A China e o Brasil chegaram a um acordo para negociar nas próprias moedas e abandonar o dólar dos EUA como intermediário. A medida é um passo importante para aprofundar a cooperação comercial sino-brasileira e para excluir uma possível influência de Washington nos negócios entre os dois países.
Com o acordo, o Brasil vai aderir ao Cips (China Interbank Payment System), uma alternativa ao Swift (Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication), que prevalece na maioria dos países do mundo e é feito em dólar dos EUA. A expectativa é a redução dos custos de transações comerciais com o câmbio direto entre o real brasileiro e o renminbi (ou yuan) chinês.
Os dois países também anunciaram a criação de uma “clearing house” (ou Câmara de compensação), uma instituição bancária que permita o fechamento de negócios e a concessão de empréstimos entre os dois países sem que o dólar americano tenha que ser usado para viabilizar a transação internacional.
O anúncio das medidas foi feito nesta quarta-feira (29) durante o Fórum de Negócios Brasil-China, realizado na capital chinesa, Pequim, que reuniu mais de 500 empresários e autoridades dos dois países.
Compensação
O Banco Industrial e Comercial da China (ICBC, na sigla em inglês) vai operar a clearing house no Brasil para permitir que empresários brasileiros e chineses possam fazer transações comerciais e empréstimos em yuan, e não apenas em dólar, como ocorre atualmente entre os dois países.
Como se trata de uma grande instituição financeira chinesa, o banco seria capaz de garantir aos empresários brasileiros a conversão imediata de seus ganhos em real, caso eles decidam fechar negócios em yuan.
“É uma opção de compensação do yuan para uma moeda local, existem 25 assim no mundo, e corta custos de transação porque não passa pelo dólar”, explicou a secretária de assuntos internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito, que participou do evento em Pequim.
A secretária explicou que o mecanismo que passará a ser adotado no Brasil é semelhante ao já instaurado pelos chineses tanto no Chile como na Argentina, ambos países que compõem a Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês), um programa de empréstimos e financiamentos em infraestrutura de Pequim que tem por prioridade garantir negócios sem impedimentos entre a China e seus parceiros.
“O Brasil firmou acordo para pagamento em yuan, o que facilita muito o nosso comércio. Vamos trabalhar ainda mais no setor de alimentos e minérios, vamos buscar possibilidade de exportação de mercadorias de alto valor agregado da China ao Brasil e do Brasil para a China”, comentou a vice-ministra de Comércio da China Guo Tingting.
Mais de 20 acordos de cooperação
Durante visita à China, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) intermediou a formalização de mais de 20 acordos de cooperação para fomentar inovação, sustentabilidade e mais parceria em diferentes setores da economia brasileira e chinesa.
Entre os acordos firmados estão uma parceria da ApexBrasil com a aceleradora Venture Cup China para apoiar startups brasileiras a desenvolverem negócios na China, além de organizar, em conjunto, a semana da inovação, que terá foco em soluções ligadas à economia verde e de baixo carbono, à sustentabilidade aplicada ao agronegócio e à digitalização.
Já a parceria firmada com a Beijing Hycore Innovation e a agência brasileira tem o objetivo de apoiar startups brasileiras a estabelecer negócios com a China, no contexto da competição de empreendedorismo e evento global HICOOL 2023 Global Entrepreneurship Competition, que será realizado no dia 10 de abril na capital chinesa.
Veja acordos firmados
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Comexport e Furui para a venda de produtos e soluções da empresa no mercado brasileiro.
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Motrice Soluções em Energia e China Gansu International Corporation for Economic and Technical Cooperationna área de Energias Renováveis, com foco na importação e execução de serviços e investimentos
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Sinomec e Sete Partners nas áreas de energia renovável, agricultura e outros setores
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BMV global para a comercialização de créditos de biodiversidade. Com a HRH (Chongqing), para promover o comércio e serviço sustentável, e lançamento da plataforma de comércio de crédito de biodiversidade entre a China e o Brasil. Com a HRH Pharmaceutical, adquirindo o crédito de biodiversidade como mecanismo de compensação do seu impacto ambiental, e a obtenção do selo de boas práticas ESG - selo BMV de sustentabilidade.
