Numa entrevista coletiva na última quarta-feira, o primeiro-ministro de Israel Benjamim Netanyahu, condenado por genocídio pelo Tribunal Penal Internacional de Haia, admitiu pela primeira vez que incentivou o financiamento do Hamas com o objetivo, segundo afirmou, de dividir a causa palestina.
"A política que permitiu ao Catar transferir dinheiro para Gaza foi aceita unanimemente pelo gabinete de segurança", disse ele em sua primeira entrevista coletiva em cinco meses , antes de acrescentar sem rodeios: "Por que isso foi feito? Porque queríamos manter o Hamas e a Autoridade Nacional Palestina (ANP) divididos".
"A transferência do dinheiro para o Hamas foi feita por recomendação do Shin Bet e do Mossad. Houve muita discussão sobre isso. Era uma pequena parte, uma pequena porcentagem" do financiamento do grupo islâmico, disse Netanyahu.
Netanyahu sempre negou essa ajuda ao grupo que hoje ele demoniza e responsabiliza pelo genocídio que está cometendo em Gaza e que o torna um pária em vários países signatários do TPI (Brasil inclusive), onde pode ser preso se puser os pés.
O extermínio de dezenas de milhares de palestinos, 70% deles mulheres e crianças, segue em frente, com a desculpa de que Israel pretende exterminar o Hamas, o mesmo Hamas que, somente na última quarta-feira, Netanyahu admitiu que ajudou a fortalecer com a injeção de milhões de dólares do Qatar.
O genocídio continua
Um ataque aéreo israelense em Gaza atingiu a casa de uma médica e matou nove de seus 10 filhos, diz o hospital onde ela trabalha na cidade de Khan Younis.
O hospital Nasser informou que um dos filhos da Dra. Alaa al-Najjar e seu marido ficaram feridos, mas sobreviveram. Graeme Groom, cirurgião britânico que trabalha no hospital, disse ter operado o filho de 11 anos que sobreviveu.
Um vídeo compartilhado pelo diretor do Ministério da Saúde administrado pelo Hamas e verificado pela BBC mostrou pequenos corpos queimados sendo retirados dos escombros de um ataque em Khan Younis.
O exército israelense disse que sua aeronave atingiu "vários suspeitos" em Khan Younis na sexta-feira, e "a alegação sobre danos a civis não envolvidos está sob revisão".
Em uma declaração geral no sábado, a IDF disse que atingiu mais de 100 alvos em Gaza no último dia.
O Ministério da Saúde informou que pelo menos 74 pessoas foram mortas pelos militares israelenses nas 24 horas anteriores ao meio-dia de sábado.
ONU
Na sexta-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que a população de Gaza estava passando pelo que pode ser "a fase mais cruel" da guerra e denunciou o bloqueio israelense à ajuda humanitária imposto em março.
Israel suspendeu parcialmente o bloqueio no início desta semana. O órgão militar israelense Cogat informou que mais 83 caminhões transportando farinha, alimentos, equipamentos médicos e medicamentos entraram em Gaza na sexta-feira.
A ONU tem dito repetidamente que a quantidade de ajuda que entra não é suficiente para os 2,1 milhões de pessoas do território — dizendo que são necessários entre 500 e 600 caminhões por dia — e pediu que Israel permita a entrada de muito mais.
A quantidade limitada de alimentos que chegou a Gaza esta semana provocou cenas caóticas, com saqueadores armados atacando um comboio de ajuda humanitária e palestinos se aglomerando do lado de fora de padarias em uma tentativa desesperada de obter pão.
Uma avaliação apoiada pela ONU neste mês disse que a população de Gaza estava em "risco crítico" de fome.
Moradores de Gaza disseram à BBC que não têm comida e que mães desnutridas não conseguem amamentar seus bebês.
A escassez crônica de água também está piorando, pois as usinas de dessalinização e higiene estão ficando sem combustível, e a crescente ofensiva militar de Israel causa novas ondas de deslocamento.
Pelo menos 53.901 pessoas, incluindo pelo menos 16.500 crianças, foram mortas em Gaza desde então, de acordo com o Ministério da Saúde do território.
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Com informações do Huffington Post e da BBC World.