De acordo com um levantamento do Financial Times, a eleição de Donald Trump demonstrou a fragilidade das iniciativas climáticas diante da força disciplinar e reguladora dos mercados, sobretudo do mercado financeiro.
Como medidas iniciais, anunciadas já no momento de sua posse, Trump anunciou a retirada dos EUA da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Acordo de Paris, que estabelece as metas de redução de emissão de gases do efeito estufa e a transição para fontes de energia renovável.
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"É a política da minha administração colocar os interesses dos EUA e do povo americano primeiro no desenvolvimento e na negociação de quaisquer acordos internacionais com potencial de prejudicar ou enrijecer a economia americana", informa o decreto assinado por ele na última segunda-feira (20).
Os fundos de investimento em energia limpa já sofriam um momento de perdas no cenário pós-pandêmico, e as expectativas quanto à eleição de Trump concretizaram o prognóstico: em 2024, ano em que a Terra registrou o recorde de temperatura média, em níveis maiores do que limite estabelecido pelas metas climáticas (tendo alcançado 1.55°C acima dos níveis pré-industriais), a retirada dos fundos de investimento chegou a US$ 30 bilhões.
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"Foi o primeiro ano, desde 2019, em que os investidores retiraram mais do que investiram", afirma o Financial Times, o que "evidencia os desafios do setor, apesar da pressão global para lidar com as mudanças climáticas".
Até 2023, os fundos de investimento para o clima haviam crescido em mais de 300 bilhões de dólares, motivados sobretudo por investimentos europeus, que correspondem a cerca de 85% do total.
Em 2024, no entanto, um novo movimento nas ações de fundos de energia limpa registrado pela Morningstar, empresa norte-americana de análise de investimentos e dados financeiros, revelou um declínio significativo no nível dos investimentos. No caminho para a sua eleição, Trump já havia declarado o aquecimento global "uma grande farsa", e prometera revogar a Lei de Redução da Inflação (IRA), aprovada durante a administração de Biden, que previa investimentos massivos em novas fontes de energia limpa nos EUA.
Os fundos de investimento em energia limpa registraram uma queda de até 5,35% em 2024, e prometem continuar em movimento decrescente. Trump não tem nenhuma intenção de reduzir, ou incentivar a redução, de combustíveis fósseis. Aliás, ele quer aumentar os números da emissão norte-americana — isso, para o governo trumpista, representa um cenário de crescimento; é "fazer a América grande de novo".
Ainda na segunda-feira, momentos após tornar-se presidente, Trump declarou uma emergência nacional de energia, assinou decretos de promoção a combustíveis fósseis e afirmou que seu governo não iria levar em frente iniciativas contra o aquecimento global. Ele disse, no momento de seu desfile interno na Capital One Arena, estádio em Washington: "Nós vamos cavar, querida, cavar" (drill, baby, drill), e fazer tudo que nós quisermos".
"Nós não vamos fazer essa coisa de vento".
Pelo menos 81 fundos de investimento climático foram fechados ou passaram por fusões já em 2024, afirmam dados da Morningstar reproduzidos pelo Financial Times. Em 2023, o número fora de apenas 49.
De acordo com projeções, seria preciso investir até US$ 6,7 trilhões anualmente, até 2030, para levar a cabo iniciativas concretas contra as mudanças climáticas; mas, de todos os investimentos registrados entre 2018 e 2022, menos da metade vinha do setor privado, e agora a retirada dos investimentos se acelera drasticamente.
"Os resgates têm ocorrido apesar da arrecadação de US$ 1,1 trilhão dos fundos abertos no ano passado", informa a chefe de pesquisa em investimentos sustentáveis da Morningstar, Hortense Bioy.