Em meio ao aumento das tensões comerciais bilaterais entre China e EUA e aos crescentes riscos para a economia global, autoridades econômicas das duas potências mundiais vão se reunir nesta semana em Xangai, o centro financeiro chinês.
O diálogo ocorrerá no âmbito do Grupo de Trabalho Financeiro China-EUA e deve abordar vários temas cruciais relacionados à estabilidade econômica global e às relações bilaterais entre as duas maiores economias do mundo.
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- Estabilidade Econômica e Financeira: Os dois países discutirão maneiras de manter a estabilidade econômica e financeira, especialmente em meio às tensões comerciais e aos riscos globais, como a possibilidade de uma recessão nos EUA.
- Regulação Financeira e Cooperação: Haverá discussões sobre políticas monetárias, cooperação em regulação financeira e como ambos os países podem coordenar suas respostas a crises econômicas potenciais, como ciberataques ou desastres climáticos que possam afetar os sistemas bancários e de seguros.
- Mercados de Capitais e Acesso ao Mercado: Espera-se que sejam tratados temas relacionados ao acesso a mercados e à regulação dos mercados de capitais, com foco em como os dois países podem equilibrar seus interesses econômicos.
- Questões Comerciais e Tarifárias: As autoridades chinesas devem levantar preocupações sobre as tarifas adicionais impostas pelos EUA a produtos chineses, como veículos elétricos e componentes de energia verde, e discutir os impactos dessas medidas nas relações comerciais bilaterais.
- Controle do Fluxo de Fentanil: A administração Biden pressionará a China a continuar e intensificar suas ações para impedir que produtos químicos usados na produção de fentanil sejam exportados para outros países, onde são contrabandeados para os EUA.
- Reformas Econômicas na China: A reunião também pode abordar as reformas delineadas na recente sessão plenária do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh), que visam sustentar o desenvolvimento de alta qualidade e a abertura do mercado chinês, temas de grande interesse para as negociações.
Essas discussões são vistas como uma tentativa de ambas as partes de coordenar políticas econômicas em um momento de incertezas globais, buscando minimizar os riscos para suas respectivas economias e para a economia global em geral.
Encontro em Xangai
A delegação dos EUA é liderada por Brent Neiman, secretário-assistente do Tesouro estadunidense para finanças internacionais. Os diálogos, de acordo com matéria veiculada pelo The New York Times desta segunda-feira (12), devem ocorrer nesta quinta-feira (15) e sexta-feira (16).
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Essa rodada de conversas entre altos funcionários da administração Biden e da China ocorrerá no âmbito do Grupo de Trabalho Financeiro China-EUA. Está previsto encontro entre a delegação dos EUA e altos funcionários chineses, como o vice-governador do Banco Popular da China, o banco central do país asiático, Xuan Changneng, e de outros departamentos ligados à área econômica.
A pauta prevê discutir maneiras de manter a estabilidade econômica e financeira, mercados de capitais e esforços para conter o fluxo de fentanil para os Estados Unidos. Há ainda a possibilidade de tratar de novos problemas urgentes, incluindo as crescentes preocupações sobre a economia dos EUA, que abalaram os mercados globais.
Esta vai ser a quinta reunião do Grupo de Trabalho Financeiro e a segunda vez que os funcionários se reúnem na China. O grupo foi estabelecido em 2023 como parte dos esforços dos dois países para fortalecer a comunicação sobre questões econômicas e financeiras. A quarta reunião foi realizada em abril, em Washington, onde os dois lados discutiram várias questões, incluindo políticas monetárias, estabilidade financeira e cooperação em regulação financeira.
Reformas da China
As conversações acontecem após a Terceira Sessão Plenária do 20º Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh), que delineou reformas abrangentes para sustentar o desenvolvimento de alta qualidade da China nos próximos anos. Ao mesmo tempo, os mercados globais estão cada vez mais preocupados com as perspectivas da economia dos EUA, que alguns temem que possa entrar em uma recessão potencial.
Diante de suas dificuldades econômicas, Washington precisa de coordenação com Pequim para responder a potenciais riscos e desafios e garantir a estabilidade econômica e financeira geral, comentaram analistas do país asiático ao Global Times.
A expectativa é de que um diálogo e cooperação aprimorados entre autoridades chinesas e estadunidenses ajudem a injetar um senso de estabilidade em uma situação geoeconômica global cada vez mais incerta, comentam os especialistas da China, que instam os EUA a parar de politizar questões comerciais e remover restrições e tarifas contra produtos chineses.
Cooperação China-EUA
O vice-diretor do Centro de Estudos Americanos e diretor do Centro de Estudos de Taiwan na Universidade Fudan, Xin Qiang, disse ao Global Times desta terça-feira (13) que a atenção dos EUA às políticas chinesas e a busca por diálogo com a China são amplamente motivadas por seus próprios interesses, especialmente à medida que os EUA enfrentam pressão econômica.
"A inflação nos EUA ainda não recuou para um nível ideal e os novos dados de empregos foram decepcionantes, o que expõe os problemas econômicos subjacentes. Algumas análises sugerem até que a economia dos EUA pode enfrentar uma recessão potencial", observou.
Xi destacou ainda o interesse dos EUA em aprimorar a comunicação com a China em meio aos crescentes riscos que a economia estadunidense enfrenta, autoridades daquele país também revelaram suas intenções para as próximas conversas.
