CHINA EM FOCO | ESPECIAL CONGRESSO NACIONAL PCCH

A Nova Era da China sob a liderança de Xi Jinping

Líder chinês fez um discurso poderoso e contundente que deu o tom da jornada na qual o gigante asiático embarcará pelos próximos cinco anos

Créditos: Xinhua
Escrito en GLOBAL el

A República Popular da China iniciou neste domingo (16), sob a liderança de Xi Jinping, uma nova longa marcha sob a bandeira do socialismo com características chinesas cujo destino é a prosperidade comum do povo chinês.

Xi fez um discurso histórico para iniciar os trabalhos do 20° Congresso Nacional do Partido Comunista da China (PCCh), na manhã deste domingo. Ele fez a leitura do relatório do 19° Comitê Central do PCCh no qual prestou contas do trabalho realizado ao longo dos últimos cinco anos e apresentou as grandes transformações da última década.

O evento politico mais importante do gigante asiático vai encaminhar o atual presidente ao terceiro mandato consecutivo no cargo mais alto do país e consagrá-lo ao patamar dos grandes líderes da Nova China.

Ao lado do timoneiro da Revolução da Libertação Popular de 1949, Mao Tsé-Tung; da Reforma e da Abertura do país em 1978, Deng Xiaoping; Xi Jinping será o guia da China da Nova Era.

Xinhua

A imponência do local de realização da vigésima edição da conferência que ocorre a cada cinco anos, o Grande Salão do Povo, na Praça Tiananmen, em Pequim, ressoou a potência do discurso incisivo de Xi.

Ciente de que para além da China, todo o mundo voltou os olhos e os ouvidos para as palavras que ecoaram pelo Grande Auditório lotado, ele se dirigiu ao povo chinês e mandou recados claros e altos para serem recebidos mundo afora.

O caminho tomado a partir deste congresso pelo gigante asiático o conduzirá ao desenvolvimento com qualidade e verde, ao rejuvenescimento da nação, à democracia popular, ao aprimoramento do Estado de Direito, à promoção da cultura, à melhoria do bem-estar do povo e à elevação da qualidade de vida.

A rota traçada passa pela modernização da segurança, da defesa nacional e do Exército de Libertação Popular, a prática e o aperfeiçoamento do princípio 'Um País, Dois Sistemas' e a reunificação da pátria.

O percurso para além das fronteiras chinesas inclui a promoção da paz e do desenvolvimento mundial e a criação de uma comunidade de futuro compartilhado para a humanidade. 

Esse mapa ambicioso tem sido desenhado pelo Partido que passa por um completo processo de reforma para alcancar os destinos traçados para a China. 

Prestação de contas

Xinhua

O relatório lido por Xi Jinping neste domingo foi dividido em 15 partes. A primeira faz um balanço do trabalho realizado ao longo dos últimos cinco anos e as grandes transformações ocorridas na China na última década.

Essa prestação de contas traz realizações institucionais, como revisões na Constituição, aprofundamento das reformas do PCCh e do Estado, a elaboração do Plano Quinquenal de Desenvolvimento Econômico e Social (2021-2025) e dos Objetivos de Longo Prazo até o Ano de 2035. Além de realizações como a formidável erradicação da extrema pobreza; e o enfrentamento à pandemia com a política Zero-Covid. E a resposta às atividades separatistas de Taiwan.

O relatório abordou outros 14 temas: sinonização do marxismo; papel do PCCh na China da Nova Era; desenvolvimento com qualidade; modernização da sociedade com ciência e educação; desenvolvimento da democracia popular e do Estado de Direito; fortalecimento da cultura socialista; melhoria do bem-estar e da qualidade de vida da população; desenvolvimento verde; defesa da segurança nacional; ampliação das perspectivas da Defesa Nacional e das Forças Armadas; aperfeiçoamento do principio ' Um Pais, Dois Sistemas' e promoção da reunificação da pátria; e criação de uma comunidade de futuro compartilhado.

