George Anthony Devolder Santos deu golpes variados ao longo de sua vida. Filho de imigrantes brasileiros, gay assumido, ele conseguiu um "milagre" em 2022 ao derrotar um democrata na disputa por um distrito eleitoral em Long Island, estado de Nova York.
Trumpista e bolsonarista assumido, parecia uma promessa de renovação navegando na oposição a Joe Biden -- onda que eventualmente levou Trump de volta à Casa Branca.
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Nesta sexta-feira, 25, no entanto, Santos chorou ao receber a sentença de 7 anos e 3 meses de cadeia da juíza Joanna Seybert.
Ninguém consegue dizer se foram lágrimas verdadeiras, uma vez que a própria juíza constatou: "Você se elegeu com suas palavras, a maioria das quais eram mentiras".
Castelo de cartas
Pouco depois de assumir o cargo em Washington, o castelo de cartas construído por George Santos começou a ruir, depois de reportagens do New York Times e de outros órgãos de mídia.
Alvo de investigação da promotoria de Nova York e do próprio Congresso, ele entrou para a História ao se tornar o sexto deputado expulso do Capitólio pelos colegas.
Além da pena de 7 anos e três meses, Santos terá de devolver U$ 578.752,94 aos cofres públicos.
A lista de acusações formais a ele é extensa, de acordo com a promotoria:
Santos apresentou relatórios fraudulentos à comissão de valores mobiliários, desviou fundos de doadores de campanha, roubou identidades, cobrou cartões de crédito sem autorização, obteve seguro-desemprego por meio de fraude e mentiu em relatórios à Câmara dos Representantes dos EUA.
Do Holocausto à tragédia do clube noturno
As mentiras políticas que o levaram à eleição deixaram claro tratar-se de um mitômano, mentiroso compulsivo: o bolsonarista tentou costurar sua história pessoal ao Holocausto, à tragédia do 11 de Setembro e ao ataque ao clube noturno gay de Orlando em que foram mortas 49 pessoas.
Santos também disse que tinha sido a estrela do time de vôlei universitário da faculdade e que se dedicou tanto ao esporte que havia colocado próteses nos dois joelhos. Tudo história da carochinha, assim como os empregos que ele teria tido na Goldman Sachs e no Citigroup -- formas que ele encontrou de se "vender" como um infalível ator do mercado financeiro.
John Durham, o promotor que chefiou as investigações, resumiu:
Hoje, George Santos foi finalmente responsabilizado pela montanha de mentiras, roubos e fraudes que perpetrou. Para o réu, era o dia do julgamento, e para suas muitas vítimas, incluindo doadores de campanha, partidos políticos, agências governamentais, órgãos eleitorais, seus próprios familiares e seus eleitores, é o dia da justiça.
Santos foi eleito na segunda tentativa de chegar ao Congresso, com 145.824 votos.
Toda sorte de golpe
A fraude eleitoral de Santos começou durante a campanha de 2022, quando ele e sua tesoureira Nancy Marks falsificaram informações junto à Comissão Eleitoral Federal (FEC) com o objetivo de qualificar a campanha a receber fundos partidários.
Santos simulou empréstimos de 11 familiares à sua campanha com o objetivo de atingir a meta de doações de 250 mil dólares de terceiros em um trimestre. O Partido Republicano se baseia em relatórios do FEC para garantir a viabilidade financeira de seus candidatos. Santos também mentiu que havia emprestado 500 mil dólares à própria campanha, quando tinha depositados em suas contas bancárias apenas U$ 8 mil.
Entre julho de 2020 e outubro de 2022, George Santos roubou informações pessoais de seus doadores genuínos de campanha, através das quais fez transferências de cartões de crédito, inclusive para uso pessoal. De acordo com a acusação, ele:
procurou vítimas que sabia serem idosos sofrendo de comprometimento ou declínio cognitivo
Na campanha de 2022, o candidato montou um esquema de doações que em tese seriam utilizadas para propaganda eleitoral. Dois doadores transferiram U$ 25 mil cada, mas George Santos desviou o dinheiro para gastos pessoais.
Durante a pandemia de covid, embora formalmente funcionário de uma empresa de investimentos baseada na Flórida, George Santos recebeu ilegalmente U$ 24 mil em seguro-desemprego.
O candidato também mentiu oficialmente e por escrito em sua declaração de bens: que recebeu U$ 750 mil em salários de sua própria empresa, a Devolder Organization LLC; que tinha recebido mais de U$ 1 milhão em dividendos da Devolder; que tinha mais de U$ 100 mil em sua conta bancária pessoal; que tinha mais de U$ 1 milhão em poupança. Era tudo mentira.
Apesar de todas estas acusações, duas semanas antes de ser cassado pelos próprios colegas na Câmara, George Santos recebeu uma comitiva de bolsonaristas em seu gabinete, liderada por Eduardo Bolsonaro.
A comitiva foi até Washington denunciar "perseguição" ao bolsonarismo no Brasil, a mesma estratégia adotada por Santos antes de se declarar culpado.