Imaginar que um título como o deste texto fosse realidade, há alguns anos, exigiria uma boa dose de confiança na Revista Fórum.
Não se trata de algo sensacionalista.
Se você ou seus filhos não são vacinados, cuidado ao viajar para os Estados Unidos, especialmente se o destino é o Texas.
O sarampo, que chegou a ser eliminado no país, está a caminho de ser o "novo normal".
Dados da agência equivalente à secretaria estadual de saúde do Texas, da sexta-feira, 4 de abril, registram 481 casos de sarampo no estado desde janeiro, cinquenta e cinco dos quais exigiram internação. Uma criança não vacinada morreu.
471 casos aconteceram em pessoas sem registro de vacinação.
Isso mesmo: 97% dos casos aconteceram em pessoas não vacinadas.
Dentre as vítimas, 157 eram crianças de até 4 anos de idade.
Sarampo e Donald Trump
A maioria dos casos ocorreu no condado de Gaines: 315. Lá, Donald Trump teve 91% dos votos em 2024.
Depois de relutar por semanas, o novo czar da saúde dos Estados Unidos, Robert F. Kennedy Jr., finalmente recomendou a vacina, mas frisando que a decisão de vacinar ou não cabe aos pais.
No Brasil, apesar da negligência do governo Bolsonaro, retificada pelo Ministério da Saúde sob Nísia Trindade e agora Alexandre Padilha, foram registrados quatro casos de sarampo em 2024, todos importados do Paquistão, Reino Unido e Itália.
No Brasil, surtos não prosperaram justamente pela alta cobertura vacinal.
Hoje, o New York Times advertiu que surtos de sarampo podem se tornar o "novo normal" nos EUA, não apenas porque apoiadores de Trump rejeitam a vacinação.
Os Estados Unidos estão batendo em retirada da Organização Mundial da Saúde, no que foram seguidos pela Argentina.
A OMS administra 700 laboratórios que monitoram o sarampo em 164 países.
Isso pode enfraquecer o monitoramento da doença em escala global.
Além do Texas, já houve casos de sarampo em 2025 no Novo México, Oklahoma e Kansas, estados da mesma região.
Porém, como os estadunidenses viajam muito, o sarampo chegou a Ohio e Nova Jersey, com casos isolados em outros 13 estados e no Distrito de Columbia, onde fica a capital Washington.
Olavo de Carvalho chegou ao poder
O problema é que as taxas de vacinação contra a doença nos EUA jamais se recuperaram, desde o primeiro mandato de Donald Trump.
É preciso uma cobertura vacinal de 95% para proteger as comunidades do sarampo, mas em muitos locais ela está em 80% ou até menos.
Bebês e crianças não vacinadas são mais vulneráveis aos casos graves da doença.
Por isso, o alerta que aparece no título deste texto é real: infelizmente, no Brasil o movimento contra as vacinas é forte, impulsionado por setores do bolsonarismo.
Heloisa de Carvalho Martin Arribas, a filha mais velha de Olavo de Carvalho, chegou a acusar o pai de não ter vacinado os filhos contra o sarampo, colocando em risco a vida das crianças.
Olavo, o guru da família Bolsonaro, chegou a fazer uma gravação dizendo que uma campanha do Ministério da Saúde contra a rubéola causaria esterilização em massa de mulheres, "porque dentro desta vacina está colocada uma substância... um agente esterilizante".
Astrólogo, filósofo e mentiroso, os danos causados por Olavo de Carvalho -- inimigo do isolamento social e das vacinas durante a pandemia de Covid -- a seus seguidores ainda não foram computados.
Nos EUA, figuras tão exóticas quanto Olavo hoje ocupam cargos-chave nas instituições que deveriam zelar pela saúde pública.
Não há perspectiva de conter os focos de sarampo, especialmente nos bolsões do trumpismo. A possibilidade de viajantes provocarem novos surtos de sarampo ao redor do mundo cresce, inclusive no Brasil.