LESTE EUROPEU

Romênia: Após eleição anulada em 2024, Justiça rejeita candidatura de populista de extrema direita

Com a eleição presidencial remarcada e novas candidaturas em ascensão, a Romênia enfrenta um período de tensão e instabilidade

Calin Georgescu, populista de extrema direita romeno que teve candidatura barrada pela Justiça.Créditos: Wikimedia Commons
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O cenário político da Romênia foi abalado por uma série de decisões judiciais e institucionais que culminaram na anulação da eleição presidencial em dezembro de 2024 e, agora, na rejeição da candidatura do extremista de direita Calin Georgescu à presidência do país.

O Tribunal Eleitoral romeno decidiu, neste domingo (9), seguindo a condenação da Corte Constitucional, barrar a candidatura de Calin Georgescu – que venceu a eleição presidencial em novembro de 2024 e liderava as pesquisas de opinião.

Alegando violações da lei eleitoral e influência russa em sua campanha, o Tribunal Eleitoral seguiu a orientação da Corte Constitucional e confirmou a anulação da eleição devido a irregularidades eleitorais graves na candidatura de Georgescu.

O Tribunal Eleitoral romeno afirmou que Georgescu descumpriu a legislação eleitoral ao receber financiamento ilegal por meio de plataformas como TikTok e Telegram, além de estar envolvido em esquemas de desinformação e ataques cibernéticos supostamente patrocinados por agentes russos. Entre outras questões, o candidato é investigado por colaboração com grupos neofascistas.

A decisão foi vista como um duro golpe para a candidatura de extrema-direita, que reagiu com veemência, classificando a medida como "um golpe contra o coração da democracia mundial".

A rejeição da candidatura de Georgescu desencadeou protestos imediatos. Centenas de apoiadores do candidato se reuniram em frente à sede do Tribunal Eleitoral, em Bucareste, para manifestar sua insatisfação com a decisão. Os protestos foram marcados por discursos inflamados e acusações de que a justiça romena estaria agindo sob influência política da “ditadura da União Europeia e da OTAN”.

A decisão também repercutiu internacionalmente. O vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, e o ministro bilionário de Trump, Elon Musk, criticaram publicamente a medida, insinuando contaminação política das instituições de Estado na Romênia.

Com a anulação da eleição presidencial e a rejeição da candidatura de Georgescu, o pleito, que foi remarcado para 4 de maio, com um possível segundo turno em 18 de maio, deve sofrer uma reviravolta nas intenções de voto.

Nas últimas pesquisas divulgadas pela Sociopol România TV, Georgescu liderava com 38% das intenções de voto, seguido por Victor Ponta, ex-primeiro-ministro social-democrata, com 16%; Crin Antonescu, ex-presidente interino do país e candidato de centro-direita, com 14%; e Nicu?or Dan, atual prefeito da capital, Bucareste, que se registrou como candidato independente, também com 14%.

Na mesma pesquisa, quando questionados em quem votariam sem a presença de Georgescu, outro candidato de extrema-direita mostrou crescimento.

Vice-presidente do Partido dos Conservadores Europeus, alinhado com nomes como a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni (Fratelli d’Italia), e o líder da oposição espanhola, Santiago Abascal (Vox), George Simion absorveu os votos de Georgescu e passou a liderar a corrida com 28%. Ele é seguido pela centro-esquerda, com 22% para Victor Ponta; pelo liberal Nicu?or Dan, com 19%; e por Crin Antonescu, com 18%.

Contexto político e geopolítico

A Romênia, com seus 19 milhões de habitantes e uma posição geopolítica estratégica, é um membro importante da OTAN e da União Europeia. O país tem enfrentado desafios significativos devido à guerra na Ucrânia, incluindo uma onda migratória massiva e pressões econômicas. A decisão do Supremo Tribunal Eleitoral e a anulação da eleição presidencial colocam o país em um momento de incerteza política e institucional.

Georgescu, um populista de extrema-direita, havia explorado o contexto da guerra na Ucrânia para defender uma política de "neutralidade" romena, argumentando que o conflito entre a OTAN e a Rússia não serve aos interesses do país. Sua retórica pró-Putin e suas declarações polêmicas sobre temas como o ultracristianismo e o passado neofascista da Romênia geraram preocupação entre aliados europeus e dentro da própria população romena.

Eleições parlamentares e cenário atual

Enquanto o processo presidencial segue conturbado, as eleições parlamentares realizadas em 1º de dezembro de 2024 confirmaram a vitória do PSD (Partido Social-Democrata), com 22% dos votos, seguido pela Aliança pela União dos Romenos (AUR), de extrema-direita, com 18%. O PNL (Partido Nacional Liberal) ficou em terceiro lugar, com 13,2%, e a União Salve a Romênia (USR) obteve 12,4%. O cenário político romeno permanece polarizado, com a extrema-direita ganhando força e a centro-esquerda tentando manter sua influência.

Agora, com a eleição presidencial remarcada e novas candidaturas em ascensão, a Romênia enfrenta um período de tensão e instabilidade. O mundo observa atentamente os desdobramentos desse processo eleitoral conturbado, que pode definir não apenas o futuro do país, mas também seu papel no cenário geopolítico europeu.

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