O Fórum Onze e Meia desta terça-feira (15) recebeu o economista Paulo Nogueira Jr. para comentar as principais questões econômicas do país e do mundo. Um dos pontos de destaque foi a forma de governo do presidente Donald Trump nos Estados Unidos, que vem travando uma guerra tarifária com diversos países, principalmente, com a China, e provocando uma "degradação" do país americano, de acordo com Nogueira.
Para o economista, o que está por trás das movimentações do governo americano em relação às tarifas é a "confusão do próprio governo que não tem visão clara do que faz e toma medidas agressivas", e depois é obrigado a voltar atrás. "Vou dizer que eu nunca vi um governo americano de nível tão baixo", avaliou Nogueira.
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"Eu tenho dito e vou repetir: eu acho que o Trump e sua equipe são sintoma da degradação dos Estados Unidos", declarou o economista. Ele ainda citou a frase "os Estados Unidos são o primeiro país que vai passar da barbárie à decadência sem conhecer a civilização", do escritor norte-americano Mark Twain.
"Eles estão em franca decadência. E essa decadência se expressa na maneira como o Trump se comporta. Eu nunca vi um presidente tão incompetente para tocar os interesses americanos", acrescentou Nogueira.
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O economista ainda avaliou que esse comportamento de Trump está causando uma desorientação, inclusive em pessoas no Brasil, que têm a economia dos EUA como referência. "Tem muita gente no Brasil que está desorientada, porque a referência deles são os Estados Unidos. E se os Estados Unidos começam a 'bater pino' pesadamente, como está batendo agora, fica aqui a camada dirigente brasileira completamente perplexa e desorientada. Mas perplexo, todo mundo está, né? A desorientação é fruto da ligação de muitos setores da sociedade brasileira, inclusive dentro do governo Lula. A desorientação é decorrente, para usar a frase do Armínio [Fraga], de que eles estão perdendo a 'estrela-guia do astrólogo'", comentou Nogueira.
Armínio Fraga é fiel servidor do status quo
Nogueira também falou sobre a declaração do economista e ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que defendeu congelar o salário mínimo por 6 anos. Ele destacou que Fraga sempre foi um "fiel servidor do status quo", que defende que o "ajuste fiscal tem que ser feito às custas de quem ganha menos". "Não se pode esperar nada diferente dele", destacou Nogueira.
"É um absurdo que o Brasil seja um país com renda altamente concentrada, como nós sabemos, uma das mais concentradas do mundo. E a política de valorização gradual do salário mínimo em termos reais é um instrumento importante para corrigir essa desigualdade", afirmou.
O economista ainda acrescentou que o Brasil não seria "tão atrasado em termos sociais se não tivesse a promoção constante de figuras como Armínio, que tem espaço extraordinário e vive dando palpite sobre tudo. É um sintoma das limitações da classe dirigente brasileira", declarou.
Situação atual da Europa
O economista ainda avaliou a situação da Europa, que sempre foi uma grande referência para seus livros, e afirmou que quando olha para o continente, não reconhece a "Europa de 30 e 40 anos atrás".
"Tudo indica uma espécie de americanização muito grande da cultura europeia e da política europeia, e essa americanização foi uma regressão, porque a Europa sempre foi muito mais avançada culturalmente do que são ou eram os Estados Unidos. Então, eles se nivelaram por baixo", afirmou Nogueira.
O economista acrescentou que, quando observa as atitudes de líderes políticos europeus, fica "abismado". "Há exceções, claro, mas se eu observo Alemanha, França, Inglaterra, outros países, é incompreensível que países tão desenvolvidos tenham lideranças tão medíocres, que criam tantos problemas para si e para outros países", analisou.
Nogueira afirmou, ainda, que a Europa vive o mesmo processo de declínio que atinge os Estados Unidos. "Então, o que você tem hoje é uma mudança imensa no mundo, que os focos principais de poder no mundo, que eram esse eixo Atlântico-Norte, estão em declínio".
Nesse cenário, ainda há um agravante "inexplicável", segundo Nogueiro, da política de Trump, que "decidiu agredir, hostilizar e até humilhar os seus aliados tradicionais", como Canadá e México.
"Eu não compreendo em que ajuda o projeto de "Make America Great Again" hostilizar dessa maneira alianças tradicionais dos Estados Unidos, realmente é muito difícil entender", disse Nogueira. Ele completou dizendo que o "baque" sofrido pela Europa demonstra que o continente não pode mais contar com a aliança dos Estados Unidos.
Confira a entrevista completa do economista Paulo Nogueira Jr. ao Fórum Onze e Meia
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