CHINA EM FOCO

As feiras do templo estão de volta a Pequim

As mudanças nos protocolos de controle e enfrentamento à Covid-19 estão normalizando a vida do povo chinês; na capital nacional atividades tradicionais estão de volta

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A decisão das autoridades chinesas de reclassificar a Covid-19 como uma doença infecciosa classe B (antes era classe A), trouxe de volta as feiras do temple (Miaohui) nas celebrações da Festa da Primavera, também conhecida como Ano Novo Chinês, após três anos de restrições devido às medidas antiepidêmicas.

As feiras de templo estão entre as multas tradições do Ano Novo Chinês que voltaram a acontecer este ano. No passado, em época de festas religiosas, comerciantes se instalavam temporariamente nas proximidades dos templos para oferecer seus produtos à multidão que vinha fazer suas orações. Com o tempo, atividades lúdicas e artísticas tradicionais foram incorporadas às feiras, que já eram populares na Dinastia Liao (907-1125).

Em Pequim, as feiras do templo são populares entre os moradores da cidade nessa época do ano. A Feira do Templo de Changdian, por exemplo, possui uma história de cerca de 500 anos, sendo uma das “Quatro Grandes Feiras de Templo” da China, famosa por seu tamanho e por seu mercado de bens culturais, onde é possível comprar livros, antiguidades, caligrafias e artesanatos tradicionais. Esta é a única feira de templo listada como Patrimônio Cultural Imaterial.

Reprodução internet - Feira do Templo

Outra feira de templo importante é a de Badachu, local que concentra oito templos e monastérios budistas, incluindo um pagode que guarda uma importante relíquia: um dente de Buda. Durante a pandemia, mesmo com a proibição da feira, Badachu foi um dos locais mais procurados por budistas para queimar incenso e pedir bênçãos para o novo ano. Mesmo sem a feira, houve comerciantes instalados no local para atender à demanda dos visitantes por incenso e alimentos. Agora, com a feira, celebrar o ano novo em Badachu é ainda mais interessante: visitantes poderão acender velas, tomar chá, comer bolinhos, tocar sinos e queimar incenso para ter boa sorte no ano que se inicia.

Cada feira de templo tem suas particularidades. A do parque Ditan (Templo da Terra), é famosa por suas tradições folclóricas, que podem ser experimentadas pelos visitantes, além de apresentações de música e dança.

A Feira do Templo Hongluo, no distrito de Huairou, fica mais distante da cidade, mas vale a pena pela combinação de cultura popular, tradições da Festa da Primavera e atividades culturais do templo Hongluo, procurado por aqueles que desejam paz, saúde e tranquilidade no novo ano. Após fazer suas preces, os visitantes aproveitam a feira para assistir performances acrobáticas.

Nem toda feira de templo fica em um templo. Um bom exemplo é a feira da Cidade das Águas Gubei, um resort turístico inspirado nos antigos canais de Wuzhen, no sul da China. Um ponto forte desta feira são suas oficinas de artesanato, e ao longo do dia acontecem apresentações de dança do leão.

Já a feira de templo do parque Longtan é bem versátil, combinando atividades de lazer, apresentações folclóricas e de patrimônio cultural imaterial com uma feira diversificada que inclui flores, livros, comida e até veículos!

Outra feira com uma proposta diferenciada é a do parque Daguanyuan, construído com a intenção de recriar os cenários descritos no livro O Sonho do Pavilhão Vermelho, de Cao Xueqin, um dos quatro grandes clássicos da literatura chinesa. A Feira do Templo de Daguanyuan é rica em atividades culturais, dentre elas uma encenação adaptada de um capítulo do livro.

E existe até mesmo uma feira de templo “estrangeira”, realizada no Parque de Diversões de Shijingshan, que oferece aos visitantes comidas típicas e músicas de diferentes países.

Reprodução internet - Lebre de jade

No início de 2020, quando o novo coronavírus começava a se espalhar, os parques de Pequim estavam iniciando a montagem das feiras de templo que, infelizmente, não aconteceram. Três anos depois, o retorno das feiras marca o início da era pós-Covid justamente no ano da lebre (ou do coelho, pois o termo original admite ambas traduções): segundo uma antiga lenda chinesa, a Lebre de Jade, que vive na lua, prepara poções para curar doenças.

O momento é favorável ao recomeço. Que o ano da lebre nos traga o remédio para tantos males que assombram o mundo.  Feliz ano novo chinês!

* Rafael Henrique Zerbetto é bacharel em estudos literários pela Unicamp, pós-graduado em Interlinguística e Esperantologia pela Universidade “Adam Mickiewicz” da Polônia. Trabalha desde 2015 para a imprensa chinesa, com artigos e entrevistas publicados em diferentes revistas e websites.