China e Brasil defendem o diálogo e a negociação como única solução viável para a guerra na Ucrânia. Os dois países apoiam uma conferência internacional de paz realizada em momento adequado, que seja reconhecida tanto por Moscou quanto por Kiev, com participação igualitária de todas as partes, bem como discussão justa de todos os planos de paz.
Nesse contexto, nenhum dos dois países vai participar da Cúpula de Paz na Ucrânia que será realizada neste final de semana, dias 15 e 16, no resort Bürgenstock, na Suíça.
Durante coletiva regular de imprensa promovida pelo Ministério das Relações Exteriores da China em Pequim nesta sexta-feira (14), um repórter da Reuters observou que fontes do veículo informaram que, embora a China não esteja participando do encontro deste final de semana na Suíça, tem feito lobby junto a vários países para que apoiem seu consenso de seis pontos com o Brasil para uma solução política da guerra na Ucrânia.
Em resposta, o porta-voz Lin Jian esclareceu que a China acolhe e apoia todos os esforços pela paz. "Nossa posição sobre a Cúpula de Paz na Ucrânia, a ser realizada na Suíça, é justa e imparcial, e temos sido abertos e claros sobre nossa posição", afirmou.
"A China manteve uma comunicação estreita com a Suíça, a Ucrânia e outras partes sobre questões relacionadas à cúpula e incentivou a participação igualitária e a discussão justa de todos os planos na cúpula", observou.
Lin prosseguiu que os seis entendimentos comuns entre China e Brasil receberam uma resposta positiva de mais de 100 países. "Eles refletem a expectativa universal do mundo e representam o mais amplo consenso entre os países sobre essa questão. Acolhemos mais países para apoiar e endossar os seis entendimentos comuns", finalizou.
Proposta sino-brasileira para paz na Ucrânia
O entendimento citado pela Reuters foi costurado pelo chanceler Celso Amorim, assessor especial do presidente Lula para assuntos internacionais, e o principal diplomata chinês, o ministro das Relações Exteriores Wang Yi, que também integra o Bureau Político do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh).
Os dois diplomatas se encontraram em Pequim no dia 23 de maio. Na ocasião, ambos defenderam que todas as partes envolvidas no conflito ucraniano devem criar condições para a retomada do diálogo direto e impulsionar a desescalada da situação até a realização de um cessar-fogo abrangente.
Entendimento entre Brasil e China sobre a Ucrânia
1. Pedido para que todas as partes relevantes observem três princípios para desescalar a situação:
- não expandir o campo de batalha,
- não escalar os combates e
- não provocar nenhuma das partes.
2. Defesa do diálogo e negociação como única solução viável para a crise na Ucrânia.
- Todas as partes devem criar condições para a retomada do diálogo direto e impulsionar a desescalada da situação até a realização de um cessar-fogo abrangente.
- China e Brasil apoiam uma conferência internacional de paz realizada em momento adequado, que seja reconhecida tanto pela Rússia quanto pela Ucrânia, com participação igualitária de todas as partes, bem como discussão justa de todos os planos de paz.
3. Necessidade de esforços para aumentar a assistência humanitária às regiões relevantes e prevenir uma crise humanitária em maior escala.
- Ataques contra civis ou instalações civis devem ser evitados, e os civis, incluindo mulheres e crianças
- Prisioneiros de guerra (POWs, da sigla em inglês) devem ser protegidos. As duas partes apoiam a troca de POWs entre as partes em conflito.
4. Condena o uso de armas de destruição em massa, particularmente armas nucleares, químicas e biológicas.
- Todos os esforços possíveis devem ser feitos para prevenir a proliferação nuclear e evitar uma crise nuclear.
5. Condena ataques a usinas nucleares e outras instalações nucleares pacíficas.
- Todas as partes devem cumprir o direito internacional, incluindo a Convenção sobre Segurança Nuclear, e prevenir resolutamente acidentes nucleares provocados pelo homem.
6. Condena a divisão do mundo em grupos políticos ou econômicos isolados.
- As duas partes pedem esforços para melhorar a cooperação internacional em energia, moeda, finanças, comércio, segurança alimentar e segurança de infraestrutura crítica, incluindo oleodutos e gasodutos, cabos ópticos submarinos, instalações de eletricidade e energia e redes de fibra óptica, a fim de proteger a estabilidade das cadeias globais de suprimentos e industriais.
Brasil e China acolhem os membros da comunidade internacional para apoiar e endossar os entendimentos comuns e desempenharem conjuntamente um papel construtivo na desescalada da situação e na promoção de negociações de paz.
Cúpula da Paz na Ucrânia na Suíça
A matéria da Reuters comentada pela diplomacia chinesa informa que a China tem feito lobby junto a governos para promover o plano alternativo elaborado em conjunto com o Brasil. O autor do texto escreve que ouviu dez diplomatas e que um deles classificou a campanha de Pequim de "boicote sutil" à reunião global na Suíça.
O veículo registra que 90 estados e organizações se registraram para participar da cúpula, que ocorrerá neste final de semana na Suíça para buscar apoio para as propostas de paz do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy, incluindo a retirada completa das tropas russas da Ucrânia.
Moscou, que não foi convidada para o evento, descartou a reunião como inútil. A China, que tem laços estreitos com a Rússia, disse que não participará da conferência porque não atende aos requisitos de Pequim, incluindo a participação da Rússia.
China e Rússia proclamaram uma parceria "sem limites" poucos dias antes do presidente Vladimir Putin ordenar a invasão do vizinho menor em fevereiro de 2022. Pequim diz que é neutra no conflito e não forneceu armas ou munições a Moscou.
Após a China afirmar que não iria à cúpula, Zelenskiy acusou Pequim de ajudar Moscou a minar a reunião, uma acusação que o Ministério das Relações Exteriores da China negou.
A Ucrânia, os Estados Unidos e outros governos ocidentais fizeram grande pressão para que a China participasse das conversações, buscando legitimidade para a cúpula e um consenso amplo sobre um roteiro para um futuro processo de paz.
Em conversas com nações em desenvolvimento, a China não criticou abertamente a cúpula suíça nem pediu diretamente que os países se abstivessem, disseram diplomatas baseados em Pequim à Reuters.
Mas um diplomata que foi informado sobre o alcance disse que Pequim informou aos países em desenvolvimento que a reunião prolongaria a guerra, enquanto dois diplomatas com conhecimento direto do assunto disseram que a China tem dito às nações ocidentais que muitos países em desenvolvimento estão alinhados com suas visões sobre a conferência.
Os diplomatas pediram para não serem identificados porque não estavam autorizados a discutir o assunto sensível com a mídia, informou a Reuters.
Na semana passada a porta-voz Mao Ning, da diplomacia chinesa, comentou: "A China espera sinceramente que uma conferência de paz não se transforme em uma plataforma usada para criar confrontos entre blocos. Não participar dela não significa não apoiar a paz."