OBSCURANTISMO

Donald Trump declara guerra às LGBT e instaura clima de medo e terror

Em seu discurso de posse, o novo presidente dos Estados Unidos atacou as pessoas transexuais e prometeu livrar o país da "loucura do gênero"

Donald Trump declara guerra às LGBT e instaura clima de medo e terror.Créditos: Gage Skidmore de Peoria/Wikimedia Commons
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Na reta final de sua campanha à presidência da República, o então candidato Donald Trump disparou ataques contra a comunidade LGBT+ e, em específico, contra as pessoas transexuais, afirmando durante um comício no Madison Square Garden que iria "tirar a insanidade trans das escolas e manter os homens trans fora dos esportes femininos".

À época, muitos analistas afirmaram que as falas de Trump contra a comunidade LGBT+ dos EUA eram "bravatas" e que, possivelmente, não levaria tais ações adiante. Ledo engano. Em seu discurso de posse, ocorrido na segunda-feira (20), o novo presidente dos EUA voltou a disparar contra as pessoas trans:

"Esta semana também porei fim à política governamental de tentar incorporar socialmente a raça e o gênero em todos os aspectos da vida pública e privada. Vamos forjar uma sociedade que não enxergará duas cores e será baseada no mérito. Será política oficial dos EUA que existam apenas dois gêneros, masculino e feminino."

Algumas horas depois de seu discurso de posse e já instalado na Casa Branca, o presidente Donald Trump assinou uma série de Ordens Executivas (semelhantes às Medidas Provisórias do Brasil) e, com uma canetada, revogou todas as portarias pró-LGBT+ e de direitos humanos do governo de Joe Biden (2021-25), impondo medidas transfóbicas e racistas. São elas:

  • 1 -  Eliminação de programas de diversidade, equidade e inclusão no setor público.
  • 2 - Fim da obrigatoriedade de treinamentos de diversidade em agências federais.
  • 3 -  Redefinição oficial de gênero baseada no sexo biológico.
  • 4 -  Proibição de financiamento federal para cuidados médicos de transição de gênero.
  • 5 -  Restrição ao uso de banheiros públicos conforme identidade de gênero.
  • 6 -  Cancelamento da obrigatoriedade de seguro-saúde cobrir contraceptivos.
  • 7 -  Redução de políticas de combate à discriminação no local de trabalho.
  • 8 -  Fim do financiamento para pesquisas sobre equidade racial.
  • 9 -  Revogação do reconhecimento de identidade de gênero não-binária em documentos oficiais.
  • 10 -  Cancelamento da proteção de direitos para estudantes LGBTQ+ em escolas públicas.


Ao todo, Donald Trump assinou 78 ordens executivas que impõem uma série de retrocessos em diversas áreas. No entanto, as mais obscurantistas foram reservadas para os direitos civis, diversidade, saúde e meio ambiente, contrariando protocolos internacionais e enfrentando provável resistência nos tribunais, uma vez que os estados americanos possuem autonomia e não são obrigados a seguir automaticamente as ordens executivas. Ainda assim, ao descontinuar todas as políticas pró-LGBT instituídas na gestão de Joe Biden, Trump deixa claro que fará do ódio uma das principais ferramentas de sua gestão, o que pode empoderar grupos extremistas no país.


“Clima de medo e terror entre as LGBT” 


Em entrevista exclusiva à Fórum, a pesquisadora e ativista LGBT Mariana Rodrigues, que vive nos EUA desde 2017, relata que a comunidade de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais está enfrentando um “clima de terror e medo”.

“Desde a eleição, o clima está muito ruim. Há um clima de medo, de terror, muito tenso, principalmente entre os grupos mais brancos e de classe média, pois esse clima já estava presente antes entre os grupos racializados e a população mais pobre. No geral, o ambiente é bem tenso e negativo”, revela Mariana Rodrigues.

Mariana também relata que as organizações que trabalham com os direitos LGBT+ já previam um cenário como o que se desenha nos EUA com a nova gestão Trump, principalmente quando as pesquisas começaram a indicar a vitória do republicano sobre Kamala Harris, a candidata democrata.

“As organizações que já vinham trabalhando nesse tema estavam bem preparadas. Mas, de forma geral, há uma sensação de tensão, desespero e desalento muito fortes. As pessoas estão se perguntando ‘como chegamos até aqui?’, enquanto outros grupos já alertavam: ‘não está bom, será difícil, precisamos nos engajar’. É um clima muito ruim”, avalia a pesquisadora.


O impacto das medidas anti-LGBT de Donald Trump
 

Atualmente, Mariana Rodrigues vive em Maryland, é casada com outra mulher e tem um filho. Ela já morou na Flórida e em Ohio. Hoje, cursa doutorado no Department of Women's, Gender and Sexuality Studies da Universidade Estadual de Ohio. Para ela, o maior impacto inicial das medidas de Trump contra a comunidade LGBT será simbólico, mas poderá desencadear maior violência e discriminação, especialmente contra pessoas trans.

“O impacto dessas revogações é muito mais simbólico do que prático. Mas isso não significa que o impacto simbólico seja irrelevante. Ter um presidente que revoga políticas e endossa discursos contra a diversidade e inclusão legitima a violência e a discriminação. Esse clima de contestação pode gerar insegurança e até mesmo violência em diversos níveis”, analisa.

Mariana também acredita que haverá um aumento de violência contra a comunidade LGBT nos EUA. “O impacto simbólico autoriza as pessoas a serem mais homofóbicas, transfóbicas e racistas. As pessoas se sentem legitimadas a engajar em violência — física, verbal, emocional, financeira e simbólica. Você tem um presidente cuja campanha foi pautada no discurso de ódio, na violação de direitos, no ataque à diversidade e inclusão. Isso cria um ambiente muito mais inseguro, violento e propício ao discurso de ódio, com impacto direto também em organizações privadas que podem se sentir legitimadas a excluir, violentar e discriminar.”

Por fim, questionada se os EUA se tornam um país mais perigoso para a comunidade LGBT com a nova gestão de Trump, Mariana é enfática: “O mundo se torna mais perigoso. As práticas que Trump está implementando afetam não só os Estados Unidos, mas têm repercussões globais”, conclui.

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