Cardeais de todo o mundo se reunirão sob os afrescos de Michelangelo na Capela Sistina, no dia 7 de maio, para eleger um novo líder da Igreja Católica após a morte do Papa Francisco.
Remontando à Idade Média — quando a ideia de soberanos eleitos era bastante revolucionária — a reunião, conhecida como conclave, possui um ar de mistério, já que todos os participantes juram segredo perpétuo.
O que sabemos sobre o processo:
Onde e quando
No dia 5 de maio (segunda-feira), dois dias antes do início do conclave, funcionários e autoridades envolvidos se reunirão às 17h30 (horário local) para assinar o juramento de sigilo.
No dia 7 de maio (quarta-feira), haverá uma missa especial às 10h na Basílica de São Pedro. O conclave começará às 16h30, após uma oração na Capela Paulina do Vaticano. Os cardeais caminharão em procissão até a Capela Sistina e prestarão juramento de sigilo. O conclave continuará até que um novo pontífice seja eleito.
Os cardeais vestirão roupas diferentes dependendo se pertencem à Igreja Latina ou Oriental. Os da Igreja Latina usarão "batina vermelha com faixa, roquete, mozeta, cruz peitoral com cordão vermelho e dourado, anel, solidéu e barrete". Já os da Igreja Oriental usarão "suas vestes corais próprias", segundo o Vaticano.
Cada cardeal usará um crachá de identificação como eleitor.
Embora o conclave mais longo da história tenha durado quase três anos (eleição de Gregório X, no século XIII), os encontros modernos duram poucos dias. Francisco e seu antecessor, Bento XVI, foram eleitos após dois dias de votação.
Quem participa
Apenas 133 dos 252 cardeais da Igreja devem participar do conclave, pois apenas os menores de 80 anos têm direito a voto. Havia 135 cardeais elegíveis, mas o Vaticano informou na terça-feira que dois não participarão por motivos de saúde.
A Arquidiocese de Valência, na Espanha, confirmou à AFP que o arcebispo emérito, cardeal Antonio Cañizares, é um dos ausentes. A maioria dos cardeais votantes — cerca de 80% — foi nomeada por Francisco, vindos de todas as partes do mundo, inclusive de regiões tradicionalmente sub-representadas.
Sigilo e segurança
A palavra "conclave" vem do latim cum clave ("com chave"), referindo-se ao isolamento total imposto aos cardeais durante a votação.
As deliberações ocorrem sob sigilo absoluto, sob pena de excomunhão imediata. O uso de smartphones ou acesso à internet é proibido, assim como o consumo de jornais, rádio ou TV.
Os cardeais permanecem na Casa Santa Marta até a eleição do novo papa. Contatos externos são permitidos apenas por "razões graves e urgentes", com aprovação de um comitê de quatro cardeais.
Somente os cardeais eleitores podem estar presentes nas sessões de votação, embora médicos, assistentes clericais e funcionários de apoio possam entrar em momentos distintos.
Como funciona a votação
São realizadas quatro votações por dia — duas pela manhã e duas à tarde — até que um candidato alcance dois terços dos votos, atualmente 89.
No fim de cada sessão, as cédulas são queimadas em um fogão especial. Com a adição de produtos químicos, a chaminé emite fumaça preta quando não há papa, ou branca quando um novo pontífice é escolhido.
Se após três dias não houver eleição, os cardeais fazem uma pausa para oração e conversas.
Qualquer homem católico adulto pode ser eleito papa, embora na prática quase sempre seja um cardeal. Cardeais doentes podem votar de seus aposentos dentro do Vaticano.
O que acontece depois
O candidato vencedor é questionado pelo Decano dos Cardeais se aceita o pontificado e, em caso afirmativo, que nome escolherá como papa.
Em seguida, ele se retira para o chamado "Quarto das Lágrimas" para vestir os paramentos papais — três tamanhos são deixados prontos com antecedência.
O novo líder dos 1,4 bilhão de católicos do mundo então surge na sacada com vista para a Praça de São Pedro, onde um cardeal anuncia: "Habemus Papam!" (Temos um papa!).
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