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Suzano com a Cosco, para a construção de cinco navios de transporte de celulose e produtos de base biológica, incluindo contrato de transporte de longo-prazo; com a MoU com o grupo China Forestry Group, para colaboração em materiais de base biológica e carbono e investimentos e P&D; e lançamento do Innovability Hub, na Cidade da Ciência de Zhangjiang, em Xangai.
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Vale celebrou sete acordos com parceiros chineses. Universidade Tsinghua para intercâmbio de conhecimento técnico; Central South University (CSU) para pesquisas científicas em siderurgia de baixo carbono; XCMG para desenvolvimento da primeira motoniveladora zero emissão do mundo, com porte exclusivo para atividade de mineração com a empresa XCMG; Baoshan Iron & Steel (empresa do grupo Baowu) para a produção de biocarvão e suas aplicações, visando soluções de descarbonização na indústria siderúrgica; Industrial and Commercial Bank of China (o ICBC) e o Bank of China, para cooperação financeira envolvendo linhas de crédito abrangentes para mineração no Brasil e para grandes projetos ao redor do mundo, além de outras parcerias financeiras, especialmente cooperação financeira verde, fortalecendo projetos de energia verde; e Vale Indonésia e a Tisco (grupo Baowu) e a Xinhai para a construção de uma planta de processamento de níquel RKEF e outras instalações de apoio. O projeto, com potencial de baixo carbono, utilizará energia alimentada a gás.
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Banco BOCOM BBM anunciou adesão ao Cips, que é a alternativa chinesa ao Swift. A expectativa é a redução dos custos de transações comerciais com o câmbio direto entre BRL e RMB. O banco será o primeiro participante direto desse sistema na América do Sul.
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Industrial and Commercial Bank of China no Brasil passa a atuar como banco de compensação do RMB no Brasil. As reduções das restrições ao uso do RMB tem o objetivo de promover ainda mais o comércio bilateral e facilitar investimentos com o RMB.
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Odebrecht Engenharia e Construção, a Power China e a Sete Partners firmam parceria para trazer soluções conjuntas a projetos de infraestrutura no Brasil.
- Sete Partners e a Tianjing Food Group se associam para a criação de uma empresa binacional, visando ampliar investimentos na cadeia agrícola brasileira em diversas áreas, inclusive logística.
China é um dos pilares da paz mundial e do desenvolvimento
Em um mundo de incertezas, a certeza da China é um esteio que protege a paz e o desenvolvimento mundial, disse o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, chamando-o de "um fato que foi verdadeiro no passado e ainda mais no presente e no futuro".
A declaração de Li foi feita nesta quinta-feira (30) durante abertura da conferência anual do Fórum Boao para a Ásia (BFA, da sigla em inglês). Cerca de dois mil delegados de mais de 50 países e regiões participam do evento que teve início nesta terça-feira (28) e prossegue até sexta-feira (31).
"Não importa como o mundo mudará, a China aderirá à reforma, à abertura e ao desenvolvimento impulsionado pela inovação. Ao fazer isso, a China não apenas injetará novo ímpeto e vitalidade na economia mundial, mas também permitirá que o mundo compartilhe as oportunidades e os dividendos do desenvolvimento da China", enfatizou ele no discurso.
Recuperação econômica da China
As vendas no varejo da China, um indicador do crescimento do consumo, aumentaram 3,5% ano a ano no período de janeiro a fevereiro, revertendo quedas observadas nos três meses anteriores, mostraram dados do Escritório Nacional de Estatísticas (NBS).
Nos primeiros dois meses do ano, a produção industrial de valor agregado da China subiu 2,4% ano a ano, enquanto o índice que mede a produção da indústria de serviços do país subiu 5,5%, de acordo com o DNE.
Li observou a boa tendência na recuperação econômica da China dos efeitos iminentes da pandemia de Covid-19 nos meses anteriores, dizendo que março está tendo um desempenho ainda melhor do que janeiro e fevereiro, com indicadores-chave melhorando continuamente e um impulso de crescimento robusto.
A economia da China é resiliente, com grande potencial e vitalidade, disse o primeiro-ministro em Boao, uma cidade costeira na província insular chinesa de Hainan.
Ele acrescentou que a China vai introduzir uma série de novas medidas para expandir o acesso ao mercado, otimizar o ambiente de negócios e facilitar a implementação de projetos.
