QUESTÃO NUCLEAR

Geografia ajuda o Irã na "guerra do fim do mundo"

Troca de ameaças às vésperas de nova rodada de diplomacia

O Irã converteu um navio cargueiro em base avançada para lançar mísseis.
Poderio.O Irã converteu um navio cargueiro em base avançada para lançar mísseis.Créditos: Reprodução IRGC
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Depois de Gaza, da Cisjordânia, do Líbano e da Síria, todos os caminhos levam a Teerã.

Ao menos assim o Irã é visto por Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel. Em setembro do ano passado, em um discurso nas Nações Unidas, ele apresentou dois mapas.

Um, "abençoado", mostra Israel e o que ele chamou de "parceiros árabes" formando uma ponte terrestre entre a Ásia e Europa.

Os "parceiros árabes" que estavam no mapa eram o Egito, a Jordânia, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Barein.

Destes países, só a Arábia Saudita ainda não normalizou relações com Tel Aviv, no âmbito dos chamados Acordos de Abraão, através dos quais os Estados Unidos promoveram o reatamento de Israel com Barein, os EAU e posteriormente Sudão e Marrocos.

Um dos motivos do ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, aliás, foi evitar o enfraquecimento da causa palestina pela adesão da Arábia Saudita ao projeto originado no primeiro governo Trump.

O "arco maligno do Irã", conforme descrito por Netanyahu, incluía então Líbano, Síria, Iraque, Irã e os houthis do Iêmen.

Para o Irã, trata-se do Arco da Resistência à presença dos Estados Unidos, através de Israel, ditando as regras no Oriente Médio.

É por isso que Israel e o Irã consideram um ao outro "ameaças existenciais".

Bibi enfatizou:

Temos todos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que o Irã nunca tenha armas nucleares

Desde que Donald Trump voltou à Casa Branca, em 20 de janeiro de 2025, ele retomou negociações com o Irã sobre a questão nuclear.

As condições são muito mais duras: o Irã seria proibido de fazer qualquer enriquecimento de urânio, o que rejeitou de pronto.

Nesta semana, haverá uma sexta rodada de conversas em Omã, um país do Golfo Pérsico que mantém boas relações com Teerã.

Retórica de guerra

Trump, dizendo-se pessimista sobre as conversas, tem dito que a alternativa é um ataque militar ao Irã.

O ministro da Defesa do Irã, Aziz Nasirzadeh, respondeu:

Algumas autoridades do outro lado ameaçam entrar em conflito se as negociações não derem frutos. Se um conflito nos for imposto... todas as bases estadunidenses estão ao nosso alcance e as atacaremos com ousadia nos países anfitriões.

Os EUA dispõem de instalações militares no Catar, Barein, Kuwait, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Síria e Iraque, além de Israel.

O Irã, por sua vez, tem mísseis de longo alcance que podem atingir todos estes países.

Neste caso, a geografia favorece Teerã.

O país tem condições militares de fechar o estreito de Ormuz. De acordo com dados oficiais dos EUA, em 2022 passaram pelo estreito 20,8 milhões de barris de petróleo por dia, ou 21% do consumo global. Também passa em navios pelo estreito o GLP exportado por países do Golfo Pérsico.

Um conflito regional de longo prazo causaria um colapso na economia do planeta.

A Marinha do Irã não tem condições de enfrentar a dos Estados Unidos, mas navios de guerra estadunidenses no Golfo Pérsico ficariam sujeitos a ataques com mísseis e drones iranianos.

A geografia favorece o Irã

Desde que o aiatolá Khomeini promoveu a revolução islâmica no Irã, em 1979, derrubando a monarquia pró-Ocidente, o Irã vive um cerco internacional. As primeiras sanções datam de novembro de 1979, depois da tomada de reféns na embaixada dos EUA em Teerã.

Suspensas depois de negociações, foram reimpostas em 1987 e desde então turbinadas. O Irã foi excluído, por exemplo, do sistema financeiro do Ocidente, o que dificulta o turismo.

Khomeini, com o slogan "nós podemos", pregava o desenvolvimento soberano de tecnologia.

Em 1980, o Irã foi atacado pelo Iraque de Saddam Hussein com apoio ocidental, numa guerra cruenta de oito anos que matou perto de meio milhão de pessoas, inclusive 100 mil civis.

Foi neste contexto que o país desenvolveu os mísseis que hoje pode usar para reagir a um ataque estadunidense. Também dispõe de drones e de barcos rápidos capazes de lançar mísseis.

Em recente discurso em Teerã, testemunhado por este repórter, o líder espiritual do Irã, Ali Khamenei, afirmou:

Uma grande indústria nuclear sem enriquecimento é praticamente inútil. Os EUA e o regime sionista devem saber que não conseguirão de forma alguma atingir seu principal objetivo de acabar com a indústria nuclear do Irã.

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