ÍNDIA

Guerra na Caxemira? Índia e Paquistão seguem em ritmo de provocação

Exército indiano ganha "liberdade de operar" para reagir ao ataque à Caxemira

Soldado paramilitar indiano patrulha uma área de mercado em Pahalgam, ao sul de Srinagar, em 29 de abril de 2025.
Soldado paramilitar indiano patrulha uma área de mercado em Pahalgam, ao sul de Srinagar, em 29 de abril de 2025.Créditos: TAUSEEF MUSTAFA / AFP
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O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, concedeu às Forças Armadas indianas "liberdade operacional total" para responder ao ataque mortal ocorrido na semana passada na região da Caxemira, segundo informou uma fonte do governo à AFP nesta terça-feira, após Nova Délhi culpar o Paquistão pelo atentado.

Uma semana após o ataque mais letal contra civis na região disputada em anos, Modi realizou uma reunião a portas fechadas com os chefes do Exército e da segurança nacional, durante a qual afirmou que as Forças Armadas têm "liberdade total para decidir o modo, os alvos e o momento da resposta ao ataque terrorista", disse a fonte governamental, que não estava autorizada a falar com a imprensa.

O governo divulgou imagens em vídeo de um Modi com semblante sério reunido com os chefes do Exército e com o ministro da Defesa, Rajnath Singh.

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Troca de tiros e drone abatido

Também nesta terça-feira, o Exército indiano afirmou que trocou tiros diversas vezes com tropas paquistanesas na Linha de Controle (LoC), a fronteira de fato na Caxemira, uma zona altamente militarizada nas montanhas do Himalaia.

As Forças Armadas do Paquistão não confirmaram os disparos, mas a rádio estatal de Islamabad informou que abateram um drone indiano, acusando a Índia de violar seu espaço aéreo. Não foi informado quando o incidente teria ocorrido, e Nova Délhi não comentou.

A Índia declarou que o "Exército do Paquistão recorreu a disparos não provocados de armas leves ao longo da Linha de Controle" da noite de segunda para terça-feira — sendo o quinto dia consecutivo de troca de tiros na região.

O Exército indiano disse que suas tropas "responderam de maneira medida e eficaz à provocação". Não há relatos de vítimas.

'Até os confins da Terra'

As relações entre os dois vizinhos com arsenal nuclear deterioraram-se drasticamente após a Índia acusar o Paquistão de apoiar o ataque ocorrido em 22 de abril na Caxemira administrada pela Índia, que matou 26 homens.

Islamabad rejeitou a acusação. Desde então, os dois países trocaram disparos, expulsaram cidadãos diplomáticos e fecharam a principal passagem de fronteira terrestre.

Na semana passada, Modi prometeu caçar os autores do atentado ocorrido no destino turístico de Pahalgam, bem como seus apoiadores.

"Digo ao mundo inteiro: a Índia irá identificar, rastrear e punir cada terrorista e cada um de seus financiadores", declarou na quinta-feira.

"Vamos persegui-los até os confins da Terra."

Essas declarações inflamadas despertaram temores de uma rápida escalada militar, com diversos países — incluindo a vizinha China — pedindo moderação e diálogo.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, conversou nesta terça-feira com o primeiro-ministro do Paquistão e o ministro das Relações Exteriores da Índia para expressar sua "profunda preocupação com a escalada das tensões", disse seu porta-voz.

O chefe da ONU "ressaltou a necessidade de evitar uma confrontação que possa ter consequências trágicas. Ofereceu seus bons ofícios para apoiar os esforços de desescalada", informou Stéphane Dujarric.

Conflito histórico

A Caxemira, de maioria muçulmana, está dividida entre a Índia e o Paquistão desde a independência do domínio britânico em 1947. Ambos reivindicam a região integralmente.

Rebeldes na parte administrada pela Índia conduzem uma insurgência desde 1989, exigindo independência ou a unificação com o Paquistão.

A polícia indiana divulgou cartazes de procurados com três suspeitos de envolvimento no ataque — dois paquistaneses e um indiano —, acusados de pertencer ao grupo Lashkar-e-Taiba, organização considerada terrorista pela ONU.

Uma recompensa de dois milhões de rúpias (cerca de US$ 23.500) foi anunciada para informações que levem à prisão de cada um deles. As autoridades realizaram detenções em massa em busca de possíveis cúmplices.

O pior ataque em anos na Caxemira indiana ocorreu em Pulwama, em 2019, quando um insurgente lançou um carro-bomba contra um comboio das forças de segurança, matando 40 e ferindo 35. Doze dias depois, caças indianos bombardearam território paquistanês.

Apelos por mediação

O Irã já ofereceu mediação e a Arábia Saudita declarou estar tentando "evitar uma escalada".

O presidente dos EUA, Donald Trump, minimizou as tensões, afirmando na sexta-feira que a disputa será "resolvida de um jeito ou de outro".

© Agence France-Presse

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