A eleição e posse de Donald Trump para um segundo mandato tem gerado apreensão pelo mundo. No mercado financeiro, em todos os setores da economia produtiva, bem como na política em todos os continentes, observa-se uma crescente ansiedade sobre as posições polêmicas e possíveis ações que o presidente estadunidense pode tomar.
No continente europeu, isso não tem sido diferente. A partir das palavras iniciais e atos firmados por Trump, já empossado em seu segundo mandato, as reações dos principais líderes do continente têm sido marcadas por uma narrativa cautelosa e defensiva.
Com uma nítida postura agressiva e desafiadora aos europeus, Donald Trump não convidou líderes do continente para sua posse. A exceção foi a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni (Fratelli d’Italia) – uma das poucas lideranças europeias alinhadas com a direita reacionária liderada mundialmente pelo presidente estadunidense.
Na oportunidade, a chefe do governo italiano declarou: "Penso que é muito importante para uma nação como a Itália, que tem relações extremamente sólidas com os Estados Unidos, dar provas da vontade de continuar e, se possível, reforçar essa relação em uma época em que os desafios são globais e interligados..."
Segundo fontes, Meloni consultou a chefe executiva da União Europeia, Ursula von der Leyen, antes de sua viagem aos EUA. Ainda assim, a ida de Meloni a Washington foi amplamente atacada por seus adversários políticos, que a acusaram de “traidora e vassala”, enquanto, para seu partido, Fratelli d’Italia, a premier representa “uma ponte entre as duas margens do Atlântico”.
Por sua vez, sendo a estrela política da manhã de abertura do Fórum Econômico de Davos, na Suíça, a política de maior estatura da União Europeia, a alemã Von der Leyen (ligada ao Partido Popular Europeu, de centro-direita), mostrou determinação sobre a defesa de interesses e valores europeus, unidade e sinalizou uma aproximação crescente com a China em resposta às primeiras ações de Trump:
"O volume de comércio entre nós é de € 1,5 trilhão, representando 30% do comércio global. Há muito em jogo para ambos os lados, então nossa primeira prioridade será nos reunirmos logo, discutir interesses comuns e negociar. Seremos pragmáticos, mas sempre defenderemos nossos princípios, protegeremos nossos interesses e defenderemos nossos valores porque esse é o caminho europeu."
"O mundo está mudando, então nós devemos mudar também. Nos últimos 25 anos, a Europa confiou na maré crescente do comércio global para impulsionar seu crescimento, confiou na energia barata da Rússia e terceirizou com muita frequência sua própria segurança – mas esses dias acabaram", disse ainda.
"2025 marca 50 anos de relações diplomáticas da nossa União (UE) com a China. Vejo isso como uma oportunidade para nos envolvermos e aprofundarmos o nosso relacionamento, sempre que possível expandindo os nossos laços comerciais e de investimento. É hora de buscar um relacionamento mais equilibrado com a China, num espírito de justiça e reciprocidade." enfatizou Von der Leyen, subindo o tom das relações com os EUA.
Em Washington, as tensões aumentaram com semanas de provocações sobre temas delicados para os europeus, como a intenção de tomar a Groenlândia, a suposta interferência de Elon Musk na eleição alemã a favor dos neonazistas da AfD (Alternative für Deutschland) e o abandono crescente da Ucrânia em sua guerra contra a Rússia. Trump não apenas excluiu chefes de governo europeus de sua posse, como também deu visibilidade a líderes opositores a esses governos, como o espanhol Santiago Abascal (Vox, de extrema direita), fugindo completamente do roteiro diplomático tradicional.
"É um dia histórico para milhares de pessoas em todo o mundo, não apenas para os estadunidenses. A partir de hoje, o globalismo está em apuros, o socialismo está em apuros, a agenda de gênero está em apuros, a agenda WOKE está em apuros, as políticas de imigração em massa estão em apuros. Por outro lado, abre-se uma oportunidade e uma esperança de recuperar o bom senso, o senso comum e o caminho para a liberdade, não apenas para os Estados Unidos, mas para muitos países atacados pelo globalismo." declarou Abascal.
Entre assinaturas de atos e decretos polêmicos, como a saída dos EUA do Acordo de Paris e da OMS, Trump ainda provocou a Espanha ao criticar seu baixo investimento militar na OTAN e referiu-se ironicamente ao país como sendo integrante dos BRICS, certamente como uma alfinetada ao governo espanhol liderado por Pedro Sánchez (PSOE, de centro-esquerda).
Sobre as demandas de Trump em relação aos investimentos europeus na OTAN, o presidente francês, Emmanuel Macron (Renascimento, de centro-direita), apesar de evitar confrontos diretos com os EUA, subiu o tom ao propor uma nova estrutura de defesa europeia. Apesar de parecer isolada entre as grandes potências europeias, a narrativa de um novo “despertar militar europeu” ganhou peso.
Entre outras reações europeias à posse de Trump, destacou-se o diálogo entre Vladimir Putin e Xi Jinping, demonstrando total sintonia entre as duas potências. Por fim, as palavras duras do húngaro Viktor Orbán (União Cívica Húngara, de extrema direita) contra o que chamou de “elites de Bruxelas” também ressoaram.
Como aliado de primeira ordem de Trump no leste europeu e negociador privilegiado entre a UE e Putin, Orbán declarou o afundamento das bandeiras democráticas e liberais na Europa. Mais do que isso, projetou uma nova fase "patriótica" no continente, ao lado de Trump, em defesa dos valores da família, da paz e contra a imigração massiva – declarou a seus aliados.