De BERLIM | O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se pronunciou na manhã desta segunda-feira (24) sobre a vitória do bloco conservador CDU/CSU nas eleições parlamentares da Alemanha.
Com o resultado do pleito antecipado realizado neste domingo (23), Friedrich Merz, líder do CDU, será alçado ao posto de chanceler federal (cargo que, no sistema político alemão, é o equivalente ao de um primeiro-ministro) depois que concluir as negociações para formar um novo governo. Ele substituirá o atual chanceler Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD).
"Quero cumprimentar Friedrich Merz e seu partido pela vitória no pleito eleitoral de ontem. Sua eleição ocorre em momento de grande sensibilidade geopolítica e geoeconômica global, mas também em momento de grandes esperanças e oportunidades de ganhos conjuntos. A Alemanha é um país amigo e parceiro crucial do Brasil na defesa da democracia e do multilateralismo, na promoção do desenvolvimento sustentável e proteção dos direitos humanos", escreveu Lula através das redes sociais.
"Nossos países têm forte histórico de atuação conjunta por reformas na governança global. Estou convencido de que seguiremos trabalhando juntos para ampliar as convergências e complementaridades em prol uma inserção internacional cada vez mais competitiva de nossos países. A implementação do Acordo entre o Mercosul e a União Europeia e a realização da COP 30 no Brasil são caminhos facilitadores desse processo", prosseguiu o presidente brasileiro.
O pleito alemão foi marcado por um crescimento expressivo da extrema direita. Segundo a apuração oficial, o bloco conservador CDU/CSU, liderado por Friedrich Merz, venceu a eleição com 28,5% dos votos. O Alternativa para a Alemanha (AfD), legenda comprovadamente ligada a grupos e ideias neonazistas, obteve 20,8% dos votos e se tornou a segunda maior força política do país.
Já o SPD de Scholz ficou em terceiro lugar com 16,4% – o pior resultado dos sociais-democratas em décadas. Os Verdes (Die Grüne) aparecem em quarto, com 11,61%.
Lula, desde seus tempos de sindicalista, mantém uma relação próxima com o SPD na Alemanha. O presidente brasileiro, porém, também construiu uma boa interlocução com os conservadores da CDU, especialmente durante o governo de Angela Merkel, que é filiada à legenda.
Entre 2003 e 2011, período em que Lula governou o Brasil e Merkel comandou a Alemanha, os dois líderes mantiveram um diálogo frequente e cooperativo, apesar das diferenças ideológicas. A relação cordial entre os dois chefes de Estado foi marcada por encontros bilaterais e pelo fortalecimento do comércio entre os países, consolidando uma parceria estratégica que perdurou mesmo após o fim de seus mandatos.
Eleições na Alemanha: novo governo vai excluir extrema direita
Os resultados preliminares das eleições antecipadas na Alemanha, realizadas neste domingo (23), apontam para um cenário marcado pela fragmentação política e pelo avanço expressivo da extrema direita. De acordo com a apuração oficial, o bloco conservador CDU/CSU, liderado por Friedrich Merz, venceu o pleito com 28,5% dos votos.
O Alternativa para a Alemanha (AfD), legenda comprovadamente ligada a grupos e ideias neonazistas, obteve 20,8% dos votos e se tornou a segunda maior força política do país. Já o Partido Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda, sigla do atual chanceler (o equivalente a primeiro-ministro na Alemanha) Olaf Scholz, ficou em terceiro lugar com 16,4% – pior resultado dos sociais-democratas em décadas. Os Verdes (Die Grüne) vêm em quarto, com 11,61%.
Além disso, os dados oficiais revelam que o partido A Esquerda (Die Linke) surpreendeu na reta final, alcançando 8,8% dos votos – desempenho que o coloca como a legenda mais votada entre os jovens. Em contrapartida, o Partido Democrático Liberal (FDP), de direita, ficou abaixo da cláusula de barreira de 5% para ingresso no Bundestag, o parlamento alemão. Já a Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), de esquerda, garantirá um assento.
