Durante as décadas de 1970 e 1980, o noroeste do Pacífico dos Estados Unidos foi palco de uma quantidade incomum de assassinos em série — a ponto de a região ganhar o apelido de “Campos da Morte da América”. Ted Bundy, o Assassino da I-5, o Estrangulador de Hillside e o Assassino de Green River figuram entre os mais notórios. Desde então, especialistas tentam explicar o que teria provocado esse surto. Entre as hipóteses, destacam-se desde a proliferação das rodovias interestaduais, que facilitaram a fuga dos criminosos, até traumas familiares vividos por uma geração criada no pós-guerra.
No entanto, uma teoria ganha novo fôlego com o livro Murderland, da jornalista Caroline Fraser. Crescida em Seattle, ela viveu de perto o clima de medo instaurado após os crimes de Bundy. Em sua investigação, Fraser se debruça sobre a chamada “hipótese do crime de chumbo” — que sugere que a exposição a metais pesados como chumbo, cobre e arsênio estaria ligada ao aumento da violência. Um exemplo marcante: a fundição ASARCO, em Tacoma, emitia nuvens tóxicas que se espalhavam por quilômetros. Bundy, Gary Ridgway e Israel Keyes viveram nas redondezas.
Estudos apontam que o chumbo afeta diretamente o desenvolvimento cerebral, especialmente em crianças, elevando os níveis de agressividade. Nos anos 1990, após a retirada do chumbo da gasolina e outras restrições ambientais, os índices de criminalidade caíram drasticamente nos EUA — algo que reforça a tese de Fraser.
A autora também critica a forma como a mídia construiu figuras como Bundy, frequentemente retratado como inteligente e carismático. Para Fraser, isso mascara o fato de que muitos desses assassinos eram, na realidade, homens frustrados, violentos e pouco sofisticados. Ela destaca ainda que o fascínio público por esses criminosos contribui para mitificá-los — o que pode incentivar comportamentos semelhantes.
Atualmente, com avanços na ciência forense, acesso a tratamentos de saúde mental e menos exposição a toxinas, o número de assassinos em série caiu: foram 669 nos anos 1990, 371 nos anos 2000 e 117 na década de 2010. Para Fraser, a queda é um reflexo direto de uma sociedade que aprendeu a proteger melhor seus cidadãos — desde o útero até a vida adulta.