GUERRA COMERCIAL

Trump anuncia tarifa de 10% nas exportações brasileiras para os EUA; mercado futuro desaba

Taxação brasileira está entre as menores anunciadas pela Casa Branca

Trump convidou um trabalhador de Detroit para dar apoio às controversas tarifas anunciadas por ele.
Jogada de marketing.Trump convidou um trabalhador de Detroit para dar apoio às controversas tarifas anunciadas por ele.Créditos: Reprodução CNN
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O presidente Donald Trump anunciou, em cerimônia na Casa Branca, que os Estados Unidos vão taxar em 10% as importações brasileiras.

Ele não deu detalhes se as tarifas serão aplicadas a todos os produtos brasileiros ou se haverá exceções.

De acordo com o presidente estadunidense, o Brasil hoje tem barreiras comerciais que equivalem a uma taxação de 10% nas importações que faz dos Estados Unidos.

As tarifas que serão aplicadas ao Brasil, a partir da meia-noite, estão entre as menores anunciadas hoje.

A taxação do Vietnã, por exemplo, será de 46%, a da China 34% e a de Taiwan 32%.

Às 20 horas de Brasília, os mercados futuros nos EUA desabavam: o índice Dow Jones perdia mais de 1.000 pontos e a Nasdaq, bolsa carregada de ações de tecnologia, perdia 4,2%. É um indício de que os mercados, que abrem na Ásia nas próximas horas, podem desabar.

As ações de empresas dos EUA que dependem de mercados internacionais afundaram, com a Apple perdendo 7% e a Nike 5%.

Trump batizou o anúncio de "Dia da Libertação", mas adversários sugerem que trata-se de um experimento que pode prejudicar o consumidor dos EUA.

No discurso em que anunciou tarifas generalizadas, Trump atacou aliados históricos dos Estados Unidos como se fossem hienas. Disse que um amigo "pode ser muito pior que um inimigo". Afirmou que os EUA estão sendo roubados por parceiros comerciais.

Ele se referiu a um período que teria sido o "dourado" dos Estados Unidos, entre 1789 e 1913, quando o país cobrava altas tarifas para proteger sua indústria.

Ao fazer o anúncio das tarifas, Trump não mencionou o Brasil como exemplo.

Escolheu os alvos. Segundo o presidente dos EUA, seu país cobra menos de 3% de tarifa na importação de motocicletas, mas a Tailândia cobra 60%, a Índia 70% e o Vietnã 75%.

Mencionou que 81% da frota de automóveis da Coreia do Sul é fabricada no próprio país, porcentagem que sobe para 94% no Japão.

Por isso, anunciou que todos os automóveis importados pelos EUA pagarão 25% de tarifa a partir da meia noite.

Jogada de marketing

Para dar apoio a ele, Trump chamou ao pódio um trabalhador da indústria automobilística de Detroit, que disse ter testemunhado ao longo de sua vida a destruição das fábricas locais.

O presidente dos EUA atacou o México e o Canadá, dizendo que os dois países são "mantidos" pelos Estados Unidos ao custo de U$ 500 bi anuais.

Os números oferecidos por Trump em geral são exagerados ou falsos.

Ele mostrou um estudo feito pelo governo sobre as barreiras comerciais no planeta.

Segundo o levantamento, os Estados Unidos pagariam taxas de 65% para exportar arroz para a China, de 50% a 513% para vender o produto na Coreia do Sul e de 700% para fazer o mesmo no Japão.

Sempre de acordo com o anúncio, os EUA darão um "desconto" nas tarifas recíprocas.

Pelo anunciado hoje, elas serão:

Camboja = 49%

Vietnã = 46%

Sri Lanka = 44%

Bangladesh = 37%

Tailândia = 36%

China = 34%

Indonésia e Taiwan = 32%

Suíça = 31%

África do Sul = 30%

Paquistão = 29%

Índia = 26%

Coreia do Sul = 25%

Japão e Malásia = 24%

União Europeia = 20%

Israel e Filipinas = 17%

Reino Unido, Austrália, Cingapura, Turquia, Chile, Colômbia e Brasil = 10%

Fazendeiros e operários

Em sua fala, Trump mirou em sua base eleitoral: os operários do Meio Oeste e os eleitores da zona rural, que o levaram de volta à Casa Branca.

Ele sugeriu que os cofres do Tesouro estadunidense ficarão cheios, sem mencionar que as tarifas serão pagas por importadores e possivelmente repassadas para o consumidor em forma de inflação.

Trump aposta na reindustrialização dos Estados Unidos e chegou a mencionar em seu discurso de hoje que os Estados Unidos são dependentes de antibióticos importados "para sobreviver".

Mencionou um estaleiro da China que produziria mais navios do que todos os estaleiros dos Estados Unidos.

Ele prometeu que a indústria voltará aos EUA para se livrar das tarifas e, com ela, os empregos "exportados".

A lista de países taxados com o mínimo de 10% divulgada pela Casa Branca inclui 180 parceiros comerciais dos EUA.

Os campeões de taxação serão Lesoto, na África, e o arquipélago de São Pedro e Miquelão -- controlado pela França, fica próximo do Canadá -- que pagarão 50% de tarifa sobre suas exportações para os EUA.

Porém, as tarifas combinadas impostas à China totalizam agora 54%, esclareceu o governo Trump.

*Texto atualizado para refletir reações do mercado futuro.

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