Veículos internacionais de diferentes continentes repercutiram o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) e outros sete militares por tentativa de golpe de Estado, que nesta quarta (26), se tornaram oficialmente réus em decisão unânime da Corte. Um dos primeiros jornais a publicar a notícia foi o The Guardian.
O jornal britânico destacou que a decisão coloca “o populista de extrema direita, que governou o Brasil de 2019 até o final de 2022, diante do esquecimento político e de uma possível sentença de prisão superior a 40 anos”. Além disso, destacou que o ex-presidente junto aos militares no governo tentou “orquestrar uma conspiração violenta para tomar o poder por meio de um golpe militar”.

Na América Latina, o jornal espanhol El País enfatizou o ineditismo do julgamento em um país que nunca julgou crimes da ditadura, destacando que o “julgamento é o mais importante dos últimos anos” e deve ter seu desfecho em 2025, “para não prejudicar a campanha presidencial, marcada para outubro de 2026”.
“No Brasil, não é incomum que um ex-presidente seja julgado politicamente ou criminalmente; no entanto, é sem precedentes que ele esteja sendo processado por golpe de Estado”, disse o periódico.
O jornal argentino La Nación seguiu a mesma linha do periódico espanhol e escreveu que a decisão do STF brasileiro é "histórica", "sendo a primeira vez na história do Brasil que pessoas acusadas de tentar um golpe de Estado serão processados por esse delito”. E acrescentou:
"Todos eles formaram o núcleo crucial da complô com a qual tentaram impedir Lula de assumir o Palácio Presidencial do Planalto depois de se impor a Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022"
A BBC, rede pública britânica, destacou que Bolsonaro tentou reverter a sentença do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que o impede de concorrer até 2030, para disputar novamente a presidência em 2026. O jornal relembrou que ele "alegou falsamente que o sistema de votação do Brasil era vulnerável a fraudes" e citou as contradições entre confiar no sistema eleitoral caso fosse eleito. A determinação do STF impõe um "grande obstáculo" em seu caminho para uma candidatura futura, completa a BBC.
Já o periódico estadunidense The New York Times, ressalta que a medida “marca um esforço significativo para responsabilizar Bolsonaro pelas acusações de que ele procurou efetivamente desmantelar a democracia brasileira ao orquestrar um amplo plano para realizar um golpe”.
“A investigação revelou o quão perto o Brasil chegou de retornar a uma ditadura militar quase quatro décadas depois de sua história como uma democracia moderna”
A agência Reuters, no Reino Unido, comparou a decisão da Justiça brasileira com a atual situação política dos EUA, que nesse momento passa pelo terceiro governo Trump, e destacou a atuação brasileira na defesa da democracia.
"Em contraste com o emaranhado de casos criminais que envolveram Trump, os tribunais e investigadores brasileiros agiram rapidamente contra Bolsonaro, ameaçando acabar com sua carreira política e fraturar o movimento de direita que ele construiu na última década"
O periódico também deu destaque para as movimentações do ex-presidente ainda para tentar convocar uma mobilização popular para "se salvar" da condenação. "Antes da audiência histórica, Bolsonaro convocou um comício à beira-mar, abre nova conta no Rio de Janeiro, na esperança de aproveitar a popularidade de Lula e pressionar o Congresso a aprovar um projeto de lei de anistia favorecendo ele e seus apoiadores presos", escreveram os jornalistas.
Ainda na Europa, o jornal EuroNews manchetou a notícia, declarando que "Bolsonaro pode passar décadas atrás das grades".
"Como em sua acusação de fevereiro a Bolsonaro e a outras 33 pessoas, Gonet disse que parte da conspiração incluía um plano para matar Lula e o juiz Alexandre de Moraes, que foram colocados sob vigilância pelos supostos conspiradores"
A AFP, agência francesa de notícias, disse que o futuro político de Bolsonaro já era motivo de dúvida antes da decisão do STF, e que, caso ele seja condenado por conspiração para subverter a democracia do Brasil, isso “provavelmente forçaria a direita política a encontrar um novo candidato”.