Donald Trump aproveitou a visita do presidente da África do Sul à Casa Branca, Cyril Ramaphosa, para vender uma teoria de conspiração sem base na realidade sobre "genocídio branco" naquele país.
As notícias mentirosas circulam em grupos de extrema-direita ligados aos supremacistas brancos e ganharam tração com apoio de Elon Musk, um sul africano cuja família teve laços com o regime racista do apartheid.
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Além de servir aos interesses de Israel, país formalmente acusado de genocídio em Gaza pela África do Sul, Trump tem usado suas aparições no Salão Oval para distrair a opinião pública de sinais espantosos diante da economia dos Estados Unidos.
Resumindo grosseiramente: os investidores estão exigindo mais e mais dinheiro para financiar a dívida estadunidense.
Isso se traduz no aumento do retorno (yield) exigido para comprar títulos do Tesouro dos EUA, historicamente considerados o investimento mais seguro do planeta.
2008, de novo?
Na quinta-feira 22 o retorno dos títulos do Tesouro com vencimento em 30 anos bateu em 5,15%, antes de recuar. Em 2007, antes da implosão do mercado financeiro, a taxa chegou a 5,18%.
Não é um fenômeno exclusivo dos Estados Unidos: os papéis bancados por governos do Japão e Alemanha também experimentaram queda nos últimos dias.
Na semana passada, a agência de crédito Moody's reduziu a classificação dos papéis dos EUA de Aaa para Aa1, por causa da dívida estadunidense de U$ 34 trilhões.
Nesta semana, a maioria republicana na Câmara aprovou o que Trump batizou de "grande e bonita lei dos impostos", que basicamente prevê transferência de renda dos mais pobres -- na forma de cortes em programas sociais -- para os endinheirados.
A agência do Congresso que analisa o orçamento prevê que a lei, agora no Senado, vai acrescentar U$ 3,8 trilhões à dívida estadunidense.
A conta para os mais pobres
Só neste ano fiscal, os EUA já pagaram U$ 684 bilhões em juros.
Por terem a moeda de referência, os EUA podem simplesmente imprimir dólares.
Porém, o custo crescente de manter papéis do Tesouro no mercado significa que o estadunidense comum vai pagar mais caro para financiar casa, automóvel e no cartão de crédito.
42% de toda a dívida dos Estados Unidos estão nas mãos de investidores domésticos; 25% com investidores estrangeiros.
Individualmente, o Japão é o país que tem o maior estoque de papéis dos EUA, cerca de 3%, ou U$ 1,1 trilhão. Reino Unido e China vem em seguida, mas os chineses estão lentamente se desfazendo dos papéis -- em fevereiro deste ano, o estoque foi o menor desde 2009.
É o sinal piscando em vermelho sobre os títulos do Tesouro dos EUA que causa boa parte do nervosismo do mercado, mesmo depois de Trump recuar no tarifaço comercial.
Enquanto isso...
De olho no próprio bolso, o ocupante da Casa Branca vai jantar hoje com os 220 maiores investidores em sua moeda meme, depois de "leiloar" digitalmente os assentos.
De acordo com a Bloomberg, desde o início da campanha eleitoral no ano passado a fortuna da família Trump mais que dobrou, para U$ 5,4 bilhões, com futuros negócios garantidos em várias partes do mundo, inclusive na Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos, que o ocupante da Casa Branca "privilegiou" em sua primeira viagem internacional.
Os futuros negócios imobiliários da família se estendem à Sérvia, Albânia, Vietnã e Índia.
O jantar desta noite é apenas mais uma oportunidade de negócios, em que o acesso ao presidente dos Estados Unidos foi vendido no "livre mercado": o investimento médio dos 220 participantes do evento na moeda meme de Trump foi de U$ 1,7 milhão.
De acordo com a Forbes, só o investimento do bilionário Justin Sun -- nascido na China mas cidadão do refúgio fiscal de São Cristovão e Neves, no Caribe -- em criptomoedas promovidas por Trump já rendeu à família U$ 400 milhões.