MENSAGEM AO MUNDO

Os alertas feitos por Lula, Ramaphosa e Pedro Sánchez em artigo conjunto: "Ruptura"

Líderes do Brasil, África do Sul e Espanha se unem em crítica à "fragmentação" do mundo e em defesa do multilateralismo

Lula, Ramaphosa (África do Sul) e Pedro Sánchez (Espanha).Créditos: Ricardo Stuckert/Flickr/Divulgação
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Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Cyril Ramaphosa (África do Sul), além do presidente do governo da Espanha, Pedro Sánchez, publicaram nesta quinta-feira (6) um artigo conjunto intitulado "Unindo forças para superar desafios globais", no qual alertam sobre os riscos da fragmentação mundial e defendem o fortalecimento do multilateralismo. O texto foi publicado em diferentes idiomas e em diversos veículos de imprensa pelo mundo.

No artigo, Lula, Ramaphosa e Sánchez apontam que "o ano de 2025 será decisivo para o multilateralismo", destacando a urgência de soluções coordenadas diante de desigualdades crescentes, mudanças climáticas e desafios financeiros. Como contraponto às posturas de isolamento e rupturas promovidas por lideranças como Donald Trump, o artigo enfatiza que "nunca houve tanta necessidade de diálogo e cooperação global".

“O mundo está cada vez mais fragmentado, e é exatamente por essa razão que devemos redobrar os esforços para encontrar uma base comum”, escrevem. 

"A confiança no multilateralismo está sob tensão; e, no entanto, nunca houve tanta necessidade de diálogo e cooperação global. É preciso reafirmar que o multilateralismo, quando se reveste de ambição e se orienta à ação, continua sendo o veículo mais efetivo para abordar desafios compartilhados e avançar em áreas de interesse comum", prosseguem. 

A publicação ocorre em um ano estratégico para as relações internacionais, quando os três países sediarão encontros fundamentais para o futuro da governança global: a 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento (FfD4), em Sevilha; a Cúpula do G20, em Joanesburgo; e a 30ª Conferência das Partes sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém. Para os mandatários, esses eventos representam "uma oportunidade única de estabelecer um caminho em direção a um mundo mais justo, inclusivo e sustentável".

Os presidentes criticam, ainda, a crescente desigualdade entre os países, mencionando que "muitos países em desenvolvimento sofrem com o peso insustentável de dívidas, espaços limitados de ação fiscal e barreiras que dificultam o acesso justo ao capital". Eles propõem avanços concretos, incluindo "mecanismos de financiamento inovadores" e "o aprimoramento da taxação da riqueza global".

A presidência sul-africana do G20 foi citada como uma oportunidade de priorizar a reforma da arquitetura financeira global, promovendo maior representatividade do Sul Global. Já a conferência de Sevilha buscará avanços em financiamento para o desenvolvimento sustentável.

A importância da COP30 em Belém também foi destacada no artigo. Os líderes apontam que a cúpula "realizada no coração da Amazônia" precisará garantir que os compromissos de financiamento climático sejam cumpridos. A meta é mobilizar "ao menos US$ 1,3 trilhão por ano até 2035" para ações climáticas nos países em desenvolvimento.

Outro ponto essencial é a submissão de novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) por todos os países, reforçando os compromissos do Acordo de Paris. Os autores do artigo defendem um aumento significativo no financiamento para adaptação climática e um maior papel dos Bancos Multilaterais de Desenvolvimento no financiamento verde.

Ao enfatizar a importância de Joanesburgo, Belém e Sevilha como "bastiões da cooperação multilateral", o artigo conclama "todas as nações, instituições internacionais, setor privado e sociedade civil" a assumirem compromissos concretos.

A mensagem final é clara: "O multilateralismo é capaz e precisa gerar resultados— porque os riscos são muito altos para permitirmos o fracasso".

Leia a íntegra do artigo abaixo:

"Unindo forças para superar desafios globais

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil
Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul
Pedro Sánchez, presidente do Governo da Espanha

2025 será um ano decisivo para o multilateralismo. Os desafios que se apresentam diante de nós — desigualdades crescentes, mudanças climáticas e o déficit de financiamento para o desenvolvimento sustentável — são urgentes e estão interconectados. É preciso tomar ações coordenadas e corajosas para abordá-los — e não recuar ao isolamento, a ações unilaterais ou a rupturas.

Três grandes encontros oferecerão uma oportunidade única de estabelecer um caminho em direção a um mundo mais justo, inclusivo e sustentável: a 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento (FfD4), em Sevilha, (Espanha); a 30ª Conferência das Partes (COP30) da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), em Belém (Brasil); e a Cúpula do G20, em Joanesburgo (África do Sul). Essas reuniões não podem ser apenas mais-do-mesmo, elas precisam entregar progressos reais.

Um momento multilateral que não podemos desperdiçar

A confiança no multilateralismo está sob tensão; e, no entanto, nunca houve tanta necessidade de diálogo e cooperação global. É preciso reafirmar que o multilateralismo, quando se reveste de ambição e se orienta à ação, continua sendo o veículo mais efetivo para abordar desafios compartilhados e avançar em áreas de interesse comum. Precisamos consolidar os sucessos do multilateralismo, especialmente a Agenda 2030 e o Acordo de Paris. O G20, a COP30 e o FfD4 devem servir como marcos de um compromisso renovado com a inclusão, o desenvolvimento sustentável e a prosperidade compartilhada. Isso exigirá forte vontade política, a plena participação de todos os atores relevantes, uma mentalidade criativa e a habilidade de compreender os condicionantes e as prioridades de todas as economias.

Abordar a desigualdade por meio de uma arquitetura financeira renovada

As desigualdades de renda vêm aumentando — tanto no âmbito interno das nações como entre elas. Muitos países em desenvolvimento sofrem com o peso insustentável de dívidas, espaços limitados de ação fiscal e barreiras que dificultam o acesso justo ao capital. Serviços básicos, como saúde e educação, têm de competir com taxas de juros crescentes. Trata-se não apenas de uma falha moral; mas de um risco econômico para todos. A arquitetura financeira global precisa ser reformada a fim de dar mais voz e representatividade aos países do Sul Global, assim como acesso mais justo e previsível a recursos.

É preciso avançar nas iniciativas de alívio da dívida, promover mecanismos de financiamento inovadores e identificar e abordar as causas do alto custo do capital para a maioria dos países em desenvolvimento. O G20, sob a presidência da África do Sul, está priorizando essas três áreas. Ao mesmo tempo, a reunião do FfD4, em Sevilha, será um momento decisivo para assegurar compromissos em direção a uma cooperação financeira internacional mais robusta para o desenvolvimento sustentável, incluindo o aprimoramento da taxação da riqueza global e externalidades negativas, a melhoria das estratégias de mobilização de recursos domésticos e uma canalização mais impactante e efetiva dos Direitos Especiais de Saque.

Financiar transições justas em direção a um desenvolvimento limpo e com resiliência climática

Para muitos países em desenvolvimento, uma transição climática justa permanece fora de alcance devido à falta de fundos e a desafios ao desenvolvimento. Isso precisa mudar. Na COP30, em Belém, uma cúpula realizada no coração da Amazônia, será preciso assegurar que nossos compromissos de financiamento climático sejam traduzidos em ações concretas.

O sucesso da COP30 dependerá da nossa capacidade de reduzir a distância entre promessas e resultados. Sob a Convenção da mudança do clima, os pilares fundamentais para a COP30 incluirão as submissões, por todas as partes, de novas e ambiciosas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e o Roteiro Baku-Belém, que estabelece o aumento do financiamento da ação climática aos países em desenvolvimento, de todas as fontes públicas e privadas, para ao menos USD 1,3 trilhão por ano até 2025. Precisamos aumentar significativamente o financiamento para a adaptação climática, alavancar os investimentos do setor privado e assegurar que os Bancos Multilaterais de Desenvolvimento assumam um papel mais relevante no financiamento climático. A conferência de Sevilha complementará esses esforços, assegurando que o financiamento climático não prejudique o desenvolvimento.

Uma resposta global e inclusiva às ameaças globais

O mundo está cada vez mais fragmentado, e é exatamente por essa razão que devemos redobrar os esforços para encontrar uma base comum. Joanesburgo, Belém e Sevilha precisam servir como bastiões da cooperação multilateral, demonstrando que as nações são capazes de se unir em torno de interesses comuns.

Em Sevilha, trabalharemos no sentido de mobilizar capital público e privado para o desenvolvimento sustentável, reconhecendo a inseparável relação entre estabilidade financeira e ação climática. Em Joanesburgo, o G20 reafirmará a importância de um crescimento econômico inclusivo. E, em Belém, estaremos lado a lado para proteger o nosso planeta.

Ao vislumbrarmos 2025, conclamamos a todas as nações, instituições internacionais, setor privado e sociedade civil a se colocarem à altura desse momento. O multilateralismo é capaz e precisa gerar resultados — porque os riscos são muito altos para permitirmos o fracasso". 

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