Destaques do discurso de Xi Jinping na opinião de brasileiros

Xinhua

A China em Foco ouviu estudiosos e observadores que acompanham ou país asiático nos destaques dá fala do líder não faz discurso neste domingo. Elias Jabbour, Alessandro Teixeira, Renato Peneluppi e Hugo Albuquerque.

Marxismo adaptado às condições da China contemporânea

O tema central do Congresso é dar continuidade ao aperfeiçoamento do socialismo com características chinesas. O informe de Xi reforça a orientação marxista do PCCh e destaca que a teoria de Karl Marx seguirá sendo aprimorada e adaptada à realidade da China da Nova Era.

Para Elias Jabbour, estudioso da experiência de desenvolvimento econômico chinês e autor, dentre outros livros, do ‘China - o socialismo do século XXI’, escrito com o economista italiano Alberto Gabriele, o discurso do líder chinês sobre a base teórica das conquistas e desafios da China deveria inspirar os marxistas brasileiros. 

“Me causa perplexidade se discutir socialismo hoje sem se fazer nenhuma referência à China. Que na América Latina não ocorra o que acomete a Europa”, lamenta. No Brasil, observa Jabbour, o marxismo não passa de uma corrente de pensamento acadêmica com nenhuma força na sociedade, com forte tendência a atacar qualquer experiência de poder e crescer pela via da negação da política.

Jabbour recorda que em nenhum informe político desde o Congresso de 1982 a reafirmação do socialismo como caminho foi tão enfático quanto no informe lido por Xi Jinping neste domingo. 

“Essa reafirmação constante tem sido acompanhada por uma clara advertência: o desafio constante de adaptar o marxismo à realidade do país. Xi Jinping é claro quando coloca que a governança do país por um Partido Comunista demanda a constate construção de teorias que guiem a governança à solução dos desafios que a vida impõe. É poder político na prática”, sintetiza.

Liderança, desenvolvimento, Covid-19 e o papel da China no mundo 

Xinhua

A fala de Xi indica que a tarefa central do Partido será unir e liderar o povo de todos os grupos étnicos do país e concluir a construção integral de um grande país socialista moderno e promover a revitalização nacional por meio da modernização da sociedade.

Na avaliação de Alessandro Golombiewski Teixeira, professor de Economia e Políticas Públicas da Universidade de Tsinghua, em Pequim, esse trecho da fala do relatório é o ponto-chave da mensagem. Ele comenta que considerou o discurso voltado para o público interno para reafirmar as posições do PCCh e a liderança de Xi Jinping. 

“Claro que é preciso analisar que Xi Jinping está sob muita pressão, principalmente por críticas internas e externas. Acho que foi um discurso de reafirmação dele na liderança do Partido Comunista e das políticas que vêm sendo adotadas nos últimos anos”, analisa Teixeira.

Ele comenta que não esperava um discurso tão voltado para o desenvolvimento econômico, a exemplo do que ocorreu entre o 14º e o 19º congressos. 

Ainda assim, Teixeira ressalta a fala de Xi sobre o processo de desenvolvimento chinês para assimilar e fortalecer o conceito de desenvolvimento de alta qualidade. Para ele, essa mensagem mostra que o governo chinês não vai perseguir um alto crescimento. “Eles estão numa batalha econômica e precisam diminuir a desigualdade social, continuar com a modernização da sociedade chinesa”, comenta.

Outro aspecto da fala do líder chinês destacado por Teixeira foi quanto à política zero-Covid. “A visão de Xi é a de defender as pessoas, de colocá-las em primeiro plano. Portanto, isso reforça a necessidade de proteger a população chinesa”, pontua. Além de sinalizar que, ao contrário da expectativa de parte da população, não haverá mudanças na postura zero-Covid. 

O papel da China no mundo é outro ponto destacado por Teixeira. Ele acredita que o presidente chinês tem ciência do papel-chave que o país tem exercido no cenário global no quesito segurança. 

O conceito de segurança, comenta Teixeira, tem uma dimensão ampla e não está ligado apenas às relações internacionais, mas vai além: do povo, das instituições e dos avanços alcançados pelo país ao longo das décadas, ressalta. 

