Nesta semana, Donald Trump foi ao Oriente Médio e visitou a Arábia Saudita e o Qatar. As monarquias do Golfo sempre mantiveram boas relações com o republicano. Mas a visita de Trump ao Oriente Médio foi marcada por uma ausência: ele não visitou Israel.
A ausência do neofascista foi notada com preocupação por aliados sionistas. O jornal Israel Hayom informou que o ex-presidente estaria "furioso" com Netanyahu, a quem acusa de protelar decisões estratégicas importantes, em especial sobre o Irã.
O atrito incluiria ainda uma suposta tentativa israelense de pressionar o ex-conselheiro de Segurança Nacional Mike Waltz a apoiar uma intervenção militar contra Teerã.
Na imprensa internacional, começaram a pipocar notícias de que talvez Trump estivesse pensando até em reconhecer um estado palestino. Mas isso é verdade?
Os sinais de Trump
Nas últimas semanas, o governo dos EUA fez uma demonstração de força na região, negociando com diferentes líderes antissionistas.
Foi negociada diretamente com o Hamas a libertação de um refém norte-americano, Edan Alexander, de 21 anos, sem qualquer intermediação de Israel.
A libertação do refém ocorreu sem alarde, segundo fontes próximas à negociação, revelando uma abordagem unilateral por parte de Washington diante da crise na Faixa de Gaza.
O gesto foi interpretado por analistas como mais um sinal de distanciamento entre os EUA e o governo de Benjamin Netanyahu.
Ao mesmo tempo, veículos de imprensa de orientação ocidental, historicamente alinhados a posições sionistas — como Financial Times, The Economist e The Guardian — passaram a adotar um tom mais crítico em suas coberturas sobre o conflito e publicando editoriais contra o genocídio que ocorre em Gaza.
Na mesma semana, os Estados Unidos firmaram um acordo de cessar-fogo com os rebeldes Houthis no Iêmen. Pelo entendimento, o grupo iemenita interrompeu ataques a embarcações no Mar Vermelho, em Bab al-Mandab e no Golfo de Áden, enquanto os EUA cessaram os bombardeios no território controlado pelos Houthis.
O governo israelense reagiu, afirmando que pretende fortalecer sua autonomia militar e reduzir a dependência dos EUA em temas de defesa.
Paralelamente, Trump declarou que negocia com o Irã a possibilidade de aceitar o enriquecimento de urânio dentro de um novo acordo nuclear, afastando temporariamente a possibilidade de confronto direto com Teerã, o que também frustrou Israel.
Durante viagem para a Arábia Saudita, Israel teria pressionado o presidente e seus assessores para forçar Riade a reconhecer formalmente o Estado israelense — sem sucesso aparente.
Na mesma visita, Trump também se reuniu com o presidente da Síria, Ahmed al-Shaara, ex-combatente da Al Qaeda, e concordou em suspender sanções contra Damasco a pedido de Mohammed bin Salman e do presidente turco Recep Tayyip Erdogan.
Em seguida, Trump visitou o Qatar para fechar acordos econômicos e selar o recebimento do Boeing 747 avaliado em US$ 450 milhões, uma propina às abertas recebida pelo chefe da Casa Branca.
Ele também tem pressionado pela liberação de ajuda humanitária à Gaza, que está em situação de fome desde 2 de março.
Tudo isso frustrou os israelenses.
Ruptura ou reorganização?
Quando candidato, Trump afirmou que poderia acabar ou sair da OTAN caso seus membros não aumentassem os seus orçamentos militares e honrassem seu compromisso com o bloco militar hegemônico do Ocidente. As ameaças se seguiram e o resultado não foi a dissolução da OTAN, mas o seu fortalecimento com mais contribuições oriundas da Europa.
O mesmo vale para Israel neste momento. Trump é o mais sionista dos presidentes dos EUA nos últimos anos, sendo o mesmo sujeito que propôs a transformação de Gaza em uma faixa de resorts e o mesmo que mudou a embaixada de Israel para Jerusalém, que é capital da Palestina.
Além disso, o atual presidente recebeu doações bilionárias de sionistas para sua campanha presidencial, o que indica que ele ainda tem compromissos fortes com o sionismo estadunidense.
O que Trump faz ao negociar com os inimigos de Israel e estabelecer dominância na região, isolando Netanyahu, é tentar inverter a lógica das relações Washington-Tel Aviv no curto prazo.
Enquanto Biden atendia de maneira inconteste as demandas de Benjamin Netanyahu, terceirizando a política estadunidense para a região, Trump quer reinverter o papel. Quer mostrar que são os EUA que mandam em Israel e não o contrário. É uma mudança de política significativa? Sim. Mas não é um rompimento entre o sionismo e seu principal fiador e mantenedor.
Trump é um sionista radical. Todo o seu histórico como político indica isso. Acreditar no contrário é sonho molhado dos que se esqueceram de que os EUA não são confiáveis.