FOI A CHINA?

A bomba atômica financeira que amedrontou Trump

Investidores fogem do papel mais seguro do planeta

Pendurado no FMI, Milei segue na lista de adoradores de Donald Trump.
Abraço de afogados.Pendurado no FMI, Milei segue na lista de adoradores de Donald Trump.Créditos: Casa Branca
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Depois de bater no peito, anunciando o tarifaço global como se o mundo dependesse exclusivamente dos Estados Unidos, Donald Trump vem recuando. Nem tão rápido que pareça covardia, nem tão devagar que cause uma disparada da inflação e possível recessão em seu próprio país.

Os mercados financeiros mergulharam, assim como a popularidade do ocupante da Casa Branca. A China jogou pesado, demonstrando mais uma vez que joga o jogo de longo prazo.

O vice-presidente dos EUA, JD Vance, referiu-se aos chineses como "peasants", uma palavra que tem forte conotação preconceituosa em inglês -- seria como se Xi Jinping se referisse aos estadunidenses como "white trash", palavra que nos EUA define especialmente os pobres brancos das montanhas do Apalache, um bolsão de miséria do país.

Vance, obviamente, ignora que a China de hoje não é a mesma do século passado. O país lidera o planeta em vários setores de alta tecnologia, forma 600 mil engenheiros por ano e tem um mercado interno de quase 1,5 bilhão de consumidores.

Sinal vermelho piscou na Casa Branca

Porém, não foi nada disso que amedrontou Donald Trump. O ocupante da Casa Branca foi atenuando o confronto comercial que ele próprio iniciou por causa de um sinal de alerta que piscou fortemente em vermelho: os títulos do Tesouro dos Estados Unidos, com vencimento em dez anos, considerados o investimento mais seguro do planeta.

Estes papéis são aqueles nos quais os bancos se baseiam para definir os juros de empréstimos oferecidos a estadunidenses que querem comprar ou refinanciar a casa, o automóvel ou outros bens.

O capitalismo dos EUA gira em função de dívida acumulada. No quarto trimestre do ano passado, a dívida acumulada dos domicílios estava em mais de U$ 18 trilhões. O déficit do governo está em cerca de U$ 1,3 trilhão. 

A dívida do governo dos EUA equivale a 120% do PIB do país!

Em resumo, os Estados Unidos vivem no crédito e isso só é possível porque controlam a moeda de referência internacional e são o refúgio do dinheiro em tempos difíceis.

Qualquer aperto e os investidores correm para os títulos de 10 anos do Tesouro.

Porém, algo inusitado aconteceu no auge do plano milagreiro de Donald Trump: os investidores trocaram os títulos "infalíveis" dos EUA por papéis da Alemanha ou pelo ouro.

Nos últimos seis meses a onça de ouro teve valorização de quase 50%.

Dois dias depois de Donald Trump declarar "Dia da Libertação", o retorno esperado pelos investidores nos títulos do Tesouro de dez anos, conhecido como "yield",  era de 4%. Hoje está em 4,497%, um aumento espantoso para um mercado em que as medições são feitas em milésimos.

Quanto maior o valor do yield, mais frágil está o título.

O que isso significa? Que tem gente vendendo os títulos do Tesouro ou para quitar dívidas ou para buscar outro porto seguro.

É a mais dura ameaça ao castelo de cartas de dívidas no qual está baseada a economia dos EUA.

A China está ajudando?

Não há sinais concretos, mas apenas especulação, de que a China esteja por trás da recente volatilidade.

Os chineses são os maiores credores dos EUA, depois do Japão, mantendo em reserva cerca de U$ 760 bilhões em papéis do Tesouro.

Beijing já teve uma quantidade muito maior deste papéis, mas passou a diversificar, transferindo parte de suas reservas para o ouro.

Em tese, Xi Jinping poderia detonar uma bomba atômica contra Washington, vendendo em massa seus títulos do Tesouro e provocando desvalorização.

A consequência seria uma freada brusca na economia dos EUA, recessão local e provavelmente global.

O problema é que uma medida neste grau provavelmente afundaria a China junto, dado que as duas maiores economias do planeta ainda mantém um grau razoável de interdependência.

Pode parecer contraditório, mas o Partido Comunista da China é hoje um dos principais garantidores do capitalismo globalizado.

O certo é que Donald Trump deu um imenso tiro no pé, e por mais que os "spin doctors" a serviço da Casa Branca trabalhem -- doutores em dourar a pílula --, isso está ficando cada vez mais evidente.

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