IMPERIALISMO

Macron quer "perdão" pelo colonialismo francês na África

Em visita ao Madagascar — onde os franceses mataram mais de 90 mil em um ano — Macron quer perdão em troca de arte roubada

Créditos: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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Durante uma visita a Madagascar nesta quinta-feira, o presidente francês Emmanuel Macron afirmou que deseja promover um caminho de "perdão" em relação à colonização francesa da ilha do Oceano Índico, incluindo a devolução de artefatos culturais levados durante o período colonial.

"Nosso presença aqui não é inocente, e nossa história foi escrita... com páginas profundamente dolorosas", disse Macron durante uma cerimônia de lembrança no antigo palácio real da capital, Antananarivo.

"Apenas vocês podem fazer esse caminho do perdão", afirmou ele, após visitar o palácio acompanhado da princesa Fenosoa Ralandison Ratsimamanga. "Mas estamos criando as condições para isso, tornando possível... o luto pelo que não está mais aqui."

Macron destacou o plano de devolução de diversos itens culturais levados da ilha por seus colonizadores franceses, incluindo o crânio de um rei decapitado em 1897 por tropas francesas e levado à França como troféu. "Esses restos humanos pertencem a este lugar, e a nenhum outro", declarou.

Madagascar, a quinta maior ilha do mundo, é conhecida por sua rica biodiversidade e recursos naturais, mas enfrenta altos índices de pobreza. O país foi colônia francesa do século XIX até conquistar sua independência em 1960.

O presidente francês propôs a criação de uma colaboração entre historiadores dos dois países para que "a verdade, a memória, a história e a reconciliação possam ver a luz do dia".

A proposta segue o modelo de comissões históricas já formadas entre a França e outros ex-territórios colonizados, como Camarões, Argélia, Senegal e Haiti.

© Agência France Presse

A revolta Malgaxe

A Revolta Malgaxe, deflagrada em 1947, foi uma das mais violentas insurreições contra o domínio colonial francês na África. Ocorreu em Madagascar, então colônia francesa desde 1896, e refletiu a crescente insatisfação popular diante da exploração econômica, repressão política e destruição de estruturas sociais e culturais locais pelo colonialismo francês.

O contexto do pós-Segunda Guerra Mundial alimentou o desejo de independência em várias colônias. Em Madagascar, esse sentimento foi canalizado principalmente pelo partido MDRM (Movimento Democrático pela Renovação Malgaxe), que, apesar de sua postura não-violenta, foi acusado pela França de instigar o levante.

A repressão foi brutal: o exército francês matou entre 80 mil e 90 mil malgaxes em 1947, segundo estimativas diversas, numa tentativa de esmagar a revolta e restabelecer a ordem colonial.

A insurreição expôs as profundas tensões entre colonizadores e colonizados, além de revelar o fracasso da política de “assimilação” da França, que prometia cidadania plena mas mantinha os malgaxes em situação de subordinação.

O impacto do colonialismo francês no país foi devastador: além da violência e exploração econômica, deixou um legado de desigualdade, ruptura cultural e dependência política que perdurou mesmo após a independência, conquistada apenas em 1960.

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