Apesar de o AfD ter conquistado a maior votação de um partido de extrema direita desde a Segunda Guerra Mundial, a sigla não deverá compor o novo governo. Com o sistema político alemão exigindo a obtenção de uma maioria absoluta no Bundestag – que possui 630 cadeiras, é necessária a conquista de pelo menos 316 assentos para governar. Desta maneira, bloco CDU/CSU, que venceu a eleição, terá que negociar com outros partidos para formar maioria.
As negociações para compor o novo governo já começaram com intensos debates sobre as possíveis alianças. Entre as alternativas, a coalizão mais provável é do CDU/CSU com o SPD, que somaria 328 cadeiras, enquanto a chamada “coalizão Quênia” – que reuniria CDU/CSU, SPD e os Verdes – somaria 413 assentos. É improvável, porém, que os Verdes aceitem uma aliança com os conservadores.
Apesar de, em termos puramente matemáticos, uma aliança entre CDU/CSU e AfD ser viável, essa possibilidade foi descartada pelos líderes conservadores. Em suas declarações após a vitória eleitoral, Friedrich Merz, que assumirá o cargo de chanceler, reforçou que não buscará o AfD para formar um governo.
A declaração veio logo após Alice Weidel, líder do AfD, afirmar que seu partido "está pronto" para formar um governo com o CDU.
"Não cooperaremos com o partido que se autodenomina Alternativa para Alemanha antes, nem durante, nem depois", disparou Merz.
Essa postura, por hora, mantém viva a tradição do Brandmauer, ou "cordão sanitário", um acordo que, desde o pós-guerra, impede a aproximação dos partidos moderados com legendas de extrema direita.
Olaf Scholz, que seguirá como chanceler interino até que o novo governo seja formado, por sua vez, reconheceu a derrota e sinalizou que seu partido, o SPD, topa negociar para entrar em uma coalizão de governo liderada por Merz. A expectativa é que as negociações sejam concluídas até a Páscoa, em abril.
Crise política, crescimento da extrema direita e quebra do Brandmauer
A eleição antecipada ocorreu depois da dissolução do parlamento pelo presidente Frank-Walter Steinmeier, que possui poderes mais limitados, em dezembro de 2024, após a derrota do chanceler Olaf Scholz em uma moção de confiança. O colapso da coalizão “semáforo” — formada por SPD, Verdes e FDP — foi desencadeado pela demissão de Christian Lindner (FDP), então ministro das Finanças, devido a divergências sobre a política econômica. A saída do FDP do governo resultou na perda da maioria parlamentar, levando Scholz a buscar o voto de confiança, do qual saiu derrotado.
O impasse político abriu espaço para o crescimento do AfD, partido de extrema direita conhecido por seu discurso xenofóbico, racista e ultranacionalista, com ligações comprovadas com grupos neonazistas. Monitorado pelo serviço de inteligência alemão (BfV) desde 2021 por ameaçar a ordem democrática, o AfD conquistou vitórias regionais históricas em 2024, incluindo a liderança na Turíngia — a primeira de um partido de extrema direita desde o regime nazista — e o segundo lugar na Saxônia e em Brandemburgo.
O descontentamento com a economia, a inflação e a política migratória impulsionou o apoio ao AfD, que se apresenta como alternativa ao status quo.
Em janeiro, o CDU/CSU de Merz se uniu ao AfD para aprovar uma moção anti-imigração no Bundestag. O fato, para muitos, representou a quebra do chamado Brandmauer, ou "cordão sanitário", que impedia alianças entre partidos democráticos e a legenda extremista. O episódio acendeu o alarme entre lideranças políticas e organizações da sociedade civil, que veem no movimento um sinal perigoso para uma futura coalizão de governo com o AfD.
A quebra do Brandmauer gerou ampla indignação e motivou protestos massivos em várias cidades alemãs. Em Berlim, mais de 100 mil pessoas participaram recentemente de atos contra a extrema direita e contra a colaboração entre o CDU/CSU e o AfD.
Merz, entrentato, vem minimizando o apoio do AfD à moção anti-imigração aprovada no Bundestag e tem procurado reafirmar que não formará um governo com extremistas. "Uma coalizão com o AfD está completamente fora de questão", declarou.