A China sinalizou na manhã desta quarta-feira (9) que não cederá aos ataques e ameaças na guerra comercial imposta por Donald Trump e anunciou uma taxação de 84% sobre os produtos importados dos EUA.
A medida é uma resposta a Trump, que elevou em mais 50%, a partir desta quarta, os impostos sobre produtos chineses, que acumulam taxas de 104% para serem distribuídos nos EUA.
O anúncio foi feito pelo Ministério das Finanças da China um dia após o governo Xi Jinping afirmar que o país irá até o fim na guerra comercial instalada por Trump.
"China vai elevar tarifas adicionais para 84% sobre produtos importados dos EUA", alertou a agência estatal chinesa Xinhua.
Em pronunciamento, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Lian Jin afirmou que "os EUA continuam impondo tarifas e exercendo pressão máxima sobre a China, que se opõe firmemente e jamais aceitará tal intimidação.
Ao comentar a entrada em vigor da taxação, que elevou em 104% os impostos aos produtos chineses nos EUA, Jin falou sobre o direito legítimo do povo chinês ao desenvolvimento não pode ser privado e que a soberania, a segurança e os interesses de desenvolvimento da China são invioláveis.
O porta-voz ainda ressaltou que a China continuará a tomar medidas resolutas e enérgicas para salvaguardar seus direitos e interesses legítimos.
"Se os EUA realmente buscam resolver a questão por meio do diálogo e da negociação, devem demonstrar uma atitude de igualdade, respeito e reciprocidade. Se os Estados Unidos estão determinados a travar uma guerra tarifária ou comercial, a China está pronta para lutar até o fim", afirmou o porta-voz do governo Jinping.
"Kissing my ass"
Em meio à guerra comercial declarada ao mundo com uma série de taxações, Donald Trump ironizou as tratativas com líderes de outras nações antes da entrada em vigor da tarifa de 104% aos produtos da China, em uma escalada da tensão global em torno dos impostos.
"Estou te falando, esses países estão nos ligando, beijando meu c*. Eles estão doidos para fazer um acordo. 'Por favor, por favor, senhor, me deixe fazer um acordo'", ironizou Trump em um jantar do Comitê Nacional Republicano no Congresso dos EUA nesta terça-feira (8).
A expressão "kissing my ass" foi traduzida de forma literal Nos EUA, a frase corresponde a "puxando meu saco" em expressão mais usada no português.
Em contrapartida, o governo chinês anunciou que a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (NRDC), principal responsável pelo planejamento econômico do país, vai acelerar um projeto de apoio ao setor privado.
"A NDRC afirmou em um comunicado que realizou uma reunião na terça-feira com cinco empresas privadas nacionais, incluindo a empresa de transporte por aplicativo Didi Chuxing e a fabricante de componentes de alta precisão e hardware inteligente Goertek, para solicitar suas opiniões e sugestões sobre o desenvolvimento econômico, bem como a resposta às tarifas adicionais dos EUA", diz a agência estatal Xinhua.
O governo chinês ainda não anunciou se fará nova retaliação aos EUA após Trump elevar a tarifa aos produtos chineses acima dos três dígitos.
No entanto, o governo chinês divulgou nesta quarta o "livro branco sobre as relações econômicas e comerciais entre China e EUA", um documento de 51 páginas que relata a posição histórica da China nas relações com o país governado hoje por Donald Trump.
Segundo a Xinhua, a divulgação do livro acontece em "um momento em que o crescente unilateralismo e protecionismo nos Estados Unidos têm impedido significativamente a cooperação econômica e comercial normal entre os dois países", diz a Xinhua.
"Desde o início do atrito comercial em 2018, os EUA impuseram tarifas sobre exportações chinesas no valor de mais de 500 bilhões de dólares americanos e têm implementado continuamente políticas destinadas a conter e reprimir a China. Recentemente, os Estados Unidos impuseram tarifas adicionais abrangentes sobre produtos chineses, incluindo tarifas que citam a questão do fentanil como pretexto, 'tarifas recíprocas' e um adicional de 50% sobre as tarifas existentes", diz a agência.
O livro revela ainda que "essas medidas — que revelam a natureza isolacionista e coercitiva da conduta dos EUA — são contrárias aos princípios da economia de mercado e do multilateralismo e terão sérias repercussões nas relações econômicas e comerciais entre a China e os EUA".
O documento também ressalta que a China sempre sustentou que as relações econômicas e comerciais com os EUA são mutuamente benéficas.
"Como dois grandes países em diferentes estágios de desenvolvimento, com sistemas econômicos distintos, é natural que a China e os Estados Unidos tenham diferenças e atritos em sua cooperação econômica e comercial. É crucial respeitar os interesses e as principais preocupações de cada um e encontrar soluções adequadas para resolver as questões por meio do diálogo e da consulta", diz o texto, disponibilizado na íntegra - leia aqui.
Reflexos no mercado
A bolsa de valores da China e de Hong Kong reagiram bem ao comportamento do governo Xi Jinping em relação à escalada da guerra comercial e fecharam em alta nesta quarta-feira, na contramão do mercado em todo o mundo.
Na abertura, alguns índices despencavam com queda superior a 4%. Ao longo da madrugada, as ações estabilizaram e, na China, o principal índice CSI 1000 fechou em alta de 2,21%. Já o Hang Seng, de Taiwan oscilou pra cima, fechando em 0,74%.
Em outros mercados no Oriente, a tendência de queda segue. O índice Nikkei, no Japão, caiu 3,78%, e o Kospi, na Coréia do Sul, fechou em queda de 1,97%.
Na Europa, as principais bolsas também abriram em queda. Veja os índices de abertura das principais bolsas europeias.
- DAX, da Alemanha, caía 1,31%;
- CAC 40, da França, caía 1,71%;
- FTSE 100, do Reino Unido, caía 1,66%;
- Itália 40, da Itália, caía 1,61%;
- IBEX 35, da Espanha, caía 1,38%;
- AEX, da Holanda, caía 1,82%;
- SMI, da Suíça, caía 3,12%.