Muitos norte-americanos estão assistindo às promessas feitas por Donald Trump sem se inconformar com a violação de direitos humanos e a violência direta contra imigrantes. O próprio país já está enfrentando resistência no cenário internacional. A mão de obra estadunidense, em boa parte executada por essas pessoas, pode ficar cada vez mais escassa com as deportações.
Associações de construtores, agricultores e da indústria automotiva já se manifestaram sobre as medidas e destacaram que elas estão levando à falta de mão de obra para trabalhos de setores essenciais que norte-americanos não ocupam. A curto prazo, as medidas anunciadas por Trump devem interromper a produção de alimentos nos Estados Unidos. Estima-se que atualmente 11 milhões de imigrantes vivam nos Estados Unidos sem documentação, de acordo com o Pew Research Center. Desses, 8,3 milhões estão empregados.
No setor de carne, por exemplo, 40% da força de trabalho é composta por imigrantes, sendo que metade deles está em situação ilegal. Quando incluímos todos os imigrantes, tanto os que possuem documentação legal quanto os demais, a participação no setor se aproxima de 70%. Usuários nas redes sociais já relatam desabastecimento em varejos:
Desde o início de seu mandato, o republicano assinou ao todo 21 ordens, como o fechamento do CBP One, um aplicativo destinado a imigrantes, e a deportação de todos os que se encontrassem em situação irregular no país. Inúmeros latino-americanos também vivem sob a incerteza do futuro, temendo ser detidos em meio a operações policiais ou serem violentados.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) aponta que cerca de 42% da mão de obra do agronegócio nos Estados Unidos é composta por imigrantes ilegais. A situação é especialmente grave na Califórnia, o principal centro de produção de alimentos dos Estados Unidos, onde reside a maior parte dos trabalhadores imigrantes.
Com cada vez menos produtos nas prateleiras, os americanos terão de recorrer às importações. Porém, com a implementação de tarifas, é provável que os preços dos alimentos e de outros produtos aumentem em breve. De acordo com informações do portal Bloomberg, a economia dos EUA poderia sofrer uma retração de cerca de 8% se a deportação em massa for levada adiante.
Setores afetados
Essa situação será um dilema para Trump, que precisaria equilibrar suas promessas eleitorais com as consequências econômicas e estruturais para a nação. Grandes redes hoteleiras, como Host Hotels & Resorts, Park Hotels & Resorts, Xenia Hotels & Resorts, Sunstone Hotel Investors e Ryman Hospitality Properties, devem enfrentar um aumento nos custos, especialmente com a mão de obra, em estados como Califórnia, Texas e Flórida.
A alta concentração de imigrantes nesses estados, juntamente com Nova York, Nova Jersey e Illinois, os torna alvos potenciais para as políticas de deportação, o que pode agravar a escassez de mão de obra e elevar os salários.
Setores como o de restaurantes e fast food (Jack in the Box, Yum Brands, McDonald’s, Restaurant Brands International, Wendy’s, Domino’s e Papa John’s) também devem sentir o impacto, tanto pela dificuldade em encontrar trabalhadores quanto pelo aumento nos custos dos alimentos.
Empresas do setor de construção, incluindo varejistas de materiais como Home Depot e Lowe’s, bem como fornecedores de serviços e materiais como TopBuild, Installed Building Products, Owens Corning, Beacon Roofing Supply e Builders FirstSource, também podem ser afetadas. Em estados como Texas, Califórnia e Flórida, mais de 45% da força de trabalho da construção é composta por imigrantes, conforme dados do Jefferies.
Bispa fez apelo a Trump
Durante a cerimônia pós-posse no último dia 21 de janeiro, a bispa Mariann Edgar Budde destacou que crianças gays, lésbicas e transgêneros em famílias democratas, republicanas e independentes temiam por suas vidas e que a grande maioria dos imigrantes no país são trabalhadores.
“As pessoas que colhem nossas plantações e limpam nossos prédios de escritórios, que trabalham em granjas avícolas e frigoríficos, que lavam a louça depois de comermos em restaurantes e trabalham no turno da noite em hospitais, elas… podem não ser cidadãos ou não ter a documentação adequada, mas a grande maioria dos imigrantes não é criminosa"
Relembre nesta matéria da Fórum: Bispa brasileira defende sermão de bispa de Washington a Trump: 'corajosa'