MULTILATERALISMO

Lula assina plano de ação com Vietnã e amplia parcerias comerciais na Ásia

"Nenhuma colaboração é tão estratégica para o futuro de dois países emergentes quanto a cooperação em educação, ciência e tecnologia", disse o presidente sobre acordos de livre-comércio

Lula desembarcou no Vietnã nesta quinta (27).Créditos: Ricardo Stuckert/PR
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Em mais um cumprimento de agenda internacional e ação de livre-comércio, o presidente Lula agora junto ao presidente do Vietnã, Luong Cuong, assinaram um plano de ação para fortalecer a parceria estratégica entre os países durante um encontro realizado nesta sexta-feira (28) em Hanói.

O Plano de Ação para Implementação da Parceria Estratégica estabelece prioridades para a relação bilateral em áreas como defesa, economia, comércio e investimentos; agricultura e segurança alimentar e nutricional; ciência, tecnologia e inovação; meio ambiente e sustentabilidade; transição energética; além de cooperação sociocultural e consular.

“Adotamos um plano de ação abrangente para o período 2025-2030, que nos ajudará a avançar em diversas áreas. Meu governo tem interesse em reconhecer o Vietnã como economia de mercado. Essas e outras medidas vão nos permitir ampliar os fluxos de comércio e de investimento entre nossos países”, informou o presidente à imprensa.

Foto: Ricardo Stuckert / PR
Foto: Ricardo Stuckert / PR

O encontro não se limitou ao Plano de Ação, trazendo também a assinatura de dois acordos e dois memorandos. Os acordos garantem a possibilidade de exercício de atividade remunerada para dependentes de missões diplomáticas, repartições consulares e missões permanentes junto a Organismos Internacionais, além de estabelecer diretrizes para a troca e proteção de informações classificadas.

"Nenhuma colaboração é tão estratégica para o futuro de dois países emergentes quanto a cooperação em educação e em ciência e tecnologia. Em breve, nossas universidades poderão promover o intercâmbio de professores e estudantes. Estamos estudando parcerias em áreas como semicondutores, Inteligência Artificial, tecnologias digitais, biotecnologia e energias renováveis”, declarou Lula

No campo da cooperação econômica e esportiva, Brasil e Vietnã assinaram um Memorando de Entendimento entre os ministérios responsáveis pelo desenvolvimento industrial e comercial, bem como um memorando para incentivar parcerias no futebol.

O fortalecimento das relações comerciais inclui a entrada da carne bovina brasileira no mercado vietnamita. “A abertura do mercado vietnamita para a carne bovina brasileira atrairá investimentos de frigoríficos do Brasil para fazer deste país uma plataforma de exportação para o Sudeste Asiático”, afirmou o presidente. De acordo com o governo, o Brasil tem potencial não apenas nas exportações de alimentos, mas também na venda de produtos com maior valor agregado.

Diante dos impactos das mudanças climáticas nas safras de café, o presidente brasileiro propôs ao Vietnã uma parceria em pesquisa para desenvolver safras mais resistentes. Ele também sugeriu que o Vietnã participe do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, recebendo recursos pelos esforços na preservação ambiental.

“Vietnã e Brasil são os dois maiores produtores mundiais de café e ambos tivemos safras recentes afetadas pela mudança do clima. Estamos determinados a ampliar nosso intercâmbio técnico para fortalecer a resiliência da cultura do café"

Seguindo a linha da articulação feita em sua visita ao Japão, o presidente brasileiro também reforçou a intenção de aproximar o Vietnã da zona comercial do Mercosul e estimular intercâmbios.

“A presidência brasileira do Mercosul, que se iniciará em julho, vai trabalhar em prol de um acordo com o Vietnã que seja equilibrado e beneficie os dois lados", disse.

O Brasil também convidou o Vietnã para o encontro do BRICS, que acontecerá no Rio de Janeiro, em julho, e para a COP30, marcada para novembro, em Belém. “Para cumprirmos o Acordo de Paris, todos os países deverão adotar o mais alto grau de ambição possível dentro de suas circunstâncias de desenvolvimento.”

A visita de Lula ao Vietnã amplia a presença brasileira no Sudeste Asiático e reforçar laços com a ASEAN, um dos blocos econômicos mais dinâmicos do mundo. Desde sua última visita ao país, em 2007, as relações comerciais entre Brasil e Vietnã cresceram significativamente, passando de 534 milhões de dólares em 2008 para 7,7 bilhões em 2024 – um recorde histórico, com superávit brasileiro de 405 milhões de dólares. O objetivo é elevar esse volume para 15 bilhões de dólares até 2030.

O Vietnã se firmou como o principal fornecedor da ASEAN para o Brasil e ocupa a 14ª posição entre os maiores fornecedores mundiais. O Brasil exporta mais para o Vietnã do que para outros mercados, como Portugal, Reino Unido, França e Paraguai. O Vietnã também é o quinto maior destino dos produtos do agronegócio brasileiro, com o Brasil respondendo por cerca de 70% da soja importada, sendo o principal fornecedor de carne suína (37%) e o segundo maior de carne de frango e algodão.

Visita ao Japão

Lula esteve no Japão antes de seguir para o Vietnã em sua agenda internacional. Ele chegou a Tóquio na segunda-feira (24) e, na manhã seguinte, participou da cerimônia de boas-vindas no Palácio Imperial, onde discursou no Fórum Empresarial Brasil – Japão, em Tóquio, e fotaleceu o multilateralismo contra o protecionismo econômico. Sem citar Donald Trump ou os Estados Unidos, Lula mencionou três desafios que devem ser prioridade para os líderes mundiais.

Segundo o presidente, a postura de países que negam a instabilidade climática e descumprem acordos como o de Kyoto não vai trazer nenhum benefício para a humanidade. É preciso que haja livre-comércio e multilateralismo econômico, cultural e tecnológico.

“A democracia corre risco no planeta, com eleição de extrema-direita negacionista, que não reconhece sequer vacina, instabilidade climática, partidos políticos e sindicatos. Nós não podemos voltar a defender o protecionismo, não queremos uma segunda Guerra Fria, queremos comércio livre, para que os países se estabeleçam no movimento da democracia, no crescimento econômico e na distribuição de riquezas. É muito importante a relação entre os povos”

Lula confirmou que a Embraer vai vender 15 aviões do modelo E-190 para a All Nippon Airways (ANA), uma das maiores operadoras aéreas do país nipônico. O presidente destacou ainda que serão estabelecidos 10 acordos de cooperação entre os países, acompanhados de 80 convênios entre instituições como empresas, bancos e universidades.

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