“Temos a confiança e a capacidade de fazer a economia chinesa avançar, manter um crescimento estável e sustentado e fazer maiores contribuições para o desenvolvimento econômico mundial”, afirmou Li.
Ambiente pacífico e estável para o desenvolvimento
O primeiro-ministro chinês também pediu esforços para salvaguardar conjuntamente um ambiente pacífico e estável para o desenvolvimento e injetar mais certeza no ambiente global volátil. "A Ásia não deve ter caos ou guerras se quiser alcançar maior desenvolvimento no futuro", disse.
A China continua empenhada em resolver diferenças e disputas entre países por meios pacíficos e em salvaguardar conjuntamente a paz e a estabilidade mundial, reiterou. Ele acrescentou que o país se opõe ao abuso de sanções unilaterais e jurisdição de braço longo, escolhendo lados, confronto em bloco ou "um novo Frio Guerra."
Os países devem defender o respeito e a confiança mútuos, a abertura e a inclusão, respeitar os caminhos de desenvolvimento escolhidos independentemente por outros países e se opor à narrativa de "choque de civilizações" e confronto ideológico, disse Li.
A China estabeleceu como sua tarefa central transformar-se em um grande país socialista moderno em todos os aspectos e promover o rejuvenescimento da nação chinesa em todas as frentes através de um caminho chinês para a modernização.
Para o mundo, a tarefa da China de modernizar um país de 1,4 bilhão de pessoas, ou quase um quinto da população global, não tem precedentes.
A China está empenhada em alcançar a modernização por meio da paz e do desenvolvimento, o que criará uma forte força motriz para o crescimento econômico na Ásia e no mundo como um todo, disse Li. "A China nunca buscará modernização por meio de guerra, colonização ou pilhagem", finalizou.
Comércio na Ásia responde por quase metade do total mundial
Também nesta quinta-feira, a diretora administrativa do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, que participa do evento, observou que o comércio na Ásia – onde a China é um centro crucial – agora representa quase metade do comércio global.
Georgieva disse que 2023 será "outro ano difícil" para a economia global após o conflito Rússia-Ucrânia e o aperto monetário. A última previsão do FMI coloca o crescimento global em 2,9% em 2023, desacelerando em relação aos 3,4% esperados para 2022.
Ela pediu cooperação e solidariedade entre os formuladores de políticas para navegar pela incerteza.
"Então, como os formuladores de políticas podem navegar neste momento de incerteza? O Fórum Boao deste ano oferece uma resposta: por meio da cooperação e da solidariedade, os dois faróis de luz nos quais podemos confiar para nos guiar pelos desafios que temos pela frente", disse Georgieva.
A diretora do FMI alertou que os riscos de fragmentação do comércio podem reduzir em até 7% o crescimento do PIB mundial de longo prazo, que é aproximadamente equivalente à produção anual combinada da Alemanha e do Japão.
Para ilustrar o benefício trazido pela integração comercial, Georgieva disse que a economia mundial triplicou de tamanho, com os países emergentes e em desenvolvimento quadruplicando de tamanho nos últimos 40 anos.
"Só na China, 800 milhões de pessoas saíram da pobreza, já que ela se tornou cada vez mais integrada à economia mundial. Uma grande conquista para qualquer padrão!" disse Georgieva.
Confiança ao mundo
Participantes internacionais do evento e observadores no exterior acreditam que a importância da Ásia na economia mundial continua a crescer, e a cooperação dinâmica e o desenvolvimento dos países asiáticos, especialmente a China, trouxe confiança e estabilidade preciosas ao mundo.
"Esperamos explorar a certeza em um mundo incerto e promover a solidariedade e a cooperação entre os países para melhor enfrentar os desafios por meio de discussões na conferência anual. Também pretendemos defender a abertura e a inclusão para promover melhor o desenvolvimento", declarou o secretário-geral do BFA, Li Baodong, à imprensa.
Sobre o BFA
O Fórum Boao para a Ásia, iniciado por 29 países asiáticos e pela Austrália, é uma organização sem fins lucrativos que hospeda fóruns de alto nível para líderes governamentais, empresariais e acadêmicos na Ásia e em outros continentes para compartilhar sua visão sobre as questões mais prementes neste região e no mundo em geral.
Com informações da CGTN e Xinhua