Antes de embarcar rumo à China, o chefe da delegação dos EUA, Brent Neiman, segundo o The New York Times, falou sobre as expectativas do encontro com autoridades chinesas.
“Pretendemos que esta reunião do Grupo de Trabalho Financeiro inclua conversas sobre estabilidade financeira, questões relacionadas a dados transfronteiriços, empréstimos e pagamentos, esforços do setor privado para avançar no financiamento da transição e passos concretos que podemos tomar para melhorar a comunicação em caso de estresse financeiro”, disse Neiman.
Sobre essa declaração de Neiman, analistas da China comentam que mostra que o lado estadunidense quer coordenar com a China em termos de políticas macroeconômicas e respostas a potenciais problemas econômicos. Como o vice-diretor do Instituto de Estudos Americanos e Europeus no Centro Chinês para Intercâmbios Econômicos Internacionais em Pequim, Zhang Monan, disse ao Global Times.
"Em vista das atuais expectativas negativas para o crescimento econômico e da necessidade de evitar choques globais causados por grandes ajustes na política monetária, os tópicos das conversas são oportunos e urgentes", disse Zhang .
Zhang comentou ainda que a coordenação e cooperação entre China e EUA em relação às políticas são favoráveis à estabilização dos mercados financeiros globais e também benéficas para ambos os lados. "Como China e EUA são grandes potências econômicas, a coordenação de suas políticas monetárias e financeiras é de grande importância para estabilizar o mercado financeiro global", afirmou.
Relação econômica tensa
Embora a comunicação entre os Estados Unidos e a China tenha melhorado no último ano, a relação econômica permanece tensa devido a divergências sobre política industrial e a dominância da China em tecnologia de energia verde.
Em maio, o governo Biden impôs novas tarifas sobre uma série de importações chinesas, incluindo veículos elétricos, células solares, semicondutores e baterias avançadas. Os Estados Unidos também estão restringindo investimentos americanos em setores chineses que os formuladores de políticas acreditam poder ameaçar a segurança nacional.
Reguladores financeiros dos Estados Unidos e da China têm realizado exercícios de choque financeiro este ano para coordenar suas respostas em caso de crise, como um ciberataque ou desastre climático, que possa afetar os sistemas bancários ou de seguros internacionais.
A administração Biden tem pressionado a China a tomar medidas para evitar que produtos químicos usados na produção de fentanil sejam exportados para outros países e contrabandeados para os Estados Unidos. Houve sinais de progresso este mês, quando a China anunciou que imporia novas restrições a três desses produtos químicos, um movimento que os Estados Unidos descreveram como um "passo valioso à frente."
Outras questões econômicas entre os dois países continuam a ser contenciosas. A secretária do Tesouro, Janet L. Yellen, pressionou autoridades chinesas durante sua viagem à China em abril para que parassem de inundar os mercados globais com produtos de energia limpa a preços baixos, alertando que a capacidade industrial excessiva da China distorceria as cadeias de suprimentos globais.
Crescimento do papel da China
Embora os EUA continuem tentando conter o desenvolvimento da China, também reconhecem cada vez mais o papel insubstituível da China em ajudar a lidar com questões econômicas globais e internas dos próprios EUA, especialmente à medida que a China continua promovendo o desenvolvimento de alta qualidade e uma abertura em alto nível, avaliam especialistas chineses.
Um dos principais tópicos das próximas conversações em Xangai pode se concentrar nas medidas de reforma delineadas na terceira sessão plenária do 20º Comitê Central do PCCh. Essas reformas são vistas como um "indicador" importante para o futuro da reforma na China, atraindo a atenção global. Como a segunda maior economia do mundo, a China poderá liberar um novo impulso de crescimento através de mais reformas e abertura, o que terá um impacto significativo na economia global.
Em contraste com algumas tendências protecionistas e de fechamento em outros países e regiões, incluindo os EUA, a China continua a buscar um desenvolvimento de alta qualidade e uma maior abertura. O comunicado da última terceira sessão plenária afirmou que "a abertura é uma característica definidora da modernização chinesa. Devemos permanecer comprometidos com a política básica de abertura ao mundo exterior e continuar promovendo a reforma por meio da abertura."
Apesar de estarem envolvidos em conversas com seus homólogos chineses, os EUA continuam a intensificar suas ações contra produtos e empresas chinesas. Por exemplo, após a quarta rodada de conversas do Grupo de Trabalho Financeiro, os EUA anunciaram em maio tarifas adicionais sobre uma ampla gama de produtos chineses, incluindo veículos elétricos. Posteriormente, os EUA adiaram a imposição dessas tarifas adicionais para alguns produtos.
Nas próximas conversas, espera-se que as autoridades chinesas levantem preocupações sobre as restrições econômicas e comerciais dos EUA. Analistas apontam que os EUA aparentemente perceberam que impor tarifas adicionais sobre produtos chineses apenas aumentará os custos para os consumidores americanos e agravará a inflação nos EUA. Apesar disso, por razões políticas, os políticos americanos optam por desafiar as leis econômicas básicas.
He Weiwen, membro sênior do Centro para a China e a Globalização, disse que, embora os EUA possam buscar conversas com a China devido à pressão econômica interna, é improvável que interrompam sua estratégia de contenção de longo prazo contra a China. Segundo ele, é importante entender essa dinâmica ao buscar estabilizar e melhorar as relações bilaterais entre China e EUA.