O presidente Donald Trump abraçou oficialmente um dos objetivos da direita mais extrema e religiosa de Israel, que não é cogitado publicamente nem pelo governo de Benjamin Netanyahu: esvaziar Gaza de sua população.
Ele sugeriu isso em conversa telefônica com o rei Abdullah da Jordânia e afirmou que faria o mesmo ao conversar com o presidente egípcio Abdel Fattah al-Sisi, conforme revelou a jornalistas que o acompanhavam a bordo do avião presidencial Air Force One.
"Quase tudo foi demolido e as pessoas estão morrendo lá. Então, prefiro me envolver com algumas nações árabes e construir moradias em um local diferente, onde talvez eles [palestinos] possam viver em paz, para variar", disse Trump.
Trump afirmou que a "moradia" poderia ser provisória ou de longo prazo.
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Esta não é a primeira vez que Trump trata do assunto. Em sua primeira entrevista no Salão Oval, ele disse:
Gaza é um lugar de demolição massiva. Precisa ser reconstruída de uma forma diferente. Eu posso [ajudar]. Gaza é interessante. É uma localização fenomenal, no mar [Mediterrâneo]. O melhor clima, tudo é bom. Coisas muito bonitas poderiam ser feitas com Gaza, é muito interessante.
Trump frequentemente se refere a lugares históricos como se fossem meros terrenos à espera de uma obra, como já fez com a Irlanda, onde tem um campo de golfe.
Empresários privados de Israel já cogitaram transformar Gaza numa costa turística, mas em parceria com os palestinos.
Em dezembro de 2023, numa conversa que teria tido no Knesset, o Parlamento de Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu mencionou países que estariam dispostos a receber "imigração voluntária" de palestinos.
Autoridades palestinas denunciaram que, por trás do genocídio praticado por Israel, sempre esteve o objetivo de tornar o território inabitável.
Assentamentos como pontas-de-lança
Os fundamentalistas religiosos de Israel, nos quais se incluem colonos que tomaram terra dos palestinos, deixaram parcialmente o governo depois do acordo de cessar-fogo com o Hamas, mas continuam pleiteando que, no mínimo, novos assentamentos sejam criados em Gaza, como já existiram no passado.
A História mostra que os assentamentos servem como pontas-de-lança para expansão territorial de Israel, muitas vezes à base de violência armada contra os palestinos.
Em seu primeiro mandato, Donald Trump reconheceu Jerusalém como parte integral de Israel, assim como as colinas de Golã, que Israel tomou da Síria.
Resoluções da ONU adotadas por ampla maioria sustentam que um Estado palestino terá Jerusalém Oriental como sua capital.
A embaixadora que Trump indicou às Nações Unidas, Elise Stefanik, disse durante oitiva no Congresso que reconhece o direito "bíblico" de Israel à Cisjordânia.
Com isso, fica praticamente consolidada a posição de Washington não só de negar um estado palestino, mas de sugerir a expulsão integral dos palestinos do que lhes restou de terra.
A extrema-direita religiosa de Israel prega uma versão "expandida" do país, disseminando mapas que em alguns casos incluem território da Jordânia, Arábia Saudita, Egito e Iraque.
Hoje, Israel já roubou terra dos palestinos, da Síria e do Líbano.
Com isso, assumiu o controle de toda a bacia do rio Jordão, além do petróleo e gás existentes nas colinas de Golã.
Expulsar os palestinos de Gaza permitiria a Israel assumir para si toda a riqueza em petróleo e gás de existência já comprovada na costa do território palestino.