Não foi necessário um milagre. Bastou um simples "boa noite" na sacada da Basílica de São Pedro, com um sotaque do sul global e um sorriso contido, para deixar claro que algo havia mudado no Vaticano. Papa Francisco não se destacou por grandes gestos, mas por atitudes simples que quebravam protocolos e traziam um tom mais humano à liderança papal.
Sua postura desconcertou a tradição, com gestos como o uso de um nariz de palhaço ou o ato de lavar os pés de imigrantes. Em vez de buscar espetáculo, Francisco mostrava uma liderança pautada pela proximidade e pela simplicidade. Optou por vestes simples, evitou símbolos de poder e fez escolhas que reforçavam uma imagem de humildade.
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1. Simplicidade e humildade
Desde seu início como papa, Francisco escolheu viver de forma simples. Abriu mão dos luxos tradicionais, como as vestes papais, e preferiu uma cruz de prata à de ouro. Seus sapatos negros e o anel papal reciclado foram símbolos de resistência à ostentação. Sua postura mais acessível foi uma tentativa de se distanciar da pompa da Cúria, adotando uma postura mais cristã que católica, evidenciada por ações como o uso de nariz de palhaço e a interação com imigrantes.
2. Compromisso com causas sociais e políticas
Papa Francisco se posicionou firmemente em defesa dos pobres, imigrantes e marginalizados. Em 2021, criticou as políticas de deportação do ex-presidente Donald Trump e alertou contra narrativas discriminatórias. Sua estética também refletia um posicionamento político, usando símbolos da cultura latino-americana para resgatar uma identidade muitas vezes marginalizada na Igreja. Além disso, em entrevista à rede argentina C5N, criticou a judicialização política no Brasil e defendeu a inocência de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
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Nos últimos meses de seu pontificado, o Papa Francisco fez duras críticas à política imigratória do ex-presidente Donald Trump. Em fevereiro, o pontífice publicou uma carta na qual condenava as deportações em massa promovidas pelo governo dos Estados Unidos.
3. Diálogo inter-religioso e ecumênico
O papa também incentivou o diálogo com religiões como o islamismo e o judaísmo e promovido a reconciliação entre os diferentes ramos do cristianismo.Em 2024, visitou uma mesquita no Azerbaijão, país de esmagadora maioria muçulmana, onde defendeu que Deus nunca deveria ser usado para justificar o fundamentalismo.
Em uma visita à periferia de Roma, o Papa Francisco também consolou uma criança que lhe perguntou se seu pai ateu estava no céu. Em sua resposta, o pontífice afirmou: "Somos todos filhos de Deus, inclusive aqueles que pertencem a outras religiões distantes".
4. Crítica ao capitalismo
Francisco se manifestou contra o consumismo, a desigualdade econômica e a lógica do lucro que prevalece sobre a dignidade humana. Em 2020, durante a pandemia de COVID-19, declarou que o mercado por si só não poderia resolver todos os problemas, desafiando o dogma neoliberal.
5. Preocupação ambiental
Sua encíclica Laudato Si’ (2015) foi um marco ao posicionar a Igreja Católica contra o modelo de desenvolvimento predatório, defendendo a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente.
6. Postura sobre temas sensíveis
Embora mantenha a doutrina católica, Francisco adotou uma postura mais acolhedora sobre temas como homossexualidade, divórcio e aborto. Ele tem enfatizado a escuta e a misericórdia, e já aceitou um lenço verde, símbolo da luta pelo aborto legal, de uma ativista.
7. Diplomacia e influência global
No campo internacional, Francisco tem atuado como mediador de conflitos e defensor dos direitos humanos. Em 2023, pediu um cessar-fogo em Gaza e a paz na Ucrânia. Seu gesto de solidariedade às crianças palestinas, no Natal, gerou controvérsia, mas também foi visto como um ato de denúncia contra o genocídio. Ele também pediu a libertação de reféns e acesso a ajuda humanitária durante a mensagem Urbi et Orbi, sendo ovacionado por milhares de fiéis.