da comissão como essencial para garantir que a potência asiática "jogue pelas regras".

Equilíbrio comercial

Economicamente, Walz tem sido uma voz para manter uma relação comercial equilibrada e regulada entre os EUA e a China, argumentando contra a guerra comercial e enfatizando a importância do mercado chinês para a prosperidade americana. Suas iniciativas, embora às vezes controversas, refletem um compromisso com um equilíbrio entre confronto e cooperação na complexa relação EUA-China.

Já como governador de Minnesota, em 2019, Walz instou o então presidente Donald Trump a encerrar a guerra comercial com a China, argumentando que esta estava prejudicando o crescimento econômico e comprometendo a prosperidade dos Estados Unidos. O setor agrícola de Minnesota, em particular, sofreu com uma queda nas exportações de produtos como soja e carne suína.

Walz também enfatizou a importância do mercado chinês após uma viagem ao Japão, observando que a redução da demanda chinesa não poderia ser compensada por outros parceiros comerciais. "Não há substituto para 1,6 bilhão de consumidores que estão ansiosos para normalizar nossas negociações comerciais com a China", declarou, ressaltando que o potencial de absorção do mercado global é limitado comparado à capacidade produtiva americana.

Ataques dos republicanos

Os adversários do Partido Republicano estão fazendo um carnaval sobre a relação do candidato a vice-presidente do Partido Democrata.

O comitê de ação política republicano Make America Great Again (Faça a América Grande Novamente, em tradução livre), que apoia a chapa do ex-presidente Donald Trump e do senador de Ohio J.D. Vance, postou no X (antigo Twitter) um vídeo de Walz dizendo "Eu não me enquadro na categoria de que a China necessariamente precisa ser uma relação adversária, eu discordo totalmente disso."

O ex-secretário Assistente do Departamento de Assuntos dos Veteranos durante a administração Trump compartilhou o vídeo para tecer críticas a Walz.

"Tim Walz não vê a China como um problema. Esse é um cara que terá que aprender a verdade sobre a natureza vil da ditadura em Pequim. A tirania comunista pode não ser uma coisa ruim para Walz, mas o resto do mundo sabe. Walz é perigoso", escreveu.

Quem também surfou na proximidade de Walz com o povo chinês para atacá-lo foi ex-embaixador dos EUA na Alemanha e diretor interino de Inteligência Nacional durante a administração Trump, Richard Grenel.

"A China comunista está muito feliz com governador Tim Walz como escolha de vice de Kamala. Ninguém é mais pró-China do que o marxista Walz", escreveu.

Apoio dos democratas

Já os apoiadores do Partido Democrata veem a experiência de Walz com a China como um ativo. O ex-diretor da CIA e da NSA, Michael Hayden, que trabalhou em administrações democratas e republicanas, vê com otimismo a experiência do governador de Minnesota.

"Então ele sabe muito sobre isso. Isso é ótimo", comentou.

Repercussão na China

Mantendo a tradição de não se envolver em questões doméstica de outros países, a porta-voz Mao Ning, do Ministério das Relações Exteriores chinês, ao ser questionada sobre o tema durante coletiva regular de imprensa nesta quarta-feira (7), em Pequim, afirmou que a China não tem comentários sobre a indicação de Tim Walz para candidato à vice-presidente na chapa de Kamala Harris.

"Esperamos que o lado dos EUA trabalhe com a China na mesma direção, sob os princípios de respeito mútuo, coexistência pacífica e cooperação ganha-ganha, e trabalhe pelo desenvolvimento estável, saudável e sustentável das relações China-EUA, em benefício de ambos os países e do mundo em geral", disse Mao.

Já os internautas chineses têm mostrado um interesse considerável em Walz. Usuários de redes sociais, como o Weibo (similar ao X), também têm discutido a estadia do democrata na China, notando como sua experiência poderia influenciar as relações entre EUA e China.

Alguns expressaram esperança de que a experiência de Walz possa fomentar um melhor entendimento e promover trocas culturais em um período de tensões entre os dois países. Outros comentários ressaltam o contraste entre a China de 1989 e a potência global que ela representa hoje, destacando as mudanças significativas no país ao longo das décadas.

Walz descreveu seu tempo na China como uma das melhores experiências de sua vida e, após retornar aos EUA, ele e sua esposa iniciaram um negócio que organizava viagens educacionais para estudantes americanos visitarem a China.

Essas atividades e suas posições políticas têm sido vistas com uma mistura de ceticismo e otimismo sobre seu potencial papel nas relações sino-estadunidenses, especialmente considerando o contexto atual de relações bilaterais complexas.