O Partido dos Trabalhadores (PT), por meio de sua Comissão Executiva Nacional, divulgou nesta quarta-feira (10) uma nota de solidariedade à ex-presidenta argentina Cristina Kirchner, condenada à prisão pela Suprema Corte de seu país.
Cristina foi condenada a seis anos de prisão por fraude administrativa. A condenação também determina a proibição perpétua de exercer cargos públicos. Os três magistrados que compõem a Suprema Corte argentina rejeitaram os recursos impetrados pela defesa de Kirchner. "As sentenças proferidas por tribunais anteriores basearam-se na farta prova produzida", diz a decisão.
Ao sair em defesa da Cristina Kirchner, o PT afirma que a ex-presidenta, principal liderança da oposição ao governo de Javier Milei, é " maior vítima de violência política e lawfare da Argentina desde o retorno da democracia ao país, em 1983".
"O ápice da campanha de ódio e perseguição política que tem a ex-presidenta como alvo foi o atentado sofrido, na porta da sua casa, em 2022, quando um militante de extrema-direita disparou uma arma de fogo a poucos centímetros da sua cabeça, mas o equipamento falhou e frustrou a tentativa de assassinato. A decisão da Suprema Corte ocorre poucos dias após Cristina Kirchner ter anunciado que seria candidata a deputada pela província de Buenos Aires, nas eleições marcadas para o próximo 7 de setembro", diz a nota do PT.
"O Partido dos Trabalhadores respeita a autonomia do Judiciário da Argentina, mas lamenta que a ex-presidenta seja submetida a um processo de perseguição política, cujo objetivo maior é afastá-la definitivamente da vida pública, assim como fizeram com Juan Domingo Perón e o movimento peronista entre 1955 e 1973, sem contar o período da última ditadura (1976-1983). Em seus dois mandatos na presidência (2007-2011 e 2011-2015), Cristina Kirchner construiu um legado de políticas que beneficiaram grande parte da população argentina, em especial o programa social de redução da pobreza e da desigualdade social, que melhorou as condições de vida dos argentinos e das argentinas, a expansão da rede pública de ensino superior e os fortes investimentos em infraestrutura e ciência e tecnologia", prossegue.
"O Partido dos Trabalhadores estará ao lado do Partido Justicialista na luta pela reabilitação política da ex-presidenta Cristina Kirchner", finaliza o comunicado.
Entenda
A Suprema Corte argentina manteve, em decisão anunciada nesta terça-feira (10), a pena de seis anos de prisão para a ex-presidenta Cristina Kirchner, de 72 anos, por fraude administrativa. A condenação também determina a proibição perpétua de exercer cargos públicos.
Os três magistrados rejeitaram os recursos impetrados pela defesa de Kirchner. "As sentenças proferidas por tribunais anteriores basearam-se na farta prova produzida", diz a decisão.
Por ter mais de 70 anos, a ex-presidenta pode solicitar prisão domiciliar. Na semana passada, ela havia dito que competiria por uma cadeira na Câmara dos Deputados pelo terceiro distrito eleitoral da província de Buenos Aires.
Após a decisão, Cristina Kirchner se dirigiu aos militantes do Partido Justicialista (PJ) que chegaram à sede da legenda. "A verdade é que esta Argentina governada por Milei nunca deixa de nos surpreender, porque, além do teto salarial, acrescentaram o teto do voto popular."
"Esse triunvirato de fantoches (os juízes da Corte) responde a poderes naturais muito acima deles: o poder econômico concentrado da Argentina", disse a ex-presidenta, conforme o Pagina12.
'Pacto democrático'
Também segundo o jornal argentino, a Confederação Argentina de Trabalhadores em Transportes (CATT) criticou a decisão da Justiça do país. "Nos manifestamos contra a proscrição e a perseguição política da CFK", declarou a confederação.
"Há um uso crescente do Judiciário como instrumento de perseguição e proscrição política, principalmente em períodos que antecedem eleições, por meio de decisões irregulares e operações midiáticas que tentam influenciar a vontade popular", aponta ainda texto divulgado pela Diretoria da Confederação.
O secretário-geral do CATT e também da Federação da Indústria Marítima, Portuária e Naval da República Argentina (FeMPINRA), Juan Carlos Schmid, sustentou que "isso não é novidade; já aconteceu no Brasil com Lula; estão se repetindo medidas de legalidade duvidosa promovidas por atores poderosos que nunca saem da cena política, mesmo que não sejam visíveis".
"Hoje, muitos de nós estamos indignados, não só pela proscrição de Cristina, mas porque hoje o pacto democrático está quebrado, e isso é muito perigoso para o nosso país e para a nossa democracia", disse o ex-secretário de Direitos Humanos Horacio Pietragalla. "O que precisamos entender é que não se trata apenas de defender um líder partidário; hoje a institucionalidade do país está em risco."