O público brasileiro interessado na China terá acesso à versão em português do livro Red Star Over China, de Edgar Snow, em março de 2023. A editora brasileira Autonomia Literária finaliza a obra para lançar na data prevista.
Snow foi o primeiro ocidental a conhecer Mao Zedong, mais conhecido como Mao Tse-tung no Brasil, e os líderes comunistas chineses em 1936. O jornalista estadunidense publicou o primeiro relato autorizado da vida do líder revolucionário.
O livro também registra uma história da famosa Longa Marcha e dos homens e mulheres que foram responsáveis pela revolução chinesa. Red Star Over China é uma obra clássica que continua sendo uma das mais importantes já escritas sobre o nascimento do movimento comunista na China.
A edição em português que está sendo finalizada pela Autonomia Literária tem tradução do inglês para o português com consultas à edição em mandarim. Segundo o editor Hugo Albuquerque a versão brasileira estará recheada de notas de rodapé.
Sob o título em português "Estrela Vermelha sobre a China", Albuquerque comenta que a obra foi, ao mesmo tempo, um relato fantástico, mas uma antevisão de tendência, no sentido marxista, sem igual.
"Enquanto os comunistas do mundo todo miravam o futuro da revolução nos destinos da União Soviética ou os rumos da Revolução Espanhola ou nos perigos do nazifascismo, Edgar Snow mirou no futuro e acertou: talvez por sua posição privilegiada de insider na China, onde ele estava já há alguns anos, ele pode perceber a potência do que estava sendo gestado ali ainda nos anos 1930."
Hugo Albuquerque, editor do Autonomia Literária
Albuquerque ressalta que é importante notar que, em 1936, o mundo duvidava que a China poderia continuar existindo diante de uma invasão japonesa, ou que mesmo que sobrevivesse, talvez fosse melhor se acomodar com o governo do Kuomintang - que apesar de dar mostras de degeneração em direção da extrema direita, era de certa forma tolerado pelos aliados, inclusive pela União Soviética, que parecia pouco engajada numa Revolução na China.
Snow, então, recorda Albuquerque, entrevistou muitos dos líderes que acabaram de fazer a Longa Marcha, a maioria deles futuros sobreviventes da resistência ao Japão e da Guerra Civil que levou à proclamação da República Popular da China -- que hoje, menos de cem anos depois de sua criação nas ruínas de um século sob violência imperialista e caos político, alcançou um status de potência.
"Olhando de hoje, a obra já parece interessante, mas quando relembramos que quase ninguém arriscava dizer o quão longe os comunistas chineses poderiam chegar em 1936, tudo se torna mais fascinante ainda", observa o editor.
Influência para relação China - EUA
Snow é um nome familiar na China. O jornalista dos EUA ficou famoso entre os leitores chineses pela obra de 1937, que desnudou o misterioso Partido Comunista da China (PCCh) a partir de conversas com figuras-chave do partido, inclusive o líder revolucionário Mao Zedong.
O best-seller global Red Star Over China forneceu a primeira espiada na base real do PCCh e seus líderes. Até aquele momento, as lideranças comunistas chinesas eram descritas como bandidos "com rostos e presas ciano" pelo Kuomintang, o partido dominante do país antes da Revolução de Libertação Popular de 1949 e que atuava duro para sufocar a revolução por meio de ataques militares e bloqueios econômicos desde 1930.
O livro serviu de referência para pelo menos dois ex-presidentes dos Estados Unidos - Franklin D. Roosevelt e Richard Nixon - e também contribuiu para a normalização das relações sino-americanas na década de 1970.
Em 13 de julho de 1936, após uma longa e difícil jornada, Snow chegou a Bao'an, um vilarejo em Yan'an onde ficava o Comitê Central do PCCh, e se encontrou com Mao Zedong.
Durante as conversas, Mao relatou, pela primeira vez, o nascimento e crescimento do Exército Vermelho e o desenvolvimento das bases do PCCh e suas políticas. Pela primeira vez ele também compartilhou opiniões sobre a organização partidária, questões internacionais e a prontidão em buscar uma cooperação mais forte com países amigos com base no respeito mútuo.
Snow ficou profundamente impressionado com os ideais dos comunistas chineses e com o carisma e o conhecimento de Mao. Ele via a experiência do líder como um microcosmo de toda uma geração de chineses. O que tornava o timoneiro da revolução diferente era que, quando falava, falava em nome do povo chinês comum, especialmente dos camponeses. Mais tarde, Snow descreveu essas palestras como as mais valiosas de sua vida.
Durante esse período, Snow conseguiu conversar com mais de cem comandantes do Exército Vermelho, entrevistando soldados nas linhas de frente e registrando suas vidas diárias. Ele também se envolveu extensivamente com pessoas comuns. Os autênticos relatórios de primeira mão de Snow apresentavam retratos muito diferentes em oposição à propaganda do Kuomintang.
Após mais de 100 dias em Shaanxi, Snow encontrou a resposta que procurava. Ele relembrou os quatro meses passados no Exército Vermelho como uma experiência muito inspiradora, durante a qual se encontrou com o povo chinês mais livre e feliz que já conhecera.
Depois de retornar aos Estados Unidos, Snow continuou a compartilhar histórias sobre a guerra da China contra a agressão japonesa em seu país e com o mundo.
Hoje, à beira do lago na Universidade de Pequim, uma das mais prestigiadas instituições de ensino superior da China, há uma lápide com um epitáfio que diz: "Em memória de Edgar Snow, um amigo americano do povo chinês", escrito em chinês em inglês. Snow nunca escondeu seu amor pela China. Ele agora está descansando em paz na China - como desejou em seu testamento - uma terra que ele amou profundamente e onde é amado.
Com informações do Global Times