VIZINHOS EM CHOQUE

Canadá cancela uísque e Starlink dos EUA e denuncia "ameaça existencial"

Por trás das tarifas, desejo de anexação

Aviso.Na prateleira de uma loja canadense, o aviso de que vinho, uísque e outros produtos importados dos EUA serão retirados.Créditos: Liquor Control Board de Ontario
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As tarifas de Donald Trump sobre o Canadá são "injustificáveis", afirmou o primeiro-ministro Justin Trudeau, alegando que seu país jamais se negou a colaborar com os Estados Unidos para barrar a entrada do anestésico fentanil em território do vizinho.

Em 2021, os EUA registraram mais de 100 mil mortes causadas por opioides sintéticos, dentre os quais se inclui o fentanil. Desde então, os números estão em queda.

Em seu Discurso da União, diante do Congresso, no entanto, Trump jogou a culpa em México, Canadá e China pelo drama doméstico, justificando assim a colocação de tarifas nos três principais parceiros comerciais dos EUA:

"Eles deixaram o fentanil vir para os Estados Unidos em níveis nunca vistos antes, matando centenas de milhares de nossos cidadãos, muitos bem jovens, pessoas lindas, destruindo famílias".

Definindo a decisão de Trump como "idiota", o primeiro-ministro do Canadá havia anunciado retaliação. Ele afirmou que o objetivo da Casa Branca é enfraquecer a economia do Canadá para depois anexar o país.

Tarifas adicionais de 20% sobre produtos da China e de 15% sobre México e Canadá entraram em vigor na terça-feira, 4.

Trump se refere continuamente ao primeiro-ministro Trudeau como "governador" do que seria o estado de número 51 dos EUA.

Retaliação mira republicanos

A retaliação canadense mirou em importações vindas de distritos de parlamentares republicanos, que hoje controlam a maioria na Câmara e no Senado.

Trudeau fez um apelo diretamente aos eleitores estadunidenses:

São milhares de postos de trabalho que existem [nos Estados Unidos] por conta do Canadá. O seu governo [Trump] escolheu aumentar os custos para consumidores americanos em itens essenciais do dia a dia, como produtos de mercado, gás, carros e casas.

O Canadá é historicamente um dos aliados mais próximos dos EUA. Os vizinhos do norte são vistos como amigáveis e pacíficos pela população estadunidense.

Os EUA importam energia -- inclusive elétrica -- do Canadá, além de madeira, automóveis e alimentos.

O governo da província de Ontario retirou das prateleiras todos os produtos de álcool vindos dos EUA -- inclusive o popular uísque Jack Daniel's --, que representam vendas de U$ 1 bi anuais.

O primeiro-ministro local, Doug Ford, cancelou um contrato de U$ 100 milhões da Starlink, empresa de Elon Musk, e decidiu taxar em 25% a energia elétrica exportada, que abastece 1,5 milhão de domicílios dos estados de Nova York, Michigan e Minnesota.

Por causa das ameaças de Trump, uma onda de patriotismo tomou conta do país, especialmente depois que o Canadá venceu os Estados Unidos por 3 a 2 na final do que seria um mini campeonato mundial de hóquei sobre o gelo, que também teve a participação de Finlândia e Suécia.

Em entrevista, a ministra das Relações Exteriores do Canadá, Melanie Jóly, disse que o país enfrenta uma "ameaça existencial" por conta do governo Trump, que vai enfrentá-la e "vai vencer".

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