CONGO

O metal raro que está movimentando potências em conflito militar ignorado pela mídia

Uma guerra por procuração redesenha jogo de poder por controle mineral na África

MInas de Coltan no CongoCréditos: MONUSCO
Escrito en GLOBAL el

Desde 2022, mais de 2 milhões de pessoas ficaram desabrigadas e milhares morreram devido ao conflito na República Democrática do Congo. Em janeiro e fevereiro deste ano, a milícia M23, apoiada pelo governo de Ruanda, invadiu diversas vilas na região de Kivu, no leste do país vizinho.

A região é uma das maiores fontes de coltan do planeta Terra, mineral essencial para a produção de aparelhos celulares e produtos de alta tecnologia.

Quem está envolvido no conflito?

De um lado, o governo central da República Democrática do Congo tenta combater a insurgência. Eles têm recebido apoio de tropas de diversos países, com destaque para a África do Sul — considerada o quarto exército mais poderoso da África —, além de Angola, Burundi, Zimbábue e mercenários da Romênia.

Tropas da MONUSCO no Congo (Foto: Divulgação)

Tropas da MONUSCO (Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo) também atuam no território, mas parecem contribuir pouco para o combate atualmente.

Além disso, o Congo recebe apoio público da Rússia, embora a participação direta de Moscou no conflito ainda não seja confirmada. Há relatos datados de 2023 sobre a presença de mercenários do grupo Wagner na região.

Do outro lado está a milícia M23, financiada por Ruanda e liderada pelo ditador Paul Kagame, apoiado por Reino Unido e Estados Unidos. De acordo com a Agência Anadolu, que citou militares sul-africanos, os rebeldes estariam utilizando armamentos israelenses no conflito. Ruanda e Israel mantêm relações estreitas.

Paul Kagame, que governa Ruanda desde 2000 (Foto: Fórum Econômico Mundial)

Para complicar a situação, grupos jihadistas como o Estado Islâmico operam na região — tradicionalmente rica em minérios —, afetando principalmente as tropas do governo congolês.

O que está em jogo?

A região entre Congo, Uganda e Ruanda é marcada por tensões étnicas e políticas herdadas do colonialismo europeu. As milícias do M23 (Movimento 23 de Março) têm uma justificativa ideológica pró-Tutsi, mas, atualmente, são amplamente reconhecidas — exceto por Ruanda — como fantoches de Paul Kagame.

O território em disputa é rico em coltan. Curiosamente, Ruanda, que não possui reservas do mineral em suas fronteiras, é a maior exportadora mundial do produto. Além disso, cassiterita, tungstênio e outros metais preciosos, como o ouro, também estão presentes no subsolo da região.

Mapa mostra o estado do conflito em 21 de fevereiro de 2025 em Ruanda. Em branco, território congolês. (Fonte: Wikipedia)

Recentemente, os rebeldes do M23 conquistaram duas cidades importantes: Goma e Bukavu. Eles parecem avançar contra seus inimigos com relativa facilidade, ocupando parte significativa do território congolês e reforçando o poder de Paul Kagame, um dos líderes mais influentes da África desde o fim da guerra civil em seu país.

Vale lembrar que o Congo foi, entre 1998 e 2003, palco de uma guerra civil conhecida como Guerra Mundial Africana, na qual mais de 2,7 milhões de pessoas morreram e dezenas de atores globais se envolveram. Desde esse período, Paul Kagame, líder de Ruanda, atua para enfraquecer a República Democrática do Congo, chegando a invadir seu território.

O coltan, uma mistura dos minerais columbita e tantalita, é um recurso crucial para a tecnologia moderna. Rico em tântalo, ele é essencial na produção de componentes eletrônicos, como capacitores, presentes em smartphones, computadores e equipamentos médicos. Sua importância econômica é enorme, impulsionando indústrias globais de alta tecnologia e é, definitivamente, a grande força motriz da guerra no leste do Congo.

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