A tensão entre os Estados Unidos e os países dos BRICS ganhou um novo capítulo nesta semana, com o presidente norte-americano, Donald Trump, ameaçando cortar toda a assistência financeira à África do Sul.
O motivo seria a recente aprovação de uma lei que permite a expropriação de terras sem compensação em determinadas circunstâncias. A medida, segundo Trump, estaria discriminando latifundiários brancos. Um apoiador das pressões do presidente é Elon Musk, sul-africano branco cuja família saiu do país depois do fim do apartheid.
Em um post na rede social Truth Social, no domingo (2), Trump afirmou: "Vou cortar todo o financiamento futuro para a África do Sul até que uma investigação completa dessa situação seja concluída!" Ele ainda ainda acusou o governo sul-africano de praticar ações "terríveis e horríveis".
A África do Sul, no entanto, rebateu as acusações. O presidente Cyril Ramaphosa, chefe do partido Congresso Nacional Africano, destacou, em resposta publicada no X, que o país é uma democracia constitucional baseada no Estado de direito.
"O governo sul-africano não confiscou terra alguma. A Lei de Expropriação não é um instrumento de confisco, mas um processo legal constitucionalmente obrigatório que garante o acesso público à terra de forma justa e equitativa", afirmou Ramaphosa.
A lei em questão permite a expropriação sem compensação apenas em casos considerados "justos, equitativos e de interesse público", como terrenos abandonados ou que representem riscos à população.
A medida visa corrigir desigualdades históricas herdadas do apartheid, regime de segregação racial que durou até 1994. Durante esse período, a maioria das terras férteis foi concentrada nas mãos da minoria branca, enquanto a população negra foi relegada a áreas pobres e improdutivas.
Para se ter ideia, cerca de 73% das terras na África do Sul estão nas mãos dos brancos, que representam cerca de 7% da população do país.
Apesar do discurso de Trump, a expropriação de terras não é uma prática exclusiva da África do Sul. Nos próprios Estados Unidos, o governo federal pode assumir propriedades privadas mediante "compensação justa". Ramaphosa lembrou esse fato em sua defesa, questionando a seletividade das críticas norte-americanas.
A África do Sul não é o único país do BRICS a ser alvo de ameaças da administração Trump. Desde sua posse, em janeiro de 2025, o presidente norte-americano tem adotado uma postura agressiva contra nações que desafiam a hegemonia dos EUA, especialmente no que diz respeito à desdolarização do comércio internacional.
A China já foi tarifada. Índia e Brasil também foram alvos de ameaças protecionistas, como tarifas comerciais e sanções econômicas.
O corte de assistência financeira à África do Sul, caso concretizado, pode ter impactos significativos. Em 2023, os EUA destinaram cerca de US$ 440 milhões em ajuda ao país africano, recursos utilizados em áreas como saúde, educação e combate à pobreza.