Convidado a dar uma entrevista por jornalistas brasileiros, o embaixador dos houthis em Teerã chegou ao hotel protegido por vários guarda-costas (veja imagens abaixo). Ele se apoiava em um cajado de madeira com uma águia entalhada no topo, justamente o símbolo dos Estados Unidos.
Na cintura, uma adaga curva, a jambiya, que na Península Arábica é símbolo de masculinidade e honra. O punhal eventualmente pode ser usado como instrumento de defesa, mas é mais uma peça ornamental que confere status ao usuário.
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Ele fez questão de lembrar que o café, tão consumido no Brasil, foi levado do Iêmen por colonizadores portugueses.
Denunciou outros líderes árabes: "Esses governantes não trabalham pelos interesses de seu povo, mas sim pelos interesses do colonialismo. [...] Mas essa realidade não durará e mudará, e o povo do mundo, se Deus quiser, dará sua posição e se levantará contra sua opressão e rejeitará essa hegemonia".
Na entrevista aos jornalistas Luiz Carlos Azenha (Revista Fórum), Leo Sobreira (Brasil 247), Nicolau Soares (Brasil de Fato) e Pedro Marin (Opera Mundi), Ebrahim Al-Dailami defendeu o martírio.
O Irã é o único país que reconhece oficialmente os houthis como governantes do Iêmen.
Em 31 de julho do ano passado, o líder do Hamas Ismail Haniya foi assassinado em Teerã por agentes a serviço de Israel.
Segundo o site Axios, uma bomba foi detonada à distância no quarto de um prédio residencial do governo, logo depois de Haniya participar da posse do novo presidente do Irã, Masoud Pezeshkian.
O episódio revelou a profunda penetração de agentes israelenses nos aparatos de segurança do Irã.
Apesar disso, o embaixador houthi Ebrahim Al-Dailami disse que não teme pela sua vida. Explicou fazendo citações religiosas:
"A questão palestina não é apenas uma questão islâmica, é também uma questão humana. É por isso que eu disse a vocês no início da reunião que valorizamos e apreciamos as posições dos países latino-americanos em relação à causa palestina. Isso é uma prova da sua humanidade e liberdade.
Por estarem na América Latina, devido à sua proximidade com os Estados Unidos, vocês conhecem a extensão dos crimes, da brutalidade e da agressão dos Estados Unidos da América. Vocês sabem disso melhor do que outros.
Além disso, há as posições vergonhosas e infames de alguns países islâmicos, como resultado do fato de que os governantes desses países árabes e islâmicos são, infelizmente, traidores, agentes trazidos pelo colonialismo para governar esses países. Você sabe que não há democracia nesses países, alguns árabes e islâmicos, e não há eleições sérias e reais. Pelo contrário, quem governa esses países é um grupo de espiões. Não há eleições e não há liberdade".
Governos contra a "vontade do povo"
"Eu lhes digo que esses governantes são espiões, não apenas agentes. Esses governantes não surgiram da vontade do povo. Eles surgiram por meio de planos, conspirações e operações de inteligência realizadas pelo colonialismo. Isso não acontece apenas em países árabes e islâmicos, mas também em alguns países latino-americanos. Há governantes espiões, e na Ásia e na África também; em todos os lugares.
Esses governantes não trabalham pelos interesses de seu povo, mas sim pelos interesses do colonialismo. Na verdade, não gostamos ou desgostamos do uso do termo colonialismo, mas preferimos o termo “estados imperialistas”. Mas essa realidade não durará e mudará, e o povo do mundo, se Deus quiser, dará sua posição e se levantará contra sua opressão e rejeitará essa hegemonia. A Palestina será livre. E Israel desaparecerá".
Assassinato em Teerã
Luiz Carlos Azenha: Houve o assassinato de um líder sênior do Hamas, Ismail Haniyeh, aqui no Irã. Você não se preocupa com a sua segurança pessoal?
Primeiro, o Irã é um país forte e grande, com grande segurança. A segunda coisa é que estamos sempre prontos, somos guerreiros e não tememos ninguém além de Deus Todo-Poderoso.
Outra coisa: nosso sangue não é mais precioso que o sangue dos palestinos. Temos um provérbio no Iêmen que diz: "Tudo o que desce do céu inevitavelmente atingirá a terra". Isso significa que o destino – a ordem de Deus – está decidida. Diz também um versículo do Alcorão: "Quando chegar a sua hora, eles não a adiarão nem uma hora, nem a adiantarão".
E outro versículo: “E com Ele estão as chaves do invisível. Ninguém as conhece, exceto Ele. E Ele sabe o que está na terra e no mar. Nenhuma folha cai sem que Ele saiba. E não há grão algum nas trevas da terra, nem coisa úmida ou seca que não esteja escrita em um livro claro.”
O Comandante dos Fiéis e Mestre dos Guardiões, Imam Ali (que a paz esteja com ele), diz: “Saibam que sua vida, enquanto vocês são oprimidos, é morte, e sua morte, enquanto vocês são vitoriosos, é vida.” Isso significa que se vocês estão vivos, mas são humilhados, isso é morte. Isso não é vida. Se vocês estão vivos, mas oprimidos, isso é morte.
A vida está na sua morte como guerreiros, o que significa que vocês vivem quando são martirizados e derrotam e conquistam seu inimigo com seu martírio. O Imam Ali, que a paz esteja com ele, também diz: “O mujahid [combatente] não deve dormir muito, mas sim permanecer acordado e alerta e não dormir, porque se ele dormir, seu inimigo não dormirá.”
O inimigo e os inimigos sabem que quando eles nos atacarem, não ficaremos de braços cruzados, mas responderemos ao ataque. E quando eles matarem alguns de nós, nós mataremos alguns deles.
Deus Todo-Poderoso diz: “Portanto, quem quer que vos ataque, atacai-o na mesma proporção em que ele vos atacar.” Este é o Alcorão. O mais importante aqui é que não somos nós que iniciamos a agressão. O Alcorão exige que não iniciemos a agressão, isto é, que não iniciemos a agressão contra ninguém, exceto aquele que nos atacou.
*A Fórum enviou repórter a Teerã a convite do Instituto Paz e Justiça e da Fundação Khayyam, ligados ao governo local.