Nesta terça-feira (11), houve o anúncio de que a Ucrânia concordou com uma proposta dos EUA para um cessar-fogo de 30 dias na guerra contra a Rússia.
O resultado veio após nove horas de negociações em Jeddah, na Arábia Saudita, e os termos exatos não foram enunciados pelas autoridades envolvidas.
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A declaração conjunta emitida pelos dois países apontou que a Ucrânia expressou uma "prontidão" para aceitar a proposta dos EUA de promulgar um cessar-fogo imediato, "que pode ser estendido por acordo mútuo das partes e que está sujeito à aceitação e implementação simultânea pela Federação Russa".
O último parágrafo da declaração, no entanto, traz o seguinte: "Por fim, os presidentes de ambos os países concordaram em concluir o mais breve possível um acordo abrangente para desenvolver os recursos minerais críticos da Ucrânia para expandir a economia da Ucrânia e garantir a prosperidade e a segurança de longo prazo da Ucrânia".
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Ou seja, os minerais tão cobiçados pelos EUA foram negociados entre os dois países, como queria Donald Trump. Mas o que levou o republicano a insistir tanto neste ponto específico.
Terras raras ucranianas
Em artigo publicado no The Conversation, a pesquisadora da Universidade de Plymouth, Munira Raji, explica o porquê destes minerais ucranianos serem alvo da cobiça estadunidense.
Embora a Ucrânia seja frequentemente reconhecida por suas vastas terras agrícolas e também por uma indústria sólida, ela também possui uma das formações geológicas mais notáveis ??do mundo, denominada "Escudo Ucraniano".
"Esta rocha cristalina maciça e exposta, formada há mais de 2,5 bilhões de anos, se estende por grande parte da Ucrânia. Ela representa um dos blocos continentais mais antigos e estáveis ??da Terra. A formação passou por múltiplos episódios de construção de montanhas, formação e movimento de magma e outras mudanças ao longo do tempo", detalha Raji.
Tais processos geológicos possibilitaram a formação de vários depósitos minerais, incluindo lítio, grafite, manganês, titânio e elementos de terras raras. Todos eles agora necessários para as indústrias modernas e também para a transição global para a energia verde.
"A Ucrânia tem depósitos contendo 22 dos 34 minerais críticos identificados pela União Europeia como essenciais para a segurança energética . Isso posiciona a o país entre as nações mais ricas em recursos do mundo", explica a pesquisadora.
Minerais essenciais
Os minerais encontrados no país são matéria-prima para baterias de veículos elétricos, turbinas eólicas, painéis solares e sistemas de armazenamento de energia.
Para se ter uma ideia de como eles se tornaram valiosos, Raji lembra que o preço do lítio subiu de US$ 1.500 por tonelada na década de 1990 para cerca de US$ 20.000 por tonelada nos últimos anos. Sua demanda deve aumentar quase 40 vezes até 2040.
"De acordo com a Agência Internacional de Energia, o número de veículos elétricos deve ultrapassar 125 milhões até 2030. Crescimento semelhante é esperado para outros metais de bateria. Cada veículo elétrico requer significativamente mais lítio do que eletrônicos convencionais. Por exemplo, uma bateria do Tesla Model S requer aproximadamente 63 kg de lítio de alta pureza", aponta.
O território ucraniano tem três grandes depósitos de lítio que incluem Shevchenkivske, na região de Donetsk, e Polokhivske e Stankuvatske, ambos na região centralmente localizada de Kirovograd.
Todos têm vantagens comparativas importantes. O depósito de lítio de Shevchenkivske, por exemplo, contém altas concentrações de espodumênio — o principal mineral portador de lítio usado na produção de baterias. Já o de Polokhivske é considerado um dos melhores locais do mineral na Europa por suas condições geológicas favoráveis, tornando a extração mais viável economicamente.
Mas não é só lítio que se encontra na Ucrânia. Segundo uma pesquisa geológica feita pelos EUA, o país europeu é o terceiro maior produtor do mineral rutilo, compondo 15,7% do total mundial. Trata-se de um mineral multifuncional, que serve tanto à indústria aeroespacial até para a produção de tintas, cosméticos e joias, importante ainda em setores que demandam materiais leves, resistentes e duráveis.
"A Ucrânia também tem as maiores reservas de urânio da Europa, cruciais para energia nuclear e armas. Ela ostenta depósitos significativos de elementos de terras raras, incluindo neodímio e disprósio, necessários para a fabricação de tudo, de smartphones a turbinas eólicas e motores elétricos", pontua a pesquisadora.
E os EUA?
Munira Raji analisa que o interesse dos Estados Unidos nos minerais ucranianos reflete uma preocupação geopolítica mais ampla sobre o aumento da demanda que virá com a transição energética e o avanço de setores de tecnologia.
"Embora os EUA tenham muitos dos mesmos minerais essenciais que a Ucrânia, historicamente o país terceirizou a mineração e o refino devido a regulamentações ambientais, altos custos trabalhistas e mercados estrangeiros mais atraentes", explica.
Isso, segundo ela, levou o país a uma dependência estadunidense de importações, particularmente da China, que domina a produção e o processamento de minerais críticos. "Obter acesso aos minerais da Ucrânia em troca de proteção militar significa que os EUA podem evitar ter que comprar esses minerais da China", pondera.