O Sul da Ásia está em tensão total: dois países irmãos, Índia e Paquistão, entram novamente em rota de conflito por conta da região disputada da Caxemira.
Nesta quarta-feira (23), um ataque terrorista deixou 26 civis mortos e outros 20 feridos na cidade de Pahalgam, na Caxemira. A autoria foi reivindicada pelo grupo islâmico Lashkar-e-Taiba (LeT).
O grupo reivindica os ataques ao parlamento indiano em 2001, os bombardeios de 2005 em Délhi, os fatais tiroteios de Mumbai em 2008 e o atentado em Pune que matou 18 pessoas.
A Índia acusa o LeT de ser um grupo apoiado pelo Paquistão, que nega as conexões. O ataque recente à Caxemira fez com que todas as alas da política indiana — incluindo a oposição — se voltassem contra o vizinho muçulmano.
A Índia anunciou o corte das águas do Rio Indo, que abastece o Paquistão, que retaliou: "será considerado um ato de guerra", fechando o seu espaço aéreo. É um dos momentos de maior tensão entre os países desde a guerra de 1999.
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, fez um forte discurso nesta quarta.
"Todos os esforços serão feitos para garantir que a justiça seja feita. Toda a nação permanece firme nesta missão", disse Modi, que ressaltou: "Inimigos do país ousaram atacar a alma da Índia. Chegou a hora de arrasar o que resta do refúgio do terror. A vontade de 1,4 bilhão quebrará a espinha dos mestres do terror", completou.
Tensão por lei de propriedades
Na semana anterior, uma série de protestos havia ocorrido na Caxemira, de maioria muçulmana, porque o governo Modi (ligado a movimentos de extrema direita hindu) aprovou uma lei que mudava drasticamente a política de propriedades religiosas (Waqf), o que causou insatisfação na população islâmica da região.
Simultaneamente, foi relatado que um dos terroristas responsáveis pelo ataque a Pahalgam disse que seu tiro era na direção de Modi ao atacar uma turista indiana que havia vindo de outra região do país para visitar a Caxemira.
O histórico relacionamento conflituoso entre a Índia e o Paquistão por conta da Caxemira remonta a 1947, ano de fundação de ambos os países, e é o motivo pelo qual ambos possuem bombas nucleares.
Ainda que um conflito não se inicie neste momento, o escalonamento de tensões entre a Índia e o Paquistão é motivo de preocupação para todo o mundo.
A origem do conflito
Quando o Império Britânico se retirou da Índia, foi criada a divisão entre a Índia (de maioria hindu) e o Paquistão (de maioria muçulmana).
Os principados autônomos, como a Caxemira, poderiam escolher com qual país se unir. O marajá da Caxemira, Hari Singh, hesitou entre os dois lados, mas acabou optando pela Índia após uma invasão de tribos apoiadas pelo Paquistão.
Isso deu início à Primeira Guerra Indo-Paquistanesa (1947–1948), que terminou com a intervenção da ONU e o estabelecimento da Linha de Controle, dividindo a Caxemira entre os dois países — mas sem resolver a disputa.
A Segunda Guerra ocorreu em 1965, quando o Paquistão tentou fomentar uma rebelião muçulmana no lado indiano, mas foi repelido.
A mais recente guerra com teatro na Caxemira ocorreu em 1999, em Kargil, já após ambos os países testarem armas nucleares em 1998. Tropas paquistanesas disfarçadas de insurgentes cruzaram a Linha de Controle e ocuparam posições estratégicas.
A Índia reagiu com força, retomando o controle após semanas de intensos combates. A comunidade internacional pressionou pelo recuo paquistanês, e o conflito terminou com a vitória militar da Índia.
Atualmente, a região de Jammu e Caxemira controlada pela Índia, é composta por cerca de 60% de muçulmanos e 30% de hindus, com outras minorias etnorreligiosas como sikhs e budistas também existindo na religião.
O Paquistão identifica que a região deve ser de seu controle e é acusado de financiar grupos de insurgência islâmicos para promover instabilidade na Caxemira e na Índia. O país, por sua vez, nega atividades do tipo.