EUA

EUA chamam Panamá de “quintal” e consolidam sua Doutrina Monroe do século 21

"Vamos recuperar nosso quintal", disse o secretário de Defesa norte-americano, num movimento que o Global Times de nomina 'Doutrina Monroe do século 21'

Pete Hegseth, atual secretário de Defesa norte-americano.Créditos: Wikimedia Commons
Escrito en GLOBAL el

Os Estados Unidos, naquilo que o Global Times chama de “Doutrina Monroe do século 21”, têm intensificado a retórica imperialista sobre a América do Sul — e, de quebra, sobre o restante do mundo.

Após semanas de aumento nas tarifas de importação contra todos os países com que mantém relações comerciais — mas predominantemente para a China, cuja taxação final chegou a 125% —, o governo trumpista voltou a acusar a potência asiática de manter “uma presença muito grande no Hemisfério Ocidental”.

Desta vez, o ataque veio do secretário de Defesa norte-americano, Pete Hegseth, que fez declarações ofensivas sobre sua presença na América do Sul.

Em entrevista concedida à Fox News na última quarta-feira (9), Hegseth afirmou que a China representa uma ameaça ao Canal do Panamá e que os EUA devem retomar a influência sobre a região, que chamou de “seu quintal”.

“O governo Obama tirou os olhos da bola e deixou a China tomar toda a América do Sul e Central, com sua influência econômica e cultural, fazendo acordos com governos locais de má infraestrutura, vigilância e endividamento”, afirmou Hegseth. “O presidente Trump disse ‘já chega’: vamos recuperar nosso quintal”.

A Embaixada da China no Panamá reagiu à fala ofensiva em sua conta oficial na rede social X, afirmando que “a China nunca participou da gestão nem da operação do Canal do Panamá, tampouco interferiu em seus assuntos internos”.

“Por parte da China, sempre houve respeito à soberania do Panamá”, disse a nota oficial.

Em 2017, China e Panamá firmaram um acordo de cooperação bilateral para a construção conjunta de uma rota alternativa ao canal, com o objetivo de acelerar o desenvolvimento panamenho e estimular atividades de importação e exportação. Segundo o governo chinês, os EUA têm insistido numa retórica “sensacionalista da ‘teoria da ameaça chinesa’”, numa tentativa de sabotar a cooperação sino-panamenha em favor de seus próprios objetivos geopolíticos — e deixando exposta sua pretensão hegemônica.

“A China se concentra em levar benefícios reais à população local”, declarou a embaixada.

Doutrina Monroe do século 21?

A chamada Doutrina Monroe, que guiou a política externa dos EUA ao longo do século XIX, baseava-se no princípio do “destino manifesto” — uma ideologia propagada pelo então presidente James Monroe que, à primeira vista, defendia a não-interferência europeia nas Américas, sob o lema: “América para os americanos”.

Com o tempo, no entanto, a doutrina passou a ser reinterpretada como uma justificativa para a política expansionista dos Estados Unidos, sobretudo sobre os territórios latino-americanos.

No início do século XX, a doutrina foi apropriada por presidentes como Theodore Roosevelt, que a transformaram numa narrativa de “missão divina” para estender os domínios norte-americanos do Atlântico ao Pacífico, resultando na anexação de territórios após a guerra contra o México em 1846.

Ela também serviu de pretexto para intervenções militares na América Latina, como as ocupações de Cuba, Nicarágua e República Dominicana, e foi invocada reiteradamente durante os empreendimentos estadunidenses da Guerra Fria — então unida ao pretexto de “combate ao comunismo”.

Hoje, segundo o Global Times, os EUA voltam a recorrer à mesma doutrina, mascarando sua presença militar e econômica na região com o discurso da “ameaça chinesa”:

“Seja alegando a ‘presença militar da China’ ou associando de forma maliciosa a China ao Canal do Panamá, os EUA estão aplicando o velho truque do ‘ladrão gritando pega-ladrão’, tentando afastar a China da região”, afirma o jornal.

“O bullying praticado pelos EUA contra seus vizinhos continua até hoje, agora intensificado. A Doutrina Monroe é sinônimo da América atestando sua dominância sobre a região”, conclui.

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar