IA

Cúpula em Paris sobre Inteligência Artificial busca inclusão e multilateralismo 

Europeus apresentam iniciativa de US$ 200 bi para enfrentar a concentração do mercado e a hegemonia dos EUA e China 

Líderes globais durante cúpula sobre Inteligência Artificial em Paris.Créditos: Divulgação/Governo da França/X Emmanuel Macron
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Com a proposta de coordenar o avanço das novas tecnologias lideradas por estadunidenses e chineses, foi realizada em Paris, nesta segunda (10) e terça-feira (11), uma cúpula de líderes sobre o tema da Inteligência Artificial (IA).

Liderado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, e pelo premiê indiano, Narendra Modi, o evento contou com a participação de mais de 1.000 pessoas, de mais de 100 países, entre políticos, membros de governos, investidores, empresários, executivos, especialistas, cientistas do meio tecnológico e representantes da sociedade civil global.

Do meio político, além dos anfitriões, lideranças globais de peso estiveram presentes, como o secretário-geral da ONU, António Guterres; a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen; o premiê canadense, Justin Trudeau; o chanceler alemão, Olaf Scholz; e os vice-presidentes dos Estados Unidos e da China, JD Vance e Zhang Guoqing, respectivamente.

Dentre os temas principais, a maior preocupação dos líderes foi o impacto global das novas tecnologias de Inteligência Artificial na atualidade. Nesse sentido, os debates abordaram questões como o futuro do mercado de trabalho, desafios éticos, impactos financeiros, educação, saúde, sustentabilidade, além de desinformação, espionagem, governança e soberania.

Para o secretário-geral da ONU, Guterres, é necessário um consenso global sob a liderança da ONU para garantir uma tecnologia “aberta, inclusiva e ética”. "Todos nós temos interesse em que governos e líderes de tecnologia se comprometam a respeitar as proteções globais, compartilhando melhores práticas e moldando políticas e modelos de negócios justos", declarou. 

Após o anúncio de Donald Trump sobre o projeto Stargate de IA, envolvendo quase US$ 500 bilhões, e as recentes movimentações do governo e de empresas chinesas como a DeepSeek, que impactaram o mercado financeiro mundial nas últimas semanas, os europeus aproveitaram o evento para anunciar suas próprias iniciativas.

Demonstrando que também estão na “corrida” para impulsionar a indústria da Inteligência Artificial, a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou uma série de ações público-privadas para estimular o setor na Europa: "Pretendemos mobilizar um total de US$ 200 bilhões para investimentos em IA no continente". Essa iniciativa europeia terá um investimento público inicial do bloco de US$ 50 bilhões e contará com novos aportes de recursos públicos e privados, com a participação declarada de 60 empresas renomadas, como Airbus e Volkswagen.

Aproveitando a ocasião e a abertura dada pelo bloco, o presidente francês também anunciou investimentos vultosos na empresa de seu país, Mistral IA, que receberá um aporte de US$ 112 bilhões em conjunto com um conglomerado árabe e uma empresa canadense.

O encontro envolveu grandes empresas de vários setores da economia mundial, especialmente do setor tecnológico, como Google, Amazon, Apollo, Digital Realty, Equinix, Fluidstack, OpenAI, Meta, Pigment, Microsoft, Apple, Anthropic, Hugging Face, Instacart, Iliad, Mozilla, Eurasia, entre outras.

O premiê indiano, co-anfitrião do evento e sede da próxima cúpula, reivindicou uma participação maior de outros países para evitar que o debate sobre IA fique concentrado apenas entre EUA e China. Além disso, destacou a importância de, diante de uma nova revolução tecnológica-industrial, não reproduzir a divisão entre o Norte e o Sul global.

Por outro lado, o Reino Unido e os EUA, representados pelo vice-presidente JD Vance, se posicionaram contrários a qualquer iniciativa de regulação global da indústria da IA. Em seu discurso, Vance afirmou que os EUA farão de tudo para promover o setor, mas temem ser prejudicados pelo que chamou de censura, citando inclusive a legislação europeia como uma série de “regulamentações massivas” que resultariam na remoção de conteúdo e no policiamento da chamada desinformação.

Com um formato semelhante ao das COPs ambientais, a Cúpula Ação IA aprovou uma resolução final intitulada “Declaração sobre Inteligência Artificial Inclusiva e Sustentável para Pessoas e o Planeta”. Com cinco parágrafos, o documento discorre sobre a mudança de paradigma causada pelo avanço tecnológico e a necessidade de ações coordenadas para uma transição baseada nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Essa transição deveria — segundo o documento — reforçar um ecossistema de IA aberta, multissetorial e inclusiva, bem como reconhecer as contribuições já existentes de organizações multilaterais e blocos políticos e econômicos diversos, como forma de equilibrar as desigualdades e a concentração do mercado.

Os participantes também lançaram uma importante Plataforma e Incubadora de IA de Interesse Público. Segundo a declaração, a “Iniciativa de IA de Interesse Público sustentará e apoiará bens públicos digitais e projetos de assistência técnica e capacitação em dados, desenvolvimento de modelos, abertura e transparência, auditoria, computação, talento, financiamento e colaboração, para apoiar e cocriar um ecossistema de IA confiável que promova o interesse público de todos, para todos e por todos”.

Por fim, a declaração ainda destaca o papel da Agência Internacional de Energia (AIE) na avaliação do impacto ambiental e energético da IA e ressalta a necessidade de manter espaços de diálogo globais sobre o tema. Rejeitada pelos EUA e pelo Reino Unido, a declaração contou com a assinatura da maioria dos países europeus, africanos, da China e do Brasil.

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