Quando o filme Ainda Estou Aqui foi anunciado como vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional, não foi apenas um reconhecimento do Brasil no cenário mundial, mas também o que parecia ser uma autoderrota da base bolsonarista que sempre se disse "patriota" no país. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) afirma que o filme de Walter Salles no Oscar conseguiu desmantelar a polarização cultural e política nas redes sociais que se arrastava desde o governo Bolsonaro, grande entusiasta da ditadura militar.
A análise aponta que a maior parte das publicações foi em celebração ao orgulho pela arte, cultura e cinema nacional e de brasileiros reafirmando a própria identidade para o mundo, assim como inúmeras páginas progressistas.
Te podría interesar
Entre as publicações mais comentadas estavam as de: Luiz Inácio Lula da Silva (PT), presidente; Erika Hilton (PSOL-SP), deputada federal; e Dilma Rousseff (PT), ex-presidente, que, assim como Rubens Paiva, ex-deputado e personagem do filme, foi presa e torturada na ditadura militar.
O levantamento identificou que os perfis alinhados à direita tiveram um engajamento tímido e modesto, com poucas interações fingindo parabenizar os responsáveis pelo filme e a vitória, enquanto alguns tentavam atacar o filme e o rotular de "comunista".
Te podría interesar
'Não conseguiram inventar argumento contrário'
De acordo com o sociólogo Marco Aurélio Ruediger, diretor da Escola de Comunicação da FGV e um dos responsáveis pelo estudo, o silêncio da direita é surpreendente. "Não conseguiram construir nenhum argumento crítico contrário. Soaria impatriótico, desumano e não engajaria”, afirma. “Dá uma dica de fresta para o Brasil se unir e se reinventar quebrando a polarização com base em valores universais e um repertório cultural mais amplo.”
"Pista para a política agora e em 2026”
Na visão do coordenador do levantamento, o filme consegue representar o patriotismo de forma autêntica, sem cair em ideais conservadores ou reacionários, enquanto exalta a potência das mulheres, ao retratar a jornada de superação e recomeço de Eunice Paiva e sua família, trazendo o debate da memória histórica e exigindo justiça e reparação para as vítimas, o que o Brasil em 60 anos após o golpe ainda não fez.
Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens e Eunice Paiva, é autor do livro que deu origem ao filme e comentou o significado da premiação no último domingo (2).
"Tomara que mais filmes apareçam sobre as nossas histórias. Tantas personagens importantes para a gente retratar. Tantos períodos conturbados importantes que a gente não pode deixar de falar. Escravização, massacres indígenas, chegada dos europeus, os bandeirantes, revolta da Chibata, Guerra do Paraguai. Tem tanta história para a gente contar. Tomara que esse filme seja o começo de um movimento brasileiro, de a gente reabrir os nossos arquivos, nossas memórias e registrar para sempre. Para que o Brasil consiga ver, se ver, e se enxergar em uma tela de cinema", disse.
De acordo com a FGV, foram registradas cerca de 4 milhões de publicações sobre o filme no X, Instagram, YouTube e em portais de notícias, alcançando mais de 75 milhões de interações no Facebook, X e Instagram com a vitória do Oscar. As postagens na conta oficial da Academia no Instagram (@theacademy) geraram 30% de todas as interações do perfil em 2025, com 3,8 milhões de interações e 24 milhões de visualizações.