CATOLICISMO

Conclave: Vaticano se tornará uma fortaleza e cardeal que vazar informações sofrerá pena grave

Segurança será uma das preocupações principais da Igreja no conclave que definirá sucessor de Francisco

Vaticano se tornará fortaleza
Vaticano se tornará fortalezaCréditos: Domínio Público
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Vinte anos após proibir celulares em um conclave, o Vaticano enfrenta um novo desafio em 2025: eleger um papa sob o olhar implacável das tecnologias digitais.

O falecimento de Francisco deu início à contagem regressiva para a escolha do novo pontífice, com atenção redobrada à integridade dos cardeais e ao sigilo absoluto — ameaçado agora por inteligência artificial, drones, microfones invisíveis e redes sociais.

As medidas de segurança incluem bloqueadores de sinal nas áreas onde os cardeais se hospedam e votam. O objetivo é impedir transmissões por rádio frequência, mesmo se algum dispositivo for introduzido clandestinamente. A ideia é transformar o Vaticano em uma verdadeira fortaleza.

Inspeções com detectores avançados garantem que nenhum aparelho eletrônico escape ao controle. Cada indivíduo autorizado a entrar nas áreas do conclave passa por múltiplas checagens rigorosas.

Satélites modernos captam imagens com resolução milimétrica. Sistemas de IA interpretam *leitura labial à distância*. Para proteger o sigilo, as janelas dos locais do conclave são vedadas com película opaca e o acesso dos cardeais às janelas é restrito.

Com apenas 0,44 km², a Cidade do Vaticano se transforma em uma fortaleza durante o conclave. São mais de 650 câmeras, monitoradas por um centro subterrâneo. A Gendarmaria Vaticana atua com armamento moderno ao lado da tradicional Guarda Suíça.

A expectativa é que cerca de 200 mil pessoas se concentrem na Praça São Pedro com o anúncio do novo papa. Por isso, forças internacionais colaboram com a segurança local, diante de um dos eventos mais simbólicos da Igreja Católica.

Caso um dos cardeais votantes vaze alguma informação do Conclave, ele pode ser preso no Vaticano e excomungado do catolicismo.

Conclave - como será a votação 

Entre os 135 cardeais com direito a voto na eleição do novo pontífice, 108 — cerca de 80% — foram nomeados pelo próprio Francisco ao longo de seus 12 anos de pontificado, o que indica forte influência do argentino na escolha de seu sucessor.

A composição atual do Colégio Cardinalício revela uma mudança estratégica no centro de poder da Igreja. Francisco buscou descentralizar a liderança católica, reduzindo a histórica predominância europeia. Em 2013, os cardeais europeus representavam 56% dos eleitores. Em 2025, esse número caiu para 39,2%. A América Latina e do Norte têm hoje 37 eleitores, a Ásia conta com 23, a África com 18 e a Oceania com 4. No total, 71 países estarão representados na votação.

Francisco também ampliou o número de cardeais eleitores, elevando o limite tradicional de 120 para 135. Para a escolha do novo papa, será necessário o apoio de ao menos dois terços dos votantes — ou seja, 90 votos.

Segundo levantamento recente do jornal britânico Sunday Times, apenas 4 dos cardeais são considerados totalmente conservadores. Outros 47 têm perfil conservador moderado. Por outro lado, 17 são claramente progressistas e 45 demonstram inclinação reformista. Os demais 25 foram classificados como moderados ou de perfil ambíguo. O quadro sugere uma maioria favorável à continuidade das reformas promovidas por Francisco, especialmente no campo da descentralização, abertura ao diálogo e maior inclusão.

Ainda assim, há margem para surpresa. O processo de escolha é marcado por articulações discretas e decisões tomadas a portas fechadas, onde fatores como equilíbrio geopolítico, carisma pessoal e capacidade de governança pesam tanto quanto a inclinação teológica.

Entre os 135 cardeais eleitores, 27 foram indicados por papas anteriores: 22 por Bento XVI e 5 por João Paulo II. O Brasil, maior nação católica do mundo, terá sete representantes no conclave, incluindo nomes influentes como os cardeais João Braz de Aviz e Odilo Pedro Scherer — ambos nomeados por Francisco.

Conclave - quem são os favoritos

Com a Igreja Católica prestes a escolher um novo papa, os bastidores do conclave revelam articulações intensas entre blocos conservadores, moderados e reformistas. Entre os nomes mais cotados, um se destaca não apenas pela proximidade com o falecido papa Francisco, mas também por simbolizar o espírito global e missionário que ele buscou imprimir à Igreja: o cardeal Luis Antonio Tagle, das Filipinas.

Filho de pai filipino e mãe descendente de imigrantes chineses, Tagle personifica a diversidade e a abertura cultural que caracterizam a nova geopolítica católica. Ex-arcebispo de Manila e atual prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, o cardeal é conhecido por seu carisma, perfil pastoral e defesa da sinodalidade — conceito central nas reformas de Francisco. Sua eleição enviaria uma mensagem clara de continuidade com o pontificado jesuíta, além de um sinal geopolítico de que o futuro da Igreja pode estar na Ásia.

Enquanto o camerlengo Kevin Farrell — responsável pela transição — comanda os preparativos, outros cardeais também despontam como possíveis sucessores. Entre eles estão nomes representando diferentes continentes e tendências dentro da Igreja.

Pietro Parolin (Itália) – Atual Secretário de Estado do Vaticano, é um diplomata experiente e articulador político, visto como figura moderada e capaz de manter o equilíbrio institucional.

Matteo Zuppi (Itália) – Arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana, tem atuação destacada em iniciativas de paz e é respeitado por alas diversas do clero.

Fridolin Ambongo (RDC) – Arcebispo de Kinshasa, defensor da justiça social e ambiental, é uma das vozes mais influentes do catolicismo africano, alinhado às causas de Francisco.

Robert Francis Prevost (EUA) – Prefeito do Dicastério para os Bispos, tem trajetória missionária na América Latina e é visto como um possível conciliador dentro da diversidade eclesial.

Jean-Marc Aveline (França) – Arcebispo de Marselha, tem papel central no diálogo com o Islã e encarna uma postura pastoral aberta ao mundo contemporâneo.

Mario Grech (Malta) – Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, é um nome fortemente associado à visão sinodal e reformista de Francisco.

Peter Turkson (Gana) – Ex-prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, é mencionado frequentemente como possível primeiro papa negro.

José Tolentino de Mendonça (Portugal) – Prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, teólogo e poeta, representa uma Igreja engajada no diálogo com as artes e o pensamento contemporâneo.

Leonardo Steiner (Brasil) – Arcebispo de Manaus e ativo defensor da Amazônia, é visto como expressão das preocupações socioambientais do pontificado de Francisco.

O conclave, que deve começar cerca de 20 dias após a morte do papa, será decisivo para definir se a Igreja seguirá no rumo da renovação ou se buscará retomar um caminho mais conservador. O mundo acompanha, atento, os sinais da fumaça branca.

 

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