Teixeira resume que o discurso, basicamente, mostrou o que o PCCh vem fazendo e está dentro da linha do que o Xi tem falado sobre desenvolvimento e a questão da segurança interna e externa.”Um discurso nessa linha, redondo do ponto de vista das duas coisas que eles já vêm falando, da Iniciativa Global de Desenvolvimento e da Iniciativa Global de Segurança”, finaliza.   

Segurança, reunificação e prosperidade comum

Xinhua

A leitura do advogado especializado em Administração Pública Chinesa Renato Peneluppi segue a mesma linha de Teixeira. Ele observou que abrir o evento com um minuto de silêncio pelos mártires revolucionários proletários das antigas gerações, Xi fez um gesto de liderança.

Peneluppi também aponta que o discurso destaca a visão do Partido de uma instabilidade internacional em meio a mudanças globais de uma magnitude não vista em um século. “Deixou claro que há grandes planos para avançar a causa do partido e do país. Não por menos a palavra segurança foi citada 73 vezes”, destacou. 

A fala de Xi, observa, reafirma o conceito “Um país, Dois sistemas” para Hong Kong e Macau e que haverá enfrentamento contra o separatismo e interferência externas para salvaguardar a soberania nacional e a integridade territorial. O discurso evoca o desejo pela unificação pacífica de Taiwan, afirma. "Porém, não descarta o uso de força se provocado”. 

Peneluppi finaliza que a partir da fala de Xi, a prosperidade comum será alcançada com a melhoria do sistema de distribuição de renda e expansão da classe média. 

Novo Politburo 

Xinhua

O advogado Hugo Albuquerque vai além do discurso de Xi e comenta que as lideranças do PCCh serão renovadas ao longo desta semana, durante o congresso. A previsão e a recondução do atual líder para o terceiro mandato. 

“O importante será ver a nova composição do Politburo - mas não haverá grandes novidades. De certa forma, Xi assentou sua liderança, tendo adversários com telhado de vidro - muitos dos quais, caíram facilmente na campanha anticorrupção. Alguns eram grandes, mas as condenações que importavam já ocorreram”, analisa. 

Ele observa que a espinha dorsal do Partido - que já balançou, mas nunca foi rompida nesses cem anos - segue lá. E a aposta na liderança de Xi persiste: ele melhorou a qualidade do crescimento, distribuiu renda, enfrentou a Covid e a guerra comercial.

Na visão de Albuquerque, grosso modo, essas medidas sedimentaram a liderança de Xi em tempos duros. Ele assumiu o papel de "liderança pessoal", mas devolve ao Partido o que acumula pessoalmente - o mesmo Partido que, coletivamente, o criou como liderança pessoal.

“A questão do futuro premiê é muito importante. Mas ela diz respeito à política econômica e à administração de um modo geral, não à linha política. O resto é propaganda anticomunista, tipo anos 1950 (ou pior), da mídia ocidental”, ironiza.

Ritual e simbologia

Xinhua

O evento político mais importante da China é um ritual coreografado e preciso que se desenrola no Grande Auditório, de proporções condizentes com o povo que representa; 1,4 bilhão de pessoas. Os integrantes do Comitê Central do PCCh, a espinha dorsal do partido, ficam em um palco onde a primeira fileira é ocupada pelo Comitê Permanente do Birô Político e pelo Politburo. 

Xinhua

A plateia fica disposta em um anfiteatro com três andares. O primeiro está ocupado pelos quase 2.300 delegados e delegadas que representam os mais de 96 milhões de filiados partidários.O segundo piso recebeu um misto de outros filiados, funcionários do governo, convidados, e imprensa local e estrangeira. 

Xinhua

Uma das seções do auditório é ocupada por uma banda militar que dita o ritmo da cerimônia. Cada canção anuncia um novo ato: chegada dos delegados, do Comitê Central, e das autoridades máximas. Há um simbolismo em cada etapa. 

 

 

Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar