ARTE É RESISTÊNCIA

'Ainda Estou Aqui': Oscar de Melhor Filme Estrangeiro rompeu bolha política e cultural no Brasil

Levantamento da FGV ressalta que filme esvaziou argumentos da base bolsonarista nas redes sociais e trouxe à público valorização da democracia e do cinema nacional

Walter Salles e Fernanda Torres na noite do Oscar.Créditos: REUTERS/Aude Guerrucci/Folhapress
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Quando o filme Ainda Estou Aqui foi anunciado como vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional , não foi apenas um reconhecimento do Brasil no cenário mundial, mas também o que parecia ser uma autoderrota da base bolsonarista que sempre se autodenominou "patriota" no país. Estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) afirma que o filme vencedor do Oscar de Walter Salles conseguiu desmantelar a polarização cultural e política nas redes sociais que se arrastava desde o governo Bolsonaro , grande entusiasta da ditadura militar.

A análise aponta que a maioria das publicações foi em celebração à arte, à cultura e ao cinema nacional, com brasileiros reafirmando a identidade própria para o mundo, além de inúmeras páginas progressistas.

Entre as publicações mais comentadas estão as de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) , presidente; Erika Hilton (PSOL-SP) , deputada federal; e Dilma Rousseff (PT) , ex-presidente, que assim como Rubens Paiva, ex-deputado e personagem do filme, foi presa e torturada pela ditadura militar. 

A pesquisa revelou que os perfis alinhados à direita tiveram um engajamento tímido, com poucas interações fingindo parabenizar e responsabilizar o filme pela vitória, enquanto alguns tentaram atacar o filme e rotular de "comunista".

"Não conseguiram inventar nenhum argumento"

Segundo o sociólogo Marco Aurélio Ruediger, diretor da Escola de Comunicação da FGV e um dos dois responsáveis pelo estudo, o silêncio da extrema direita surpreende. "Eles não conseguirão construir nenhum argumento crítico em contrário. Seriam antipatrióticos, hipócritas e infiéis", diz. "Isso dá ao Brasil uma chance de se unir e se reinventar, quebrando a polarização com base em valores universais e um repertório cultural mais amplo"

"É uma pista para a política agora e em 2026"

Na visão do coordenador, o filme consegue representar o patriotismo de forma autêntica, sem cair em ideias conservadoras ou reacionárias, pois exalta o poder das mulheres, retratando a jornada de superação e recuperação de Eunice Paiva e sua família, resgatando o debate da memória histórica e cobrando justiça e reparação às vítimas, que o Brasil em 60 anos após o golpe ainda não fez.

Marcelo Rubens Paiva , filho de Rubens e Eunice Paiva, é o autor do livro que deu origem ao filme e comentou o significado do prêmio no último domingo (2).

"Seriam necessários mais filmes sobre nossas histórias. Tantos personagens importantes para as pessoas retratarem. Tantos períodos turbulentos importantes sobre os quais as pessoas não conseguem parar de falar. Escravidão, massacres indígenas, chegada dos europeus, os bandeirantes, a revolta da Chibata, a Guerra do Paraguai. Há tanta história para as pessoas contarem. Seria necessário que esse filme fosse o início de um movimento brasileiro, para que as pessoas reabrissem nossos arquivos, nossas memórias e as registrassem para sempre. Para que o Brasil possa ver, ser visto e se enredar em uma teia de cinema", disse ele.

Segundo a FGV, foram registradas quase 4 milhões de postagens sobre o filme no X, Instagram, YouTube e portais de notícias, alcançando mais de 75 milhões de interações no Facebook, X e Instagram com a vitória no Oscar. As postagens na conta oficial da Academia no Instagram (@theacademy) geraram 30% de todas as interações do perfil no início desse ano, com 3,8 milhões de interações e 24 milhões de visualizações.

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