CHINA EM FOCO

China x Estados Unidos: relembre polêmicas entre os dois países

Conflito Israel-Palestina e Rússia-Ucrânia, Guerra dos Chips, Questão de Taiwan e Mar do Sul da China são alguns pontos de embate entre as duas maiores economias do mundo

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Os recentes conflitos entre a China e os Estados Unidos giram em torno de questões complexas e em uma escalada no antagonismo entre as duas maiores economias do mundo em temas como geopolítica global e regional, governança, comércio exterior, modelo de desenvolvimento, tecnologia, emergência climática etc.

A mais recente polêmica ocorreu após o encontro entre os presidentes da China, Xi Jinping, e dos EUA, Joe Biden, em São Francisco, na Califórnia, no dia 15 de novembro. Foi um marco simbólico importante nas relações diplomáticas conturbadas entre as duas superpotências.

Mas, em alguns minutos, a fala de Biden, anfitrião do encontro, chamando o convidado, Xi, de ditador ofuscou os temas da conversa entre os dois líderes, que tratou de questões estratégicas como conflito Israel-Palestina, guerra Ucrânia-Rússia, Mar do Sul da China, Questão de Taiwan e Guerra dos Chips.

Israel x Palestina

Neste ano, um dos principais embates entre a China e os Estados Unidos no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) ocorreu em relação ao conflito entre Israel e a Palestina.

A Rússia e a China vetaram uma proposta dos EUA para que o Conselho de Segurança das Nações Unidas agisse sobre o conflito Israel-Palestina, que pedia pausas nos combates para permitir o acesso à ajuda humanitária, a proteção de civis e o fim do fornecimento de armas ao Hamas e outros militantes na Faixa de Gaza.

Os EUA apresentaram uma resolução em resposta à crescente crise humanitária e ao aumento do número de mortes de civis em Gaza. Essa medida foi tomada poucos dias depois de Washington vetar um rascunho de resolução focado em aspectos humanitários proposto pelo Brasil, argumentando que era necessário mais tempo para a diplomacia liderada pelos EUA.

Dez membros do Conselho votaram a favor do texto dos EUA, enquanto os Emirados Árabes Unidos votaram contra e Brasil e Moçambique se abstiveram.

O embaixador da China na ONU, Zhang Jun, comentou após a votação que a proposta não refletia os apelos globais mais fortes por um cessar-fogo e pelo fim dos combates, e que não ajudava a resolver o problema. Ele destacou que o cessar-fogo é uma questão de vida ou morte para muitos civis.

Rússia x Ucrânia

O embate entre a China e os Estados Unidos sobre a guerra na Ucrânia é marcado por divergências significativas em suas políticas e abordagens. A China delineou sua política em relação ao conflito Rússia-Ucrânia em 12 pontos, lançados em fevereiro de 2023.

Como uma medida intermediária, a política chinesa concentra-se no resfriamento, desescalada e cessar-fogo, visando evitar a escalada para uma guerra mais ampla, especialmente uma guerra nuclear. A China se opõe ao suporte ativo de outros países, o que leva à prolongação do conflito.

Esse conflito teve um efeito transbordante nas relações China-EUA, com ambos os países usando o conflito como um prisma para visualizar as futuras relações sino-americanas, imaginando possíveis conflitos e métodos de conflito entre a China e os EUA.

A insatisfação dos EUA com o desenvolvimento contínuo das relações sino-russas e a cooperação da China com a Rússia, vista por Pequim como normal e legítima, têm contribuído para o aprofundamento das relações sino-russas, em resposta à supressão estratégica contínua da China pelos Estados Unidos.

Guerra dos Chips

A "guerra dos chips" entre os Estados Unidos e a China refere-se ao confronto tecnológico e estratégico entre as duas superpotências na área de semicondutores, que são componentes críticos para uma ampla gama de produtos eletrônicos modernos, desde smartphones até sistemas de defesa.

Este conflito tem diversas facetas:

Supremacia Tecnológica e Econômica: Os semicondutores são fundamentais para a economia digital e a segurança nacional. Ambos os países buscam liderança e autossuficiência nesta área, que é chave para o desenvolvimento de tecnologias avançadas.

Restrições e Sanções Comerciais: Os EUA têm imposto restrições à exportação de semicondutores e tecnologia relacionada à fabricação de chips para a China, visando limitar o acesso chinês a tecnologias avançadas. Isso inclui proibições a empresas americanas e, em alguns casos, a empresas estrangeiras que usam tecnologia americana, de vender certos tipos de chips de alta tecnologia para empresas chinesas.

Investimento em Pesquisa e Desenvolvimento: Tanto a China quanto os EUA têm investido pesadamente em pesquisa e desenvolvimento na área de semicondutores. A China tem buscado reduzir sua dependência de fornecedores estrangeiros, enquanto os EUA procuram manter sua liderança tecnológica.

Implicações Globais: A guerra dos chips tem amplas implicações para a cadeia de suprimentos global, afetando a disponibilidade e o custo de dispositivos eletrônicos em todo o mundo. Além disso, tem impactos significativos nas relações internacionais e na balança de poder tecnológico global.

Espionagem e Segurança Cibernética: Há também preocupações com a segurança cibernética e a espionagem, com os EUA acusando a China de roubar propriedade intelectual e tecnologias sensíveis e vice-versa.

Em resumo, a guerra dos chips é um componente crítico da rivalidade estratégica mais ampla entre os EUA e a China, refletindo a competição pelo controle de tecnologias essenciais que definirão o futuro econômico e estratégico global.

Questão de Taiwan

A questão de Taiwan é um ponto crítico nas relações entre a China e os Estados Unidos, com posições significativamente diferentes entre os dois países.

Posicionamento da China:

  • Princípio de Uma Só China: A China considera Taiwan parte inalienável de seu território. De acordo com esse princípio, só existe uma China no mundo, e Taiwan é uma região da China.
     
  • Reunificação Pacífica: A China tem buscado a reunificação pacífica com Taiwan, mas não descarta o uso da força, especialmente em resposta a tentativas de "independência de Taiwan" ou interferências externas significativas.
     
  • Oposição a Relações Oficiais Taiwan-EUA: A China se opõe firmemente a qualquer forma de relações oficiais entre Taiwan e os EUA, incluindo vendas de armas e apoio político ou militar.

Posicionamento dos Estados Unidos

  • Política de Uma Só China: Os EUA reconhecem o princípio de Uma Só China, mas interpretam de maneira que permite relações não oficiais com Taiwan.
     
  • Apoio à Defesa de Taiwan: Os EUA fornecem armas defensivas a Taiwan sob a Lei de Relações com Taiwan, visando ajudar a ilha a se defender.
     
  • Oposição à Mudança Unilateral do Status: Os EUA se opõem a qualquer tentativa unilateral de alterar o status de Taiwan, seja pela força chinesa ou pela declaração de independência de Taiwan.
     
  • Ambiguidade Estratégica: Historicamente, os EUA mantêm uma política de "ambiguidade estratégica", não declarando claramente se interviriam militarmente para defender Taiwan em caso de um ataque chinês.

Enquanto a China vê qualquer apoio dos EUA a Taiwan como uma violação do princípio de Uma Só China e uma interferência em seus assuntos internos, os EUA veem seu apoio a Taiwan como consistente com sua política de Uma Só China e necessário para a estabilidade e segurança do Estreito de Taiwan.

A crescente assertividade militar da China em torno de Taiwan e o aumento das vendas de armas dos EUA para Taiwan têm exacerbado as tensões.

Essas posições refletem as diferenças fundamentais na abordagem dos dois países em relação à soberania, segurança regional e a ordem internacional baseada em regras.

Tensões no Mar do Sul da China

O Mar do Sul da China, uma hidrovia vital de 1,3 milhão de km² para o comércio internacional, é uma das áreas mais tensas do planeta.

Cerca de um terço do transporte marítimo global, com valor estimado em bilhões de dólares, passa por ali anualmente. Além de ser uma fonte crucial de pesca, a região possui recursos naturais significativos, incluindo pelo menos 57 bilhões de km² de gás natural e 11 bilhões de barris de petróleo.

O controle e a exploração desses recursos têm implicações econômicas e ambientais, dado que a área é rica em biodiversidade, mas enfrenta ameaças de mudanças climáticas e poluição marinha.

A região é palco de disputas marítimas crescentes entre a China e vários países do Sudeste Asiático. A China reivindica a maioria das ilhas e bancos de areia, enquanto Filipinas, Malásia, Vietnã e Brunei têm reivindicações concorrentes. Um tribunal internacional em Haia decidiu em 2016 a favor das Filipinas numa disputa marítima, decisão que Pequim considera ilegal. A China ocupa várias ilhas e recifes na área, assim como outros países.

O fortalecimento militar da China na região, que agora possui a maior frota naval do mundo, incluindo destróieres e porta-aviões, levou os EUA e aliados a acusar Pequim de controlar uma "milícia marítima".

Enquanto a China nega, os EUA, que não reivindicam território no Mar do Sul da China, realizam operações regulares na região sob o argumento de "defender o direito de todas as nações voarem, navegarem e operarem conforme permitido pela lei internacional", operações essas criticadas por Pequim como ilegais.

Saiba mais na coluna